“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo” ou
simplesmente “conhece-te a ti mesmo”. Esta frase tornou-se celebre e muito
conhecida na filosofia socrática, porém esta não pertence a Sócrates ou a
nenhum de seus discípulos, más sim ao escrito do portal do templo de Delfos,
dedicado ao deus Apolo, identificado na mitologia grega como o Sol e a luz da
verdade, aquele que fazia os homens conscientes de suas falhas; característica
semelhante a da refutação socrática que levando a consciência da ignorância
conduz a verdade e ao autoconhecimento. Sócrates toma esta frase como
inspiração de sua filosofia “conhece-te a ti mesmo” sendo base de uma educação
direcionada a compreensão do ser, enquanto homem, pois para ele a melhor
maneira de promover o autoaperfeiçoamento seria por meio de um autoexame.
Enquanto os demais filósofos preocupavam-se com o principio de todas as coisas,
ou seja, a Arké, Sócrates volta o seu olhar para o homem, acreditando ser a
maneira mais eficaz para se chegar ao conhecimento das coisas: o conhecimento
de si mesmo, buscado no interior as respostas que a muito se buscava no
exterior, tendo em vista que a partir da compreensão de homem, ou do
autoconhecimento, pode-se chegar ao conhecimento de todas as coisas, mais
especificamente a partir da compreensão do ser.
Em Sócrates, Platão nos apresenta a descoberta da
essência do homem, que é a alma, sendo esta, o que diferencia o homem das
outras criaturas, mais precisamente dos outros animais. Se para o filósofo
ateniense a essência do homem está na alma, é para ela que devem estar voltadas
nossas atenções e cuidados, entendendo-se aqui a alma como a seda da razão e do
conhecimento, e ao apenas como a parte do ser que transcende ao corpo. Quanto a
este, Sócrates o descreve como um instrumento de conhecimento, pois é através
dele que nos é dado conhecer os sentidos, que não são o conhecimento em si, más
nos levam a ele, considerado também outras de nossas capacidades, como por
exemplo, a intuição. Sendo assim se quisermos no conhecer, devemos estar
abertos e atentos e atentos ao que esta em nossa alma, tanto na visão
filosófica socrática, bem como colocará mais a frente Santo Agostinho.
A partir de tal reflexão, podemos concluir que nos
deparamos todos os dias com tal situação, a de conhecermos a nós mesmos, porem,
será que ao menos conseguimos nos encontrar para daí partirmos para o autoexame
do conhecimento de nós mesmos? Encontrar-nos seria num olhar de fora para
dentro, reconhecer aquilo que somos, nossas fraquezas e capacidades, em que
meio vivemos, como agimos em relação a este, e por que assim agimos,
reconhecendo que somos responsáveis por aquilo que fazemos independentemente do
meio em que fomos gerados, para a partir daí, chegarmos a conhecer-nos, o que
não é muito fácil, pois dentre as capacidades
da mente humana, encontramos a de fugir da realidade, ou de criar uma
“realidade” incoerente com a que realmente se vive. Porém o estudo da filosofia
não pode estar excluso da busca da verdade e do conhecimento de si mesmo, e o
conhecimento por sua vez, que buscamos incessantemente, leva-nos sempre a
verdade.
Este conhecimento é realmente necessário para podermos
compreender melhor o mundo, pois não podemos ter tais conceitos a partir do
nada, mas sim a parti de nós mesmos, encontrando em nós inúmeras respostas,
como cita Santo Agostinho quando trata de sua experiência com Deus “Tarde te
amei ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas dentro de mim e eu
estava fora, e ai te procurava”. Neste trecho Agostinho expressa o
arrependimento pelo tardio encontro com Deus, a quem ele buscava encontrar fora
de si, quando na verdade sua busca deveria ter sido desde antes em seu
interior.
Na teoria platônica supõe-se que o ser não nasce em
completo estado de ignorância, mas traz na alma a lembrança das ideias que antes
mesmo do nascimento foram contempladas, e que por sua vez são recordadas, estas
recordações da alma é o que chamamos de reminiscência. Poderíamos tomar este
conceito por base de nosso autoconhecimento, não o da lembrança impressa na
alma, da forma que nos apresenta a teoria platônica, mas as lembranças de todo
o que se encontra dentro de nosso íntimo e que nos seja útil para levar-nos a
verdade, pois também para Agostinho a alma traz todo o conhecimento, e quando
aprende não faz mais que recordar. Para tal, a verdade, inclusive as naturais
já foram impressas por Deus na alma ao criá-la.
Max Sabrino
2º Filosofia