“Para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve”.


O livro dessa semana é um clássico da literatura universal, escrito no ano de 1865.
Eu te sugiro...leia “Alice no País das Maravilhas”.
Livro de criança? Sim. No entanto, por trás de uma capa que aponta ‘Literatura infantil’, há uma estrutura de texto para adulto, além de um significativo trabalho com a linguagem.
Seu autor, Lewis Carroll,pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, nasceu em Daresbury, Cheshire, Inglaterra, em 27 de janeiro de 1832. Era poeta, matemático e fotógrafo. Faleceu em Guildford, Surrey, em 14 de janeiro de 1898.
Carroll foi um homem de grande capacidade intelectual. No entanto, sendo muito tímido, se sentia mais à vontade quando estava em meio às crianças, conversando com elas. Ele se encantava com a sabedoria e a simplicidade que elas carregam no olhar.Não é à toa que ele termina a sua obra dizendo: “Finalmente, [a irmã de Alice] ficou imaginando como seria aquela mesma irmãzinha no futuro, quando fosse adulta, e como conservaria, em sua idade mais madura, o coração simples e amoroso de sua infância”. (p.138).
A sua obra é chamada denonsense, isto é, “sem sentido”, por conta do gosto do autor pelo contrassenso e pelo paradoxo. A todo instante, a linguagem é desconstruída e moldada de acordo com a necessidade de expressão. Tal como o trecho dos jardineiros que pintavam de vermelho as rosas brancas de um jardim. Ao serem indagados por Alice sobre o porquê de agirem assim, responderam dizendo que lhes haviam ordenado que plantassem rosas vermelhas e que eles, por engano, tinham plantado brancas. Para que não se aborrecessem com eles, acharam melhor pintar as tais rosas brancas de vermelho...
Alice no País das Maravilhas é um livro cercado de fantasia, ao tempo em que levanta questionamentos, especialmente em nível de linguagem. Explora princípios da Filosofia, da Linguística e da Psicologia. Portanto, as reflexões são profundíssimas.São verdadeiros ensinamentos de vida.
Umas das passagens mais interessantes da obra, e que vale a pena contar aqui, é o encontro de Alice com o gato de Cheshire, que só vivia sorrindo ‘de orelha a orelha’ (a Duquesa explica, com muita naturalidade, para Alice, que todos os gatos podem sorrir). Na ocasião, Alice estava perdida, na dúvida sobre qual caminho tomar. Ao encontrar o gato em cima da árvore, indaga: _Qual caminho devo seguir? O gato pergunta: _ Para onde você quer ir? Alice diz, confusa: _Não sei. Tanto faz... estou perdida. O gato replica: _ Então, para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve.
Quanta reflexão se pode fazer a partir de um trecho como esse! E tantas outras passagens são marcadas por esses encontros divertidos e de grande aprendizado.
As personagens são as mais “loucas” possíveis. Tem um Coelho Branco que anda sempre correndo (não se sabe para onde), olhando para um relógio e gritando: ‘Estou atrasado! Estou atrasado!’. Tem uma Duquesa que sempre concorda com tudo o que Alice diz, mesmo que ela diga coisas absurdas. Tem uma Lagarta que é o oposto, sempre discorda de tudo o que Alice diz e lança para ela a pergunta fundamental: ‘Quem é você?’, ao que Alice responde encabulada:‘Não estou bem certa, senhora...Quero dizer, nesse exato momento não sei quem sou... Quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que já mudei muitas vezes desde então...’E a cada resposta dada, a Lagarta contrariava Alice, que chateada observou: ‘Seria tão bom se as criaturas não se ofendessem com tanta facilidade!’
Enfim, a leitura do livro é uma oportunidade para refletir sobre o sentido das coisas. O autor procura traduzir, em Alice, a busca que cada um deve fazer do seu caminho a seguir. A todo tempo ele parece dizer: é você quem precisa fazer as suas escolhas; ser o protagonista de sua história. Portanto, não relegue a ninguém a maravilha de poder sonhar, com o que quiser;nunca perca a esperança diante da vida, conservando, como as crianças, a simplicidade de coração. Seja você mesmo!
Por isso, não deixe de ler essa obra. Aliás, se puder, nunca deixe de ler. A literatura ajuda muito a enriquecer o nosso mundo. Na menor das hipóteses, um livro traz novas informações. Ademais, ele pode contribuir para que nos tornemos seres humanos melhores. É um presente que você se dá e um exercício de autoconhecimento. Afinal, tal como ensina a filosofia: ‘o mais importante é conhecer a si mesmo’.
Boa leitura!
Raiana Cristina Dias da Cruz
REFERÊNCIA:
CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas. Tradução de Márcia Feriotti Meira. Editora Martin Claret: São Paulo, 2005 (p.145). Título original: Alice in Wonderland(1866). Ilustrações originais de John Tenniel.