Adolescência: quando a mudança assombra.

A primeira morte, no sentido biológico sensível, é o próprio nascimento. Morremos para o mundo uterino de segurança quase apodítica e entramos em um mundo bem mais complexo, ao qual precisaremos nos adaptar, bem mais do que antes; estamos, contudo, inclinados a perceber, espantarmo-nos, conhecer, aprender e no meio de tudo isso viver, encontrando o sentido “definitivo” de nossa existência e, antes, o sentido do nosso “agora” no mundo.
Estas questões todas, de modo mais agitado, estão presentes nas mentes dos Adolescentes. Esta fase é, pelo senso comum, apontada como a mais “conturbada”, por ser um momento de transição entre a Infância e a vida Adulta. Não obstante, os conflitos pessoais externos se dão, visto que esta fase é iniciada justamente pela Puberdade, onde sofremos transformações intensas em nossa estrutura corporal, com velocidade impressionante, e que, ao contrário do que ocorre nas infâncias, desta vez nos damos conta da mudança e nos espantamos com ela.
Em meio a tantas erupções, mas aprendendo a nos adaptar a elas e ao processo de mudar e perceber que a mudança é “normal” e nos acompanha sempre, nós buscamos nos construir, dizendo a nós e aos outros “quem sou eu”. Não de modo definitivo, pois no contato com a famílias, os amigos, enfim com “o mundo”, percebemos sempre “novidades” em quem sejamos de fato, até pelas situações inauditas com as quais nos deparamos.
As relações são imprescindíveis à nossa vida humana. Na adolescência o peso das relações familiares, entre amigos, colegas, professores, e com a sociedade em geral tem uma grande importância na formação da personalidade do ser. Nesta fase em que buscamos construir a nossa autonomia, afirmarmo-nos “senhores de nós”. Aqui, por vezes, buscamos anular muito do apreendido com os pais, nos apoiando mais nos amigos; ou, ao invés, recorremos a eles por serem referências de segurança, embora, muitos tenham dificuldade de concluir isso, justamente pela necessidade de “autoafirmação”. Nesse oceano de marés inconstantes é que o barco de nossa personalidade vai ganhando águas mais profundas.
No que tange a nossa capacidade de raciocínio, apreensão de conceito e compreensão lógica, alcançamos nesta fase um grande avanço. É válido, neste ponto, ressaltar a integridade do ser e das relações indissociáveis que estas áreas didáticas (físico, cognitivo, emocional e social) têm na realidade que é a pessoa. Avançamos em nossa capacidade de compreender o mundo, por causa das estruturas genéticas ora programadas a isso (genótipos); nesse processo nos relacionamos com as pessoas, estabelecendo laços, ocasião em que é necessário perceber e aprender lidar com as emoções, sejam mais efêmeras: expectativas, frustrações, raivas, entusiasmos; ou os sentimentos que são mais enraizados, como amor, compaixão, piedade, apego e saudades, como exemplo.

Como a vida é uma “continuidade constante”, no processo da adolescência, o que seria natural, consiste em nos afastarmos cada vez mais de “eu-criança” e nos aproximarmos mais de “eu-adulto”, em termos biológicos é inevitável, é-nos desafiador fazer com que os outros níveis acompanhem esse compasso.  
Kleber Chaves,
2º Filosofia

REFERÊNCIA
DAVIDOFF, Linda L. Introdução a Psicologia. Tradução, Lenke Peres. Ed. Person. São Paulo, 2001