LEITURAS:
Gn 2, 18-24
Salmo 127,1-2.3.4-5.6
Hb 2,9-11
Mc 10,2-16
CRIADOS PARA
AMAR E UNIR, E NÃO PARA SEPARAR
A liturgia deste fim de semana nos
convida a uma reflexão sobre a família e, mais especificamente, sobre o
matrimônio, esta instituição fundada por Deus e não pelos homens. Isto posto,
nos faz entender com clareza que o matrimônio e a família são de natureza
divina e não de natureza humana.
A fundamentação sobre o matrimônio e a
família nos é mostrada já no primeiro livro da bíblia, o Gênesis. Neste
domingo, a primeira leitura do Gênesis nos conta a narrativa da criação da
mulher. O autor bíblico, inspirado por Deus, com um toque bastante poético e
belo fala da carência do homem e da sua necessidade em ter uma companhia. A
narrativa começa dizendo que o próprio Deus reconhece que não é boa a solidão
do homem. O mesmo autor diz que o próprio Deus se incumbe de tomar as
providências para fazer uma companheira e auxiliar para o homem para que ele
tenha uma esposa e, consequente, uma família.
É bonito notar que o mesmo texto fala da
“especialidade” e da grandeza da mulher. Deus fez todos os animais do barro,
inclusive o homem. A mulher não foi feita diretamente do barro, mas da carne e
dos ossos do homem. Este é um gênero literário que quer mostrar a natureza
sensível da mulher. Significa que ela requer proteção e zelo. Outra beleza aqui
nesta narrativa é que a mulher foi feita
da “costela”. Não foi feita de nenhuma outra parte do corpo, nem da cabeça nem
dos pés. Este gênero literário mostra que ela é especial para estar ao lado e
ser companheira. Não foi feita dos pés para ser dominada nem foi feita da
cabeça para dominar, mas da costela para caminhar junto. A leitura conclui
dizendo que o “o homem deixa pai e mãe para se unir a uma mulher e ser com ela
uma só carne”.
O Evangelho deste domingo, seguindo a
mesma linha de reflexão apresenta uma episódio de questionamento feito pelos
fariseus a Jesus. Para testar Jesus eles lhe fazem uma pergunta embaraçosa. Da
pergunta feita, Jesus responde fazendo outra pergunta, também para testar o
conhecimento e entendimento dos fariseus. Obviamente desde o tempo da criação
até nossos dias a humanidade é marcada pelo pecado da dominação dos mais fortes
sobre os mais fracos. A mulher sendo um ser mais frágil, de alguns pontos de
vista, sempre não foi compreendida na sua grandeza e no seu valor e foi
dominada e desvalorizada. Como acontece nos dias atuais, também a mulher era
objeto de descarte na mão dos homens. Diante da pretensão de relativização que
queriam os fariseus a respeito da relação conjugal, Jesus responde que o
divórcio permitido por Moisés era por causa da dureza do coração dos homens.
Jesus relembra, entretanto, que desde o início não foi assim. Com isto Jesus
retira a legitimidade do divórcio pretendida pelos fariseus.
Diante da pergunta maldosa dos fariseus Jesus
termina por ser enfático e categórico com os mesmos por notar a maldade que
havia por trás daquela questão. Jesus confirma a simbiose carnal dita no
Gênesis e acrescenta dizendo que a união que Deus realiza o homem não tem
autoridade moral para desfazê-la. Em casa ele ainda tira dúvidas dos discípulos
sobre o mesmo assunto e enfatiza que cometer adultério é desobedecer essa
determinação de Deus. Para Jesus se um homem separar-se de uma mulher e casar
com outra comete um adultério e vice-versa. Por trás de toda essa história está
a tentativa de fazer tornar-se relativo um valor que tem um caráter fundamental
que é o amor, a união conjugal e o respeito pelo outro. Além disso, Jesus tem
consciência que o casal tem um papel fundamental no mundo. São co-criadores com
Deus. A vida humana origina do encontro amoroso entre um homem e uma mulher e
nós, enquanto sociedade, não podemos relativizar isto. O “procriar é uma
cooperação do homem à criação de Deus. Entende-se aqui porque Jesus tenta
salvaguardar a instituição da união conjugal.
Esta realidade nos toca profundamente
nos dias atuais. Relativizar as uniões tornou-se um mal que afeta e tem
destruído inúmeras famílias no mundo e, de modo especial, no nosso mundo
ocidental. Aqui no Brasil a coisa é alarmante. Este evangelho nos fala muito e
precisamos falar muito dele. Quem é cristão, e mesmo quem não seja, deve ouvir
a voz da verdade que brota no íntimo do nosso coração e consciência e se
convencer que as pessoas, a pureza, a fidelidade e os sentimentos são sagrados,
e que não temos o direito de destruir isso na nossa vida humana. A separação e
o divórcio deixam muitas feridas e destruição na vida de todo casal que se
rompe. Ademais, despedaça enormemente os
filhos em sua estrutura de pessoa e fere também todos os familiares em volta,
porque quando se casa, não se casa somente com a mulher ou com o homem, mas se
casa com a família e os amigos dos dois.
Ao final do evangelho Jesus abraça as
crianças que eram repreendidas pelos seus discípulos e as coloca como modelo
para quem deseja entrar no reino de Deus. Perder a pureza é perder a
possibilidade de entrar no Reino. Resgatemos, portanto, em nós a pureza das
crianças que tem muito a nos ensinar sobre a vida, o amor verdadeiro e o Reino
do Senhor.
Pe. Nicivaldo
Pároco de Ibitiara