3° DOMINGO DO TEMPO DA QUARESMA

LEITURAS:
Gn 15,5-12.17-18
Sl 26/27
Fl 3,17-4,1
Lc 9,28-36

A liturgia deste terceiro Domingo da Quaresma faz um forte apelo à conversão. Essa se concretiza num longo processo de renovação, em que devemos nos desfazer de uma porção de coisas para tornar possível em nós a libertação. Tiremos as sandálias cômodas que calçamos, para nos confiar inteiramente ao Senhor e ter um contato direto, sem receios, com Ele.
            A 1ª leitura narra a conversão de Moisés. Inicialmente, Deus se manifesta na sarça ardente e manda tirar as sandálias. Deve pisar o pó de onde veio. Sua grandeza vem de Deus e não de si mesmo. Depois, confia a Moisés a missão de libertar o seu povo. Com a libertação do povo, começa a longa marcha dos hebreus pelo deserto. Esse deserto foi sua quaresma, onde Deus purificou o seu povo dos costumes pagãos e o conduziu a uma religião de aliança, de compromisso. Este caminhar do povo é, portanto, símbolo do caminho de conversão, que o cristão é chamado a realizar, de modo especial na quaresma. O Deus que liberta e permanece fiel nos impulsiona a uma luta permanente contra tudo o que nos escraviza e impede a manifestação da vida plena.
            Na 2ª leitura, Paulo recorda os fatos extraordinários realizados por Deus em favor de seu povo e faz uma advertência contra a falsa segurança religiosa deles: Todos comeram o mesmo alimento espiritual (o maná) e todos beberam a mesma bebida espiritual (a água do rochedo), mas a maioria deles não agradou a Deus, pois caíram mortos no deserto. (vs 3-5) O apóstolo alerta os cristãos para não cair no mesmo perigo. A verdadeira vivência cristã não é apenas a participação regular nos sacramentos, mas uma vida de comunhão com Deus, que se transforma em gestos de amor e partilha com os irmãos. Não somos melhores que nossos pais, nem biológicos nem os da fé; estamos suscetíveis aos mesmos erros ou até piores, por isso: atenção redobrada, e cuidado com os julgamentos!
            No Evangelho, Jesus percorre essa mesma lógica. O texto trata de dois acontecimentos trágicos: a matança de Pilatos e a queda da torre de Siloé: 18 mortos. Jesus não concorda que a desgraça é sinal de castigo de Deus, mas um apelo de conversão aos sobreviventes: Vocês pensam que eles eram mais pecadores do que vocês? Se não se converterem, morrerão do mesmo modo (vs. 2-5). Assim, rejeitar a ação salvadora de Deus oferecida em Jesus é pior do que um desastre.
            Com a parábola da figueira estéril, Jesus ilustra a resistência de Israel à conversão e à bondade e paciência de Deus, disposto a esperar, mas não indefinidamente: “Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos”. (vs. 8-9). O servo da fala é Jesus, Ele pede uma nova chance para seu povo. Nós, os agraciados por este ato misericordioso, devemos corresponder à altura do Amor de Deus, indo além do simples arrependimento para voltarmo-nos para Ele de todo o coração, e assim Deus e seus valores passem a ocupar o primeiro lugar em nossas vidas.
            Não sejamos como a figueira, nem como o povo do deserto que, diante da graça de Deus, não correspondeu. Recebemos a fé, a educação religiosa dos pais e da comunidade; temos muitos talentos e podemos, a partir de nossa família, ser fermento no meio de outras famílias. Muitos de nós somos privilegiados com encontros, celebrações, missas, cursos. E qual a nossa resposta? Quais os nossos frutos? Será que somos figueiras estéreis, tomando o lugar de outras?
            Sejamos como Moisés. Quais são as sandálias que devemos tirar dos pés, para pisar o chão de Deus? Sejamos como Paulo; olhemos para a história, para não cometer os mesmos erros. Olhemos para Jesus, vencedor de toda a tentação (1º domingo), que nos acompanha com sua graça e exemplo.
Adriano Bonfim Pereira
3ºano de teologia