Iniciamos hoje o tempo de Advento. A palavra significa ‘vinda’, mas pode ser traduzida por chegada, presença. No mundo antigo, indicava a chegada de um funcionário, ou
a visita do rei, do imperador. Podia indicar, também, a vinda da divindade que,
saindo do seu esconderijo, se manifestava ao povo.
Os cristãos escolheram essa palavra para indicar a
vinda do Senhor em nossa terra, sua visita à humanidade. Com advento, queremos dizer: Deus está aqui,
não foi embora do mundo, não ficamos abandonados. Também se invisível aos
nossos olhos, Ele ‘está sempre no meio de nós’, ‘até o fim do mundo’.
O Advento é tempo de espera. Por isso, pede paciência e perseverança.
Paciência não significa acomodação ou resignação. Antes, pede empenho, vontade
de descobrir e assumir por amor. É vontade de descobrir o sentido do tempo, da
vida, dos acontecimentos. Para nós cristãos, é espera do Reino-que-vem,
como dom do amor do Pai, e como acolhida que nos transforma em operários na
lavoura do Senhor, isto é, no mundo, que pede ser transformado segundo o projeto
de Deus.
O profeta Isaías nos orienta, desde o I domingo, apresentando um
grande sonho de paz: “Os povos transformarão suas espadas em arados e sua laças
em foices: não pegarão em armas uns contra os outros”. Esse sonho é preciso
alimentar, transformando nossas relações cotidianas, não mais uns contra os
outros, mas, com serenidade e solidariedade, procurando o que nos une, e construirmos
pontes, não muros.
Advento é, então, tempo para acordar em nós o verdadeiro sentido
da espera cristã: é espera do Senhor Jesus, o Messias que nasce pobre e
humilde em Belém e anuncia “paz aos homens por Deus amados”.
Em sua primeira vinda, o Senhor veio “revestido de nossa fragilidade para
realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação”, como
proclama o prefácio do tempo de Advento. Mas, essa primeira vinda é prelúdio e
anúncio da sua segunda, quando virá “revestido de sua glória, para conceder-nos
em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos”.
A Palavra de Deus nos acompanha com fortes mensagens de vida nova,
alimenta nossa espera e nos ajuda a fazer discernimento do que é mais
importante na vida, segundo o projeto de Deus. No I domingo, o convite é:
“Fiquem atentos! Porque não sabem em que hora virá o Senhor”. No segundo, João
Batista, com voz forte, pede: “Convertam-se, porque o Reino de Deus está
próximo”; no terceiro, aparece a pergunta a Jesus: “És tu aquele que deve vir
ou devemos esperar outro?”. Enfim, no quarto domingo, o evangelista Mateus
apresenta como foi gerado Jesus: Ele nascerá de Maria, esposa de José, da
estirpe de Davi.
O papa Bento XVI chamou o Advento
de “tempo da presença e da espera do eterno; a estação espiritual da esperança;
nele, a Igreja toda é chamada a se tornar esperança para si mesma e para o
mundo”. O papa Francisco explicou que o Advento nos restitui “o horizonte
da esperança, esperança que não decepciona porque fundada na Palavra do Senhor.
De fato, Ele nunca decepciona”. E acrescenta o papa: “O cristão deve viver e
testemunhar a alegria que vem da nossa proximidade com Deus, da sua presença em
nossa vida” e nos exorta a sermos ‘missionário da alegria’.
Enfim, uma palavra sobre Maria. Ela é a imagem viva desse tempo:
“Maria é ‘o Caminho’ que Deus mesmo preparou para vir ao mundo” (papa
Francisco); Ela tornou possível a Encarnação do Filho de Deus. A festa da Imaculada
Conceição – no tempo de Advento – celebra Maria como ‘protótipo da
humanidade redimida, o fruto mais excelso da vinda redentora de Jesus’. Neste Ano Mariano, o exemplo de Maria seja luz
que nos ilumina e conforto em nossas dificuldades.
Dom Armando