MATRIMÔNIO 13

Entre as leituras propostas pelo Lecionário na Liturgia da Palavra da celebração do Matrimônio, encontramos nove, tiradas das cartas do apóstolo Paulo (duas também na forma breve). As reflexões paulinas vão da mais rica teologia até a concreta vivência do dia a dia. Em nosso breve espaço, não dá para fazer um comentário de cada uma. Pretendo só destacar algumas ideias, a partir do contexto da celebração do Matrimônio.
O primeiro texto de Paulo (Romanos 8,31b-35.37-39) começa com uma bonita e forte afirmação: Se Deus é por nós, quem será contra nós? e, finaliza: Tenho certeza de que... nada será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.
A vida humana, em geral, e particularmente a vida matrimonial, a cada dia, deve enfrentar desafios, dificuldades, às vezes, decepções e incompreensões. Tudo isso pode abalar a confiança na bondade de Deus. Eis que, lida no contexto da liturgia do Matrimônio, a mensagem de Paulo pretende fortalecer a fé do casal. O apóstolo insiste em dizer que o amor de Jesus para conosco deve ser força interior, de modo que, o casal viverá todos os eventos de sua vida com a certeza desse amor que, na celebração do sacramento, é abençoado por Deus.
No Ritual, encontramos, logo depois, mais um texto de Paulo aos Romanos (12,1-2,9-18). Como de costume, em São Paulo, depois da parte teológica, segue a exortativa, que começa assim: Pela misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual (melhor seria traduzir com ‘culto segundo a Palavra’). E recomenda a todos os seguidores de Cristo a não se conformar com o mundo, mas a renovar a própria maneira de pensar e de julgar.
Segundo o apóstolo, casamento religioso é escolha de vida inspirada no projeto do Senhor. Por isso, os cristãos não podem seguir a mentalidade do mundo, os comportamentos propostos pelas novelas, pelo ‘politicamente correto’ ou pelas ideologias dominantes. O casal, que fundamenta em Cristo seu amor, à escola de Jesus, dia após dia, é chamado a procurar um ‘estilo de vida’ de acordo com o evangelho. Paulo, em seguida, propõe algumas das características desse amor: deve ser ‘sincero’, repleto de ‘terna afeição’; (os dois) tenham ‘atenções recíprocas’; sejam ‘zelosos e diligentes’, saibam ‘abençoar e não amaldiçoar’, ‘não paguem o mal com o bem’; enfim, façam o possível para ‘viver em paz com todos’.
Se o casal procurar viver desse jeito, com certeza, construirá sua casa ‘na rocha’, viverá com alegria e terá garantia de fidelidade e amor verdadeiro. A essa altura, alguém perguntará: “Mas, será que tudo isso não é pura fantasia, bem diferente da realidade que a gente vê, hoje em dia”? Encontro a resposta na vida de casais que, inspirados e sustentados pela fé, de forma simples e também com algumas deficiências, dão o belo testemunho de que, com a Graça de Deus, isso é possível.
A celebração litúrgica diz que essa mensagem é “Palavra do Senhor” e, portanto, projeto de Deus sobre quem ‘casa no Senhor’. Numa das orações da celebração do Matrimônio, pede-se a Deus que conceda ao casal “crescer na caridade e ser um sinal do mesmo amor do Senhor”.
Dom Armando