Entre
as leituras propostas pelo Lecionário na Liturgia da Palavra da
celebração do Matrimônio, encontramos nove, tiradas das cartas do apóstolo
Paulo (duas também na forma breve). As reflexões paulinas vão da mais rica
teologia até a concreta vivência do dia a dia. Em nosso breve espaço, não dá
para fazer um comentário de cada uma. Pretendo só destacar algumas ideias, a
partir do contexto da celebração do Matrimônio.
O
primeiro texto de Paulo (Romanos 8,31b-35.37-39) começa com uma bonita e forte
afirmação: Se Deus é por nós, quem será
contra nós? e, finaliza: Tenho
certeza de que... nada será capaz de nos separar do amor de Deus por nós,
manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.
A
vida humana, em geral, e particularmente a vida matrimonial, a cada dia, deve enfrentar
desafios, dificuldades, às vezes, decepções e incompreensões. Tudo isso pode
abalar a confiança na bondade de Deus. Eis que, lida no contexto da liturgia do
Matrimônio, a mensagem de Paulo pretende fortalecer a fé do casal. O apóstolo
insiste em dizer que o amor de Jesus para conosco deve ser força interior, de
modo que, o casal viverá todos os eventos de sua vida com a certeza desse amor
que, na celebração do sacramento, é abençoado por Deus.
No
Ritual, encontramos, logo depois, mais um texto de Paulo aos Romanos
(12,1-2,9-18). Como de costume, em São Paulo, depois da parte teológica, segue
a exortativa, que começa assim: Pela
misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo,
santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual (melhor seria
traduzir com ‘culto segundo a Palavra’). E recomenda a todos os seguidores de
Cristo a não se conformar com o mundo,
mas a renovar a própria maneira de pensar e de julgar.
Segundo
o apóstolo, casamento religioso é escolha de vida inspirada no projeto do
Senhor. Por isso, os cristãos não podem seguir a mentalidade do mundo, os
comportamentos propostos pelas novelas, pelo ‘politicamente correto’ ou pelas
ideologias dominantes. O casal, que fundamenta em Cristo seu amor, à escola de
Jesus, dia após dia, é chamado a procurar um ‘estilo de vida’ de acordo com o evangelho.
Paulo, em seguida, propõe algumas das características desse amor: deve ser ‘sincero’,
repleto de ‘terna afeição’; (os dois) tenham ‘atenções recíprocas’; sejam
‘zelosos e diligentes’, saibam ‘abençoar e não amaldiçoar’, ‘não paguem o mal
com o bem’; enfim, façam o possível para ‘viver em paz com todos’.
Se
o casal procurar viver desse jeito, com certeza, construirá sua casa ‘na
rocha’, viverá com alegria e terá garantia de fidelidade e amor verdadeiro. A essa
altura, alguém perguntará: “Mas, será que tudo isso não é pura fantasia, bem
diferente da realidade que a gente vê, hoje em dia”? Encontro a resposta na
vida de casais que, inspirados e sustentados pela fé, de forma simples e também
com algumas deficiências, dão o belo testemunho de que, com a Graça de Deus,
isso é possível.
A
celebração litúrgica diz que essa mensagem é “Palavra do Senhor” e, portanto, projeto
de Deus sobre quem ‘casa no Senhor’. Numa das orações da celebração do
Matrimônio, pede-se a Deus que conceda ao casal “crescer na caridade e ser um
sinal do mesmo amor do Senhor”.
Dom
Armando