Leituras:
At 2,1-11
Sl 103, 1ab.24ac.29bc-30 31.34
(R.30)
1Cor 12,3b-7.12-13
Jo 20,19-23
Todos ficaram cheios do
Espírito
Santo e começaram a falar.
No 50º dia depois da Páscoa, os
judeus comemoravam a Aliança que Deus fizera com Israel no Monte Sinai. Por essa
ocasião, e por ser perto da Páscoa, judeus de todo o mundo se reuniam em
Jerusalém, levando amigos pagãos, simpatizantes da religião judaica. E cada um
falava a língua do país onde morava. Depois de sua Ascensão, Jesus mandara que
os discípulos ficassem em Jerusalém (Lc 24,49) para receberem aquele que Seu
Pai prometeu. E assim, 50 dias depois da sua Páscoa a Promessa de Jesus se
cumpre: o Espírito Santo se manifestou aos apóstolos reunidos no Cenáculo em
forma de línguas de fogo. Todos começaram a falar línguas diferentes conforme o
Espírito inspirava. Ora, para os judeus esta festa lembrava a entrega da Lei no
Monte Sinai. E, para os cristãos, essa festa é o dom do Espírito Santo por Deus.
Isso quer dizer que os cristãos não estão mais sob a Lei de Moisés, mas sob a
ação do Espírito Santo na Igreja.
O Salmo 103, o canto que agradece a Deus
a criação de todos os seres da terra, é entendido aqui como o poder divino de
conservação da vida criada por Deus. Se pensarmos na Igreja composta por
pessoas que receberam o Espírito Santo no Batismo, entendemos que a Igreja
continua viva pela ação do mesmo Espírito Santo.
Na segunda leitura, São Paulo fala dos
dons do Espírito Santo aos cristãos de Corinto. Porém, São Paulo ensina que não
é só o Espírito Santo que age em nós e sim toda a Santíssima Trindade.
Ele diz que há diversidades de dons na comunidade, mas o Espírito é o mesmo. E
o Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Há diversidade de trabalhos pela comunidade,
mas o Senhor é o mesmo. E o Senhor é a Segunda Pessoa da Santíssima
Trindade. Há diversidade de atividades na
Igreja, mas para todos há um só Deus. E o Deus único é Deus Pai, a Primeira
Pessoa da Santíssima Trindade. São Paulo nos está dizendo que a Santíssima
Trindade toda está agindo na Igreja. Em outras palavras: sem a Santíssima
Trindade a Igreja não existiria! Mas, em particular, é do Espírito Santo que a
Igreja recebe diferentes dons. Todos esses
dons individuais servem ao bem comum de toda a comunidade. Por fim, São Paulo
lembra como essa união dos cristãos em sua diversidade de raças, línguas,
condição social etc. é efeito do Espírito Santo. Disso, nasce uma unidade
espiritual que São Paulo chama de Corpo, o de Cristo, que é a Igreja, do qual
Cristo é a Cabeça. Por isso, neste dia de Pentecostes, voltamo-nos para a ação
do Espírito Santo na Igreja: em seus dons, seus frutos, sua obra unificadora
dos cristãos no amor fraterno.
Em Jo 20,19-23, há o relato da entrega
do Espírito Santo aos apóstolos de outro modo. Agora é Jesus pessoalmente quem
dá o Espírito Santo aos discípulos reunidos no Cenáculo. E não foi em
Pentecostes, foi no próprio dia de Sua Ressurreição. Como entender essa
discordância entre esse Evangelho de João e o relato de Pentecostes em At
2,1-11? A resposta está na distinção das duas teologias: a de São Lucas, nos
Atos, concentra-se no dia de Pentecostes para acentuar a substituição da Lei de
Moisés pelo dom do Espírito Santo à Igreja; a de São João, em seu Evangelho,
acentua a Vida Nova que está em Jesus Ressuscitado e que é o Poder do Espírito
Santo. Jesus não conserva só para Si essa Vida Nova, mas passa-a para os
discípulos.
O dom do Espírito Santo por Jesus tem
algo mais: os apóstolos recebem junto o poder de perdoar ou não os pecados. Isto
porque que os apóstolos vão batizar os convertidos do pecado para a Vida Nova,
dada pela água do Batismo, no qual o Espírito Santo age vivificando quem estava
morto pelo pecado. Em relação a nós, batizados em nome de toda a Santíssima Trindade,
sabemos que o Espírito Santo nos foi dado no Batismo, sacramento em que fomos perdoados de todo pecado, em que renascemos para a
Vida Nova do Cristo Ressuscitado, em que nos tornamos filhos de Deus e, ao
mesmo tempo, nos tornamos membros do Corpo de Cristo, sua Igreja. Tudo isso é o
que nos relembra a festa de Pentecostes.
Adriano Bonfim
3º ano de Teologia