31º DOMINGO DO TEMPO COMUM


“Zaqueu procurava ver quem era Jesus” (Lc 19,3)


LEITURAS: 
Sb 11,22-12,2
Sl 144
2Ts 1,11-2,2
Lc 19,1-10

Os ricos podem ser bons discípulos do Senhor, porque também eles são amados por Jesus. Não pensemos que esta reflexão foge da ótica cristã. Primeiramente, porque possuir bens não é empecilho para a salvação, pois se fosse, a própria Igreja se confundiria na sua tarefa evangelizadora já que ela é possuidora de muitos bens. Em seguida, como aparece no Evangelho deste Domingo, a riqueza não é um mal incurável. O problema terrível é o fechamento às riquezas, o escravizar-se pelos próprios bens. De fato, quem vive como escravo do dinheiro, fecha-se em si mesmo. A vida pouco humana, por ser demasiadamente dedicada ao dinheiro, impossibilita o serviço a Deus. Mas quem tem riquezas e se dispõe a viver diferente e não em função delas, pode se tornar um exemplar discípulo de Jesus. Zaqueu é um exemplo disso. Não se trata de um caso perdido, mas de alguém que se esforçou para dar um sentido diferente à sua vida e aos seus bens.
A grande novidade está no testemunho de Zaqueu que, mesmo sendo rico, apresenta-se  como modelo de quem não se fecha nas suas riquezas. O sinal mais notável disso é a iniciativa de procurar o Senhor. Zaqueu é a imagem de alguém que se sente atraído, desejoso e disposto a conhecer Jesus - “Zaqueu procurava ver quem era Jesus” (Lc 19,3). Esse aspecto é importante para nossa vida cristã, pois o “ver” aponta para a fé como uma resposta humana ao dom de Deus. Dessa forma, querer ver Jesus não se trata simplesmente de uma curiosidade sensorial. O que está por trás da ação de Zaqueu é o tema da fé. Ele busca um lugar alto não porque queria aparecer, mas porque queria ver quem era Jesus. Zaqueu era de baixa estatura, mas grande nos bens, era “chefe dos cobradores de impostos e muito rico” (Lc 19,2). Nesta atitude de subir em cima da árvore, Zaqueu sente-se amado e feliz por que alcançou seu objetivo (viu Jesus). Jesus também viu Zaqueu. Confirma-se aqui o que fora apresentado na primeira leitura (Sb 11,22-12,2). Jesus comunica o amor de Deus, a compaixão de Deus e esta se estende sobre todos porque “Deus é rico em misericórdia” (Ef 2,4) e trata todos com bondade, porque é amigo da vida (Cf. Sb 11,26).
Com efeito, quando vemos Jesus, abrimo-nos para Ele e nos dispomos a assumir uma nova vida. Desejamos ardentemente ver Jesus, encontrar-nos com Ele e experimentar o seu amor. Porém, atraídos pelas propagandas religiosas tendenciosas de nosso tempo ou ocupados com um bem-estar material corremos o risco de confundir Jesus com elaborações humanas, projetadas segundo as pretensões de alguns que pensam comandar as suas ações. Diante desses riscos, a condição imprescindível para uma busca autêntica de Jesus é a fé. Não é por acaso que este 31º Domingo Comum faz uma síntese dos temas trabalhados nos domingos anteriores (último lugar - opção por Jesus - perdão - a riqueza - a fé – a oração – humilhou-se e ser exaltado - salvação). Portanto, quando olhamos para a narrativa do Evangelho de Lucas proclamada na liturgia deste Domingo, vemos na figura de Zaqueu o testemunho de alguém que na experiência do encontro com Cristo transformou sua vida. E nós, nossos encontros com Cristo na Palavra, na Eucaristia e no Próximo está gerando alguma transformação em nossa vida?
O reconhecimento de Jesus não significa a posse dele, muito menos esgotamento de sua Pessoa. A experiência do conhecimento se realiza gradativamente, portanto, não é algo que traz satisfação imediata. Assim, que jamais diminua em nós a vontade de ver o Senhor e fazer o bem aos nossos irmãos, partilhando nossas riquezas. Verdadeiramente, como ensina a segunda leitura (2Ts 1,11-12), só uma fé ativa nos permitirá participar na glorificação do Senhor.

Marcos Bento – 2º Teologia