32º Domingo Comum – Ano B

“Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Mc 12,44)


Leituras:
1Rs 17,10-16
Salmo 145
Hb 9,24-28
Mc 12,38-44

Com um ensinamento surpreendente, Jesus desperta na multidão e em seus discípulos um olhar atento para o comportamento religioso e convida a cultivar a generosidade e o amor sincero pelos outros a partir da simplicidade. Jesus quer abrir os olhos dos seus seguidores para uma fé envolvente e autêntica, distante da hipocrisia e da vaidade dos doutores da Lei. Uma fé semelhante a fé da viúva cuja simplicidade de vida não impediu a doação generosa de tudo o que possuía.
Como discípulos e discípulas de Jesus não estamos imunes à tentação dos primeiros lugares nem ao perigo da ostentação religiosa diante dos outros. Corremos o risco de fazer da fé um adereço de elegância, isto é, um enfeite exterior que nada corresponde ao que realmente há em nosso coração, e que usamos somente para despertar atenção dos outros e receber elogios.
Não sejamos como os doutores da Lei. Eles eram intérpretes do Antigo Testamento e tinham enorme influência na vida povo. Faziam do saber um objeto de poder e exploravam as viúvas com uma piedade disfarçada. Julgavam dignos de respeito, mas preferiam o mundo das aparências e não a honestidade intelectual de aplicar na vida o que assimilava na mente.
Jesus critica severamente o comportamento religioso dos doutores da Lei por causa da vaidade e da hipocrisia na vivência da fé. Eles são o oposto daquilo que Jesus quer que seus discípulos sejam. Como Jesus quer que sejamos? “Para o discípulo, basta ser como o seu mestre” (Mt 10,25). É preciso ter cuidado para não deixar que o comportamento dos doutores da Lei se infiltre entre os seguidores de Jesus.
A maneira como a pobre viúva oferta sua esmola no Templo é um contraste à conduta dos doutores da Lei. A viúva é um exemplo profundo de fidelidade e entrega a Deus que devemos imitar. Semelhante àquela viúva de Sarepta que crê na promessa de Deus contida na profecia de Elias, a pobre viúva do evangelho crê que a oferta a Deus de tudo o que possui é a escolha coerente da sua simplicidade. Tanto a pequena quantidade de farinha e azeite quanto as duas moedas ofertadas são preciosas aos olhos de Deus.
A generosidade na simplicidade nos ensina a viver como o próprio Jesus. Ele “abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz” (Fl 2,8). Sua entrega a Deus como expressão de amor generoso e gratuito por nós é uma inspiração para nosso comportamento religioso autêntico. Precisamos abandonar a cobiça dos doutores da Lei e abraçar a generosidade da viúva.
Diante do cofre das esmolas, Jesus não observa a quantidade de dinheiro depositada, mas o modo como a oferta é feita. “Os homens veem com os olhos, mas o Senhor olha com o coração” (1Sm 16,7). A esmola da viúva era insignificante (duas moedas), mas foi vista por Jesus como uma doação total feita com muita fé. “Ela ofereceu tudo aquilo que possuía para viver” (Mc 12,44). Estamos dispostos a fazer o mesmo?
Marcos Bento
4º Teologia