CARTA ABERTA DE DOM ARMANDO SOBRE AS ELEIÇÕES

ELEIÇÕES MUNICIPAIS 2016
- Aos irmãos e às irmãs da Igreja Católica
- A todas as pessoas que sonham e querem um país melhor
A Campanha eleitoral 2016 já está esquentando os ânimos, e o debate se tornando sempre mais intenso e conflituoso. Como Bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora (BA), apresento alguns pensamentos, com o desejo de que este pleito eleitoral seja vivido de maneira mais coerente com a verdadeira cidadania e os valores propostos pela Palavra de Deus e o ensinamento da Igreja.
Com essa intenção, entrego em suas mãos estas orientações. Qualquer interpretação diferente distorce o sentido desta ‘carta aberta’.
Na oração, peço a Deus que abençoe a todos os candidatos que se dispuseram, com ânimo sincero e o desejo de servir ao povo.
A Igreja católica não é um partido nem apoia nenhum partido. Somente preza e pede que seus filhos e filhas, antes de tudo, vivam de acordo com os princípios éticos e coerentes com o Evangelho; valores que procuramos propor a todos que amam a vida e sonham com uma sociedade mais justa, transparente, solidária e fraterna. Recentemente, os Bispos do Brasil (CNBB) escreveram: “A Igreja católica não assume nenhuma candidatura, mas incentiva os cristãos leigos e leigas, que têm vocação para a militância político-partidária, a se lançarem candidatos” (Mensagem do dia 13 de abril de 2016).
1. De fato, a Igreja reconhece o valor da ‘política’ como expressão de cidadania e exercício de democracia. Alguns pensamentos recentes dos Papas o confirmam.
O Papa Francisco, reafirmando o ensinamento de seus predecessores, disse: “Devemos nos envolver na política, pois a política é uma das formas mais altas da caridade, porque busca o bem comum. E os leigos devem trabalhar na política... É um dever trabalhar para o bem comum, é um dever do cristão!” (Sala Paulo VI, Vaticano, 7 de junho de 2013).
O Papa São João Paulo II escreveu: “Os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na política destinada a promover o bem comum” (Exortação Apostólica Christifideles Laici, 42).
O Papa Bento XVI escreveu: “O leigo cristão é chamado a assumir diretamente a sua responsabilidade política e social... Dirijo, pois, um apelo a todos os fiéis para que se tornem realmente obreiros da paz e da justiça” (Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, 89).
Ainda, o Papa Francisco escreve: “Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efetivamente a sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão desacreditada, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum... Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres” (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 205).
2. Questionamentos. Essas orientações fazem parte do ensino social da Igreja católica. Então, como torná-las concretas? Por que, eleitores e eleitos, também cristãos, nas Campanhas eleitorais, agem de forma que contradiz e ignora esses ensinamentos? Por que, tantas vezes, quando eleitos, ao invés de procurar o bem comum, os eleitos se acham ‘donos’ do poder, deixam a corrupção corroer suas consciências, esquecem-se dos mais necessitados, que ‘usaram’ com ilusórias promessas, e defendem só os interesses pessoais e de poucos privilegiados? Por que a corrupção penetra e corrói a vida política também em nossas Administrações locais? Enfim, como fazer com que esses importantes ensinamentos sejam luzes que iluminem a vida social e política em nossas administrações municipais? 
Responder a esses questionamentos é complexo. Proponho que se discuta, com serenidade, os assuntos, e desejo que cresça uma ‘consciência política’ mais clara e autêntica, capaz de orientar, transformar e melhorar a vivência social.
3. Por isso, eis algumas orientações. Cada pessoa que tenha consciência e queira ser coerente com sua humanidade mais plena e, ainda mais, com sua fé, deveria procurar vivê-las.
a) Contra a Corrupção Eleitoral
A lei 9.840 (1999) já foi aplicada muitas vezes e se mostrou eficaz na moralização eleitoral. Comprar ou vender o voto é corrupção! É comportamento que ofende a lei humana e a lei de Deus, é ilegal e imoral!
b) O bom Eleitor
- É pessoa que não vende seu voto em troca de benefícios pessoais (dinheiro, qualquer tipo de bens materiais, cargos, emprego etc.).
- Respeita os ‘adversários’ políticos, e os que fazem escolhas diferentes; dialoga e não briga, não usa palavras de baixo calão nem insulta e, na vitória, não humilha nem se exalta. Não vive a competição política como luta livre nem como jogo de futebol.
- Não anda dizendo: “Ninguém presta, são todos ladrões ou política não se discute, ou ainda, eu anulo meu voto”. Essas expressões revelam superficialidade e desconhecimento, e favorece os maus políticos. Deve-se sempre distinguir política (que é importante e sagrada) de politicagem (que é o mau uso da política).
- Não esgota sua participação política com o voto, mas acompanha e fiscaliza o eleito, cobrando dele coerência, transparência e fidelidade às promessas.
c) O bom Político
 - É ético e coerente entre o discurso e a prática; tem senso da justiça e da busca do bem comum; é honesto e transparente, antes, durante e depois da campanha;
- Tem uma visão ampla e aberta do desenvolvimento econômico, social e cultural do município, atento às necessidades mais urgentes dos cidadãos. Por isso, no diálogo com o povo, procura escolher o que é mais urgente (a praça ou uma ambulância para melhorar a saúde? A construção de uma rua no centro da cidade ou os cuidados com as estradas da zona rural? Um cantor para a festa, ou aperfeiçoar a formação dos professores e dos alunos das escolas do Município? etc.).
- É humano e popular, sem ser populista, sabe tratar as pessoas com respeito, promove a justiça social, realizando ações que favoreçam a superação das desigualdades e a qualidade de vida da comunidade.
- Quando eleito, não se vinga, tirando do serviço competentes profissionais (da educação e da saúde, sobretudo), por serem de outro partido, substituindo-os por, às vezes, medíocres que o apoiaram.
- Tem sensibilidade ecológica, tem noção de sustentabilidade e, por isso, implementa políticas de preservação e recuperação do meio ambiente, de saneamento básico, da saúde pública etc.
d) Como escolher o/a Candidato/a
É preciso conhecer sua ‘história política’ e sua participação na vida social; ver qual projeto ele tem, com que está comprometido, qual Senador e Deputado (federal e estadual) o apoia e é apoiado por ele! Na vida política tudo está interligado (por exemplo, pertence à “ bancada BBB” (do boi, da bala e da bíblia)? Por isso, é preciso ver também essas alianças. Nisso, a transparência é fundamental!
Cuidado com candidatos que se aproximam da Comunidade cristã só em tempo de eleições! O bom candidato vive sua pertença religiosa sendo fiel na vida cotidiana, e testemunha sua fé, na honestidade em todo o seu comportamento e na solidariedade para com os mais necessitados.
QUANDO ALGUÉM DIZ que não tem nada a ver com a política, está esquecendo que isso tem consequências na sua vida: ter ou não ter emprego, transporte e escola para os filhos, remédios e médicos suficientes na saúde pública, vaga no hospital, estradas melhores e alimento para todos. Tudo isso passa pelos caminhos da política.

10 Mandamentos do Eleitor

1 – NÃO DEIXE DE VOTAR
2 – NÃO VOTE CONTRARIANDO SUA OPINIÃO
3 – NÃO VENDA SEU VOTO NEM O TROQUE POR FAVORES
4 – NÃO VOTE PARA CONTENTAR AMIGOS OU PARENTES
5 – NÃO VOTE SEM CONHECER O PROGRAMA DO CANDIDATO E DO PARTIDO DELE
6 – NÃO VOTE SEM CONHECER O PASSADO DO CANDIDATO
7– NÃO VOTE SEM CONHECER A PERSONALIDADE DO CANDIDATO
8 – NÃO DEIXE NENHUMA PESQUISA MUDAR O SEU VOTO
9 – NÃO ANULE SEU VOTO
 10 – NÃO VOTE EM BRANCO

(Idealizado pela Coordenadoria de comunicação social do TRE / PR). Fonte: Portal eletrônico “Leitores & Eleitores” de Rogério Carlos Born – www.leitoreseeleitores.com.br
Livramento de N. Senhora, 06 de agosto de 2016