Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil–CNBB, reunidos em Brasília-DF, nos dias 8 a 10 de março de 2016,
manifestamos preocupações diante do grave momento pelo qual passa o país e, por
isso, queremos dizer uma palavra de discernimento. Como afirma o Papa
Francisco, “ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião a uma
intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e
nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil,
sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (EG,
183).
Vivemos uma profunda crise política, econômica e institucional que tem
como pano de fundo a ausência de referenciais éticos e morais, pilares para a
vida e organização de toda a sociedade. A busca de respostas pede
discernimento, com serenidade e responsabilidade. Importante se faz reafirmar
que qualquer solução que atenda à lógica do mercado e aos interesses
partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres,
nega a ética e se desvia do caminho da justiça.
A superação da crise passa pela recusa sistemática de toda e qualquer
corrupção, pelo incremento do desenvolvimento sustentável e pelo diálogo que
resulte num compromisso entre os responsáveis pela administração dos poderes do
Estado e a sociedade. É inadmissível alimentar a crise econômica com a atual
crise política. O Congresso Nacional e os partidos políticos têm o dever ético
de favorecer e fortificar a governabilidade.
As suspeitas de corrupção devem ser rigorosamente apuradas e julgadas
pelas instâncias competentes. Isso garante a transparência e retoma o clima de
credibilidade nacional. Reconhecemos a importância das investigações e seus
desdobramentos. Também as instituições formadoras de opinião da sociedade têm
papel importante na retomada do desenvolvimento, da justiça e da paz social.
O momento atual não é de acirrar ânimos. A situação exige o exercício do
diálogo à exaustão. As manifestações populares são um direito democrático que deve
ser assegurado a todos pelo Estado. Devem ser pacíficas, com o respeito às
pessoas e instituições. É fundamental garantir o Estado democrático de direito.
Conclamamos a todos que zelem pela paz em suas atividades e em seus
pronunciamentos. Cada pessoa é convocada a buscar soluções para as dificuldades
que enfrentamos. Somos chamados ao diálogo para construir um país justo e
fraterno.
Inspirem-nos, nesta hora, as palavras do Apóstolo Paulo: “trabalhai no
vosso aperfeiçoamento, encorajai-vos, tende o mesmo sentir e pensar, vivei em
paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco” (2 Cor 13,11).
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, continue intercedendo pela
nossa nação!
Brasília, 10 de março de 2016.
Dom Sergio da Rocha
Dom Murilo S. R. Krieger
Arcebispo de Brasília-DF
Arcebispo de S.
Salvador da Bahia-BA
Presidente da CNBB
Vice-Presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich
Steiner
Bispo Auxiliar de
Brasília-DF
Secretário-Geral
da CNBB