LEITURAS:
Jr
23, 1-6
Sl
22 (23)
Ef
2, 13-18
Mc
6, 30-34
A liturgia deste Domingo nos quer
comunicar a preocupação e o cuidado de Deus por nós, suas ovelhas, em especial
por aquelas que não tem pastor. O Senhor se inquieta com os sofrimentos
daqueles que buscam alento, por isso não cessa de oferecer vida nova e plena a
todos os homens.
Na leitura do profeta Jeremias, Deus
expõe claramente a culpa daqueles que dirigem o povo (suas ovelhas). Primeiro
por não terem cuidado, mas usarem o povo para satisfazer seus interesses
pessoais, depois por confundi-los, fazendo-os perder de vista o caminho da
aliança com Deus. Por fim, já dispersos no coração, o povo se espalhou com o
exílio da Babilônia, porque seus líderes confiaram mais em ajudas humanas
(jogadas políticas) do que no cuidado de seu verdadeiro pastor, o próprio Deus. O uso do imagem do pastor refere-se à característica necessária e anterior ao assumir qualquer liderança, pois o
pastor é aquele que cuida e normalmente cuida para outro, pois não é o dono do
rebanho. Deus lembra que o rebanho é Seu e Ele mesmo vai cuidar dele e reuni-lo
(volta do exílio) para que possa viver em paz e ser guiado pelo pastor justo
que ele está preparando. Neste, as ovelhas podem confiar e não agirem mais com
“medo nem sobressalto”. Deus intervém não só para punir, mas para salvar o seu
rebanho.
Na segunda leitura, Paulo afirma a
vontade salvadora de Deus desde toda a eternidade, que consiste no apelo a
todos para voltar a comunhão com ele, fazendo parte de sua família. Essa
vontade se realiza na entrega de Cristo, derrubando toda e qualquer barreira,
divisão, inimizade para fazer dos homens e mulheres do mundo um só povo reunido
em seu amor. Cristo veio apresentar uma proposta de vida que é para todos, sem exceção.
O que realmente importa agora é o modo como acolhemos e respondemos a proposta
de Jesus, apesar de que isto não é a simples pertença a um grupo ou povo; é
preciso nos reunir na comunidade dos seus seguidores.
O Evangelho nos mostra, com o regresso
dos enviados de Jesus, que a proposta de vida e salvação de Jesus é continuada
pelos discípulos. Mostra ainda que uma atenção especial deve ser dada aos
homens e mulheres que caminham pelo mundo perdidos e sem rumo, “como ovelhas
sem pastor”. A missão, por ser árdua, para ter pleno vigor, requer que sempre
os discípulos reanimem suas forças e confrontem suas práticas, descansando em
Jesus, pois é “o amor de Cristo que nos impulsiona”. A euforia do sucesso
inicial não pode tomar conta, mas é preciso parar e perceber o que realmente é
essencial na missão, isto é, o cuidado com as ovelhas. O ativismo pode levar à perda do sentido da missão. Se os discípulos não confrontarem, frequentemente,
os seus esquemas e projetos pastorais com Jesus e a sua Palavra, a missão não se
sustentará. Há um alerta ainda para que, mesmo em meio ao cansaço, a ânsia de
vida que as pessoas sentem pode nos confrontar a apelos que não podem esperar e
exige de nós a compaixão e uma entrega um pouco maior. Jesus é que dá sentido à
missão do discípulo e que permite ao discípulo, tantas vezes fatigado e
desanimado, voltar a descobrir o sentido das coisas e renovar o seu empenho.
Há, ainda hoje, homens e mulheres que
caminham pelo mundo perdidos e sem rumo, “como ovelhas sem pastor”, talvez com
necessidades ainda maiores e mais complexas. Por isso, a missão dos discípulos hoje
é até mais urgente. Será que os excluídos, os estrangeiros, os doentes
encontram em cada um de nós, discípulos de Jesus, o amor, a bondade e a
solicitude de Deus?
Também nós, em meio a tantas
adversidades, podemos nos sentir como “ovelhas sem pastor”. O Senhor mesmo garante-nos
que é o “Pastor” que se preocupa conosco, que cuida das nossas necessidades. É
n’Ele que temos de confiar.
Ao nos deparar com os textos deste
domingo, podemos lembrar dos nossos dirigentes civis ou religiosos. Mas esta
palavra fala a cada leitor e ouvinte, pois todos somos, de algum modo,
responsáveis pelos irmãos que caminham conosco. Por isso, nos perguntamos: Como
tratamos os irmãos? Será que os servimos, cuidando deles para prepará-los para
Cristo ou os usamos em nossos interesses pessoais? Paulo afirma a igualdade de
todos perante Deus. Nas nossas comunidades, há irmãos considerados de segunda
classe, marginalizados e maltratados?
Volta e meia, aparecem muros que nos
dividem, que impedem a comunicação, o encontro, a comunhão. Nós temos o dever
de dar testemunho da paz e da unidade e de lutar, objetivamente, contra todas as
barreiras que separam os homens. Seremos, assim, acolhedores do cuidado de Deus e
também cuidadores dos que mais precisam da nossa atenção.
Não podemos ficar com a consciência em
paz (porque até já fomos à missa e rezamos as orações que a Igreja manda), a
ver o nosso irmão a sofrer. O nosso coração tem de doer, a nossa consciência
tem de questionar-nos, quando virmos um homem ou uma mulher (nem que seja um
desconhecido) ser magoado, explorado, ofendido, marginalizado, privado dos seus
direitos e da sua dignidade. Como nos lembra o papa Francisco, um cristão é
alguém que tem de sentir como seus os sofrimentos do irmão, mesmo que ele seja
judeu ou muçulmano, pecador ou justo.
Adriano
Bonfim Pereira
2º
ano de Teologia