A ÉTICA DA RESPONSABILIDADE EM EMMANUEL LÉVINAS

A ética ocidental, até meados do século XX, influenciada pela racionalização totalitária do pensamento sobre o ser, comportou a “ontologia do poder” na qual se basearam os sistemas totalitários e todas as outras formas de dominação contemporâneas pela redução racionalista em classes para um “eu” autônomo, determinado.
Lévinas, filósofo judeu e de nacionalidade lituana, protesta contra a síntese do universal com o apelo imperativo da descoberta do “outro” sem os enquadres do “sujeito” ou do “ser”, mas sim e antes de tudo, com a necessidade de resposta ao rosto que se apresenta e não pode ser definido, pois se encontra no mistério da transcendência e da alteridade.
Ao abordar o pensamento levinasiano, pretendo deter-me nos seus desdobramentos do problema ético como primado não só da ontologia, mas de toda filosofia. A transcendência da face ou do rosto sobre qualquer interação provoca o reconhecimento do outro, ao qual não se aplicam conceitos ou estudos prestados pela ontologia, pois objeta ao máximo o “ser” em “sujeito”, mas simplesmente relações dos “eus”, que ultrapassam infinitamente a si mesmos em direção ao limite do “estar diante”.            
Diante do outro deparamo-nos com a angústia, sendo não apenas um sentimento, mas a desestabilização do eu autônomo, que nos provoca a reação no confronto, exigindo, assim, uma resposta. Tal relação não pressupõe interesse, antes, sim, responsabilidade deposta de qualquer posse, pois o outro elimina qualquer limitação de classe e apesar de semelhante em nada é igual ao “eu”.
Essa proposta agita a estrutura e o lugar da ética, exigindo sua revisão radical, e da própria filosofia, para antecipar responsabilidade à liberdade, bondade à verdade, transcendência à imanência, fundamentando, assim, as razões do relacionamento humano.

Para aprofundar: EMMANUEL, Lévinas. Ética e Infinito. Lisboa: Edições 70, 2007.

Adriano Bonfim Pereira
1º ano de Teologia