“Zaqueu procurava ver quem era
Jesus” (Lc 19,3)
LEITURAS:
Sb
11,22-12,2
Sl 144
2Ts
1,11-2,2
Lc
19,1-10
Os ricos podem ser bons discípulos do
Senhor, porque também eles são amados por Jesus. Não pensemos que esta reflexão foge
da ótica cristã. Primeiramente, porque possuir bens não é empecilho para a
salvação, pois se fosse, a própria Igreja se confundiria na sua tarefa
evangelizadora já que ela é possuidora de muitos bens. Em seguida, como aparece
no Evangelho deste Domingo, a riqueza não é um mal incurável. O problema
terrível é o fechamento às riquezas, o escravizar-se pelos próprios bens. De
fato, quem vive como escravo do dinheiro, fecha-se em si mesmo. A vida pouco
humana, por ser demasiadamente dedicada ao dinheiro, impossibilita o serviço a
Deus. Mas quem tem riquezas e se dispõe a viver diferente e não em função
delas, pode se tornar um exemplar discípulo de Jesus. Zaqueu é um exemplo
disso. Não se trata de um caso perdido, mas de alguém que se esforçou para dar
um sentido diferente à sua vida e aos seus bens.
A grande novidade está no testemunho de Zaqueu
que, mesmo sendo rico, apresenta-se como modelo de quem não se fecha nas suas
riquezas. O sinal mais notável disso é a iniciativa de procurar o Senhor. Zaqueu
é a imagem de alguém que se sente atraído, desejoso e disposto a conhecer Jesus
- “Zaqueu procurava ver quem era Jesus” (Lc 19,3). Esse aspecto é importante
para nossa vida cristã, pois o “ver” aponta para a fé como uma resposta humana
ao dom de Deus. Dessa forma, querer ver Jesus não se trata simplesmente de uma
curiosidade sensorial. O que está por trás da ação de Zaqueu é o tema da fé.
Ele busca um lugar alto não porque queria aparecer, mas porque queria ver quem era
Jesus. Zaqueu era de baixa estatura, mas grande nos bens, era “chefe dos
cobradores de impostos e muito rico” (Lc 19,2). Nesta atitude de subir em cima
da árvore, Zaqueu sente-se amado e feliz por que alcançou seu objetivo (viu
Jesus). Jesus também viu Zaqueu. Confirma-se aqui o que fora apresentado na
primeira leitura (Sb 11,22-12,2). Jesus comunica o amor de Deus, a compaixão de
Deus e esta se estende sobre todos porque “Deus é rico em misericórdia” (Ef
2,4) e trata todos com bondade, porque é amigo da vida (Cf. Sb 11,26).
Com efeito, quando vemos Jesus,
abrimo-nos para Ele e nos dispomos a assumir uma nova vida. Desejamos
ardentemente ver Jesus, encontrar-nos com Ele e experimentar o seu amor. Porém,
atraídos pelas propagandas religiosas tendenciosas de nosso tempo ou ocupados
com um bem-estar material corremos o risco de confundir Jesus com elaborações
humanas, projetadas segundo as pretensões de alguns que pensam comandar as suas
ações. Diante desses riscos, a condição imprescindível para uma busca autêntica
de Jesus é a fé. Não é por acaso que este 31º Domingo Comum faz uma síntese dos
temas trabalhados nos domingos anteriores (último lugar - opção por Jesus -
perdão - a riqueza - a fé – a oração – humilhou-se e ser exaltado - salvação).
Portanto, quando olhamos para a narrativa do Evangelho de Lucas proclamada na
liturgia deste Domingo, vemos na figura de Zaqueu o testemunho de alguém que na
experiência do encontro com Cristo transformou sua vida. E nós, nossos
encontros com Cristo na Palavra, na Eucaristia e no Próximo está gerando alguma
transformação em nossa vida?
O reconhecimento de Jesus não significa
a posse dele, muito menos esgotamento de sua Pessoa. A experiência do
conhecimento se realiza gradativamente, portanto, não é algo que traz
satisfação imediata. Assim, que jamais diminua em nós a vontade de ver o Senhor
e fazer o bem aos nossos irmãos, partilhando nossas riquezas. Verdadeiramente,
como ensina a segunda leitura (2Ts 1,11-12), só uma fé ativa nos permitirá
participar na glorificação do Senhor.
Marcos
Bento – 2º Teologia