Ao longo desta semana, sobretudo no dia
dois de novembro, certamente muitos de nós iremos aos cemitérios prestar
homenagem aos nossos entes queridos falecidos. Trata-se, pois, de um gesto
profundamente humano e por demais cristão.
Mas, vamos aos cemitérios com que
sentimento? Com que pensamento? Com que fé? Com que teologia? Com que
esperança? E o que levaremos em nossas bagagens espirituais?
Um pouco de tudo:
tristezas, saudades, lagrimas, resignação, silêncio, fé, esperança... Os
cristãos, diferente dos pagãos, convencionaram chamar o lugar onde os falecidos
eram enterrados de “cemitério”. Cemitério, literalmente, significa “lugar dos
que dormem na paz do seu Senhor”. O mesmo diga-se do dia dois de novembro,
chamado de: “dia de todos os fieis defuntos”. Como a própria palavra indica,
significa “o dia daqueles e daquelas que chegaram ao fim e finalizaram as suas
trajetórias de vida aqui na terra e inciaram suas caminhadas, ruma à pátria
defintiva e já vivem em outra esfera do infinto”, como bem expressou São Paulo:
“Nossa pátria é o céu, de onde esperamos ansiosamente o Senhor Jesus Cristo
como Salvador. Ele vai transformar nosso corpo miserável, tornando-o semelhante
ao seu corpo glorioso, graça ao poder que ele possui de submeter a si todas as
coisas” (Fl 3,20-21). E como também brilhantemente exprimiu Santa Teresinha, no
trecho do poema, acima citado.
O cemitério, visto
por este ângulo, não é aquele lugar tétrico, sem sentido e sem vida, com cor de
saudade e cheiro de morte, no qual ninguém sente prazer em vistá-lo, para se
tornar um oasis de vida, paraiso terreste e lugar privilegiado para se repensar
o verdadeiro sentido da vida. Sendo assim, o que levar, preferencialmente, aos
cemitérios? Sugiro, entre outras, três coisas:
Primeiro, a fé na
ressurreição dos mortos. Diante da morte, convém a oração fervorosa e
confiante; a última palavra é “ressurreição”. Jesus disse: Eu sou a resurreição
e a vida. Quem crê em em mim, mesmo que morra viverá (Jo11,2). Em Jesus, a
morte foi engolida pela vitória; perdeu seu aguilhão na luta que com a vida
travou (cf. 1Cor 11,55). A vida é mais forte do que a morte. Diante, portanto,
destes textos, não cabem quaisquer elucubrações sociológicas e nem
questiúnculas periféricas ou meros raciocínios materialistas. Preferimos ficar
com o que Jesus disse. Afinal, Ele é a nossa páscoa, nossa vida e ressurreição.
A oração mais bela e mais apropriada, além da missa, para se rezar diante de um
túmulo é: Descanso eterno, dai-lhe, Senhor. E a luz perpétua o ilumine.
Descanse em paz. Amém!
Segundo, a luz de
Cristo. As velas que acendemos aos pés dos túmulos dos nossos defuntos são
simbolos da resurrieção de Jesus. Jesus Cristo é a Luz do mundo (Jo 8,12) que,
como uma vela, se consome, mas nunca se apaga. Ele é o sol nascente que nos
veio visitar (Lc 1,78). As velas também rememoram o nosso batismo, com o qual
morremos e resurgimos para a vida eterna. Portanto, diante dos túmulos, as
velas se derretem e se consomem, pelo fogo, como os nossos pecados diante da
misericórdia do nosso Deus.
Terceiro: a beleza, a
leveza e a singeleza da flores. As flores que levamos aos cemitérios são
símbolos além da beleza, da leveza, da singeleza e da suavidade, são símbolos
também do efêmero e da provisoriedade da nossa vida. A nossa vida é semelhante
a um sopro. O ser humano é comparado a uma erva, e toda a sua beleza é como a
flor do campo. A erva seca e a flor murcha quando o vento do Senhor sopra sobre
elas. Mas a Palavra de Deus permanece, se realiza para sempre (Is 40,8). Os
dias da nossa vida são curtos e cheios de imperfeições e de inquietações (Jó
14,2), iguais à erva que floresce, como a flor do campo (Sl 103,15). Assim
repousam nos cemitérios os nossos entes queridos: como os lírios do campo que
não trabalham nem fiam, mas se revestem de um esplendor que superam em tudo os
trajes mais finos do rei Salomão (Mt 6,28). Diante de Deus, a alma enamorada
pelo Senhor é como a Rosa de Saron (Ct 21,1). As flores, enfim, nos cemitérios
são também como o bom perfume de Cristo, que ungiu o seu corpo para a sepultura.
Portanto, li, certa
vez, na entrada de um cemitério, a seguinte frase: “Homenagem aos que já
morreram, dos que ainda vão morrer”. Com estes e outros sentimentos, vamos
visitar os nossos irmãos e irmãs falecidos, nos cemitérios, conscientes de que
hoje somos nós, amanhã serão outros que farão visitas aos nossos túmulos. Amém!
Aleluia!.
Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas (TO)
Arcebispo de Palmas (TO)
Fonte: www.cnbb.org.br