Is 50,5-9a
Salmo - Sl 114,1-2.3-4.5-6.8-9 (R. 9)
Tg 2,14-18
Mc 8,27-35
A palavra de Deus neste Domingo nos
convoca a abandonar cada vez mais o pensamento natural ao mundo para abraçar a
novidade libertadora de Deus, focando-nos não nos triunfos e êxitos humanos,
mas no amor e no dom da vida, até à morte, se for necessário. A 1ª leitura
expõe o “servo sofredor”. Isaías descreve-o como aquele que não resiste a ação
de Deus: O Senhor abriu-me os ouvidos;
não lhe resisti nem voltei atrás (v.5), mas se entrega e confia totalmente
a Deus ponto de tudo suportar toda injustiça correndo risco de vida, pois tem
certeza do auxílio final de Deus: Sim, o Senhor Deus é meu Auxiliador; quem é que
me vai condenar? (v.9). A figura do servo identifica-se com Jesus Cristo em
sua vida em seu destino. Jesus no evangelho reage a toda e qualquer oposição,
consciente ou não a sua verdadeira missão: Vai
para trás de mim, Satanás (v 33). Não quer dizer que Pedro estava com o
demônio, mas que assumira uma atitude de oposição a Jesus e ao projeto de Deus:
Tu não pensas como Deus, e sim como os
homens'. (v. 33b). Neste caminho percorrido pelo evangelho Marcos os
discípulos já sabem que estão com o “Messias” prometido, mas não compreendem
ainda a novidade de sua missão, ainda o identificam com um libertador
triunfalista. Os discípulos estão em processo. Identificam-se com os cristãos
de hoje que ainda tentam realizar a libertação por com recursos puramente
humanos. Tal libertação deve mesmo ser perseguida, mas com os olhos da fé como
esclarece Tiago. Jesus assim o faz. Como o “servo sofredor” conheceu a prisão,
a tortura, o sofrimento. Ele vai além, convida os discípulos e a multidão a
seguir seu exemplo sem esconder nada. Alerta que o anúncio fiel das propostas
de Deus para os homens provoca sempre forte oposição. Mas, assim como Ele
venceu o pecado e a morte, também os que sofrerem por causa do evangelho
experimentaram o auxílio de Deus e não ficará
desiludido (v. 7). Jesus cumpre o que o servo anuncia e nos mostra que o
caminho da vida, quando posta ao serviço da libertação dos pobres e dos
oprimidos, não é perdida mesmo que pareça, em termos humanos, fracassada e sem
sentido. Tiago lembra que está libertação começa pela fé, e esta, por sua vez
se traduz em obras, ou seja, com gestos concretos de amor, de partilha, de
serviço, de solidariedade para com os irmãos: De que serve a alguém dizer que tem fé, se não tem obras? (v. 14)
Esta é uma fé operante, que se traduz num compromisso social e comunitário.
Assim conformar-se a Cristo, renunciar a si mesmo, tomar sua cruz (fé),
significa conformar, a cada instante, a própria vida com os valores de Cristo no
caminho do amor a Deus e da entrega total aos irmãos. Isto é ser sinal de Deus.
Por essa palavra que em nossas
comunidades, além de liturgias solenes e Igrejas magníficas, combatamos a desunião,
as disputas, a indiferença, as críticas que só destroem. Que nossos cristãos
não sejam apenas os que dão ofertas gordas, cumprem preceitos e agradam o
padre, mas comprometidos com a vida dos mais fracos na sociedade, na cultura e
na fé.
Que não sigamos o pensamento do mundo de
estar ao lado dos vencedores, de termos dinheiro em abundância, de reconhecimento,
dos melhores, mas uma vida no amor, na partilha, no serviço, na solidariedade,
na humildade, na simplicidade. Que sejamos capazes de acolher e de viver com
fidelidade e radicalidade as propostas de Deus, mesmo quando elas são exigentes
e vão contra os meus interesses e projetos pessoais. Assim Cristo tomará seu
lugar de Messias, mas também de servo que também age a custo de nossos braços e com o suor de nosso rosto (São Vicente de
Paulo).
Sem. Adriano Bonfim