Nos
últimos tempos, dentre os muitos acontecimentos marcantes do século XXI, a
crise financeira vem ocupando notável lugar na mídia, nos debates de muitas
áreas do conhecimento e no próprio ritmo de vida da nossa sociedade. As
consequências dessa situação não refletem apenas no nosso bolso, enquanto
consumidores, mas nos inquieta para uma reflexão mais profunda da nossa vida
social. De fato, apesar de não sermos constituídos apenas por interesses
econômicos, os efeitos da crise afetam fortemente nosso modo de relacionar
conosco mesmos, com os outros, com o mundo e com Deus. Por esses motivos, não
podemos pensar na crise financeira somente como um problema econômico, mas,
sobretudo como motivo, para um colapso nas relações humanas, que pode
prejudicar nosso modo de vida social. Antes, porém, de percebermos que alguns
aspectos desse problema de escala mundial nos permitem uma reflexão filosófica,
devemos enfatizar que, no contexto atual, a urgência consiste em elaborar algum
mecanismo para superar a crise ou apenas pensar numa tentativa de controlá-la.
Além disso, não é de se estranhar as inúmeras discussões em torno dos
‘responsáveis’ pela crise econômica. Portanto,
do ponto de vista filosófico, perguntamo-nos: será que essa crise é capaz de
produzir algum pressuposto filosófico? Primeiramente, consideremos que a crise
financeira não se trata especificamente de questões econômicas. Assim, podemos
pensá-la a partir de uma análise filosófica. O fruto dessa reflexão nos faz
perceber que ela é também uma crise do individualismo metodológico e de uma
mentalidade a-histórica sobre o indivíduo, porque gera uma espécie de
racionalidade social como fruto de uma reflexão subjetivista, ou seja, apenas
um pensa e todos aceitam. Do ponto de vista filosófico, isso nos aproxima das
reflexões de John Stuart Mill sobre o autointeresse. Para ele, o autointeresse
faz parte de cada indivíduo que está inserido na sociedade, porém, o
autointeresse de uma pessoa pode ferir o de outra. O que essa linha de
pensamento deixa transparecer é a tentativa de pensar a sociedade a partir de
um único indivíduo. Contudo, diante dos inúmeros aspectos sociais, culturais,
morais, políticos, sabemos que essa não é a forma adequada. Ainda nessa mesma
linha de raciocínio, em torno do interesse, o filósofo e economista francês
Adam Smith aponta que o que move o indivíduo é o interesse. Dessa forma, tal
interesse deveria tornar o indivíduo responsável pela riqueza de uma nação.
Aqui está a base do individualismo metodológico. Ele não é outra coisa senão um
estilo de pensamento com o qual a teoria econômica chamada de neoclássica foi
construída. Por isso, concluímos que a principal temática, do ponto de vista
filosófico, para debater a crise econômica, gira em torno do indivíduo
autointeressado. Sua preocupação se resume em ampliar sua utilidade e diminuir
seus custos. Assim, pensemos: quais os incentivos que a cultura individualista
provoca na crise financeira? Faz sentido projetar uma sociedade a partir da
reunião de interesses peculiares de cada indivíduo? Boa reflexão!
Marcos
Bento
1º
Teologia