Gn
22,1-2.9a-10-13.15-18,
Salmo115,
Romanos
8,31b-34,
Marcos 9,2-10
A caminho de Jerusalém, Jesus avisa os seus discípulos que está se
aproximando o dramático desfecho de sua presença no mundo. Não será como eles
esperam, isto é, de poder e glória; ao contrário, Ele será preso, torturado e
morto, ‘mas ao terceiro dia ressuscitará’. Por enquanto, eles não entendem o
que significa ‘ressuscitar’, mas compreendem o que significa rejeição, sofrimento,
morte. No grupo dos seguidores de Jesus, tinha-se criado um clima pesado: “eles
não entendem”!
A Transfiguração acontece como
experiência que visa iluminar mentes e corações, ao menos dos três mais íntimos
de Jesus: Pedro, Tiago e João: “Jesus se transfigurou diante deles. Suas roupas
ficaram brilhantes e tão brancas que nenhuma lavadeira sobre a terra poderia
alvejar”.
O evangelista procura palavras, porém,
insuficientes para contar o mistério de
Deus. Jesus mostra sua verdadeira identidade, escondida pela ‘carne humana’ e a
Ressurreição é antecipada por alguns instantes. É uma cena belíssima, a
presença de Moisés e Elias é para dizer que, agora, em Jesus, a Lei e os
Profetas encontram sua plenitude. Enquanto isso, a voz da nuvem declara: “Este
é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz”. E ‘somente Jesus’ permanece.
Na I leitura se exalta a
obediência de Abraão que não poupa o ‘filho único’ Isaac, o filho da Promessa,
‘a quem tanto amas’ para ser fiel ao seu Deus. Mas o Deus que Abraão conhece,
não quer sacrifícios humanos, é diferente dos outros deuses. Enfim, o filho é poupado e o sacrifício se
realiza com a oferenda de um carneiro.
O Pai, porém, não poupou o seu Filho
Único, mas o deixou chegar até à morte de cruz. Por quê? O apóstolo Paulo esponde
(II leitura): “Deus não poupou seu próprio filho, mas o entregou por
todos nós, como não nos daria tudo com ele?” O sacrifício de Cristo é o sinal
do infinito amor de Deus para conosco. Ele foi fiel à humanidade, apesar das
tantas infidelidades e pecados!
Agora uma mensagem se torna mais clara
para nós: teremos a capacidade de responder com a mesma fidelidade? Tornaremos
as nossas vidas sinais de amor e bondade para com os irmãos?
Vendo as violências absurdas que
continuam acontecendo pelo mundo afora, cometidas ‘em nome de deus’, todos
ficamos estarrecidos. A humanidade demonstra, tantas vezes, não entender o
sentido da vida e, ainda menos, a mensagem de Jesus! Como estamos distantes das
propostas de Jesus, rosto humano de Deus!
Nós que fomos tocados pela sua Graça,
hoje somos chamados a levantar o olhar além da morte, onde nos espera uma vida
em plenitude. Ser fieis a Jesus comporta acreditar nessa ‘transfiguração’ que,
desde já, aconteceu conosco. Já fomos transfigurados em Jesus morto e ressuscitado,
já somos filhos de Deus, já pertencemos à família dos santos. Por isso,
repletos de sua misericórdia, devemos viver como ‘transfigurados’, mulheres e
homens que sabem compreender e perdoar, abençoar e amar, ser misericordiosos e
acolhedores.
Nesta Quaresma pedimos a Deus que
“alimente o nosso espírito com a sua Palavra, para que, purificado o olhar de
nossa fé, nos alegremos por participar das coisas do céu” (orações da missa).
Dom Armando