2 Sm 12,7-10.13
Sl 31 (32)
Gal 2, 16.19-21
Lc 7,36-8,3.
A liturgia deste domingo apresenta-nos um Deus de bondade e de misericórdia, que detesta o pecado, mas ama o pecador; por isso, Ele multiplica “a fundo perdido” a oferta da salvação. Da descoberta de um Deus assim, brota o amor e a vontade de vivermos uma vida nova, integrados na sua família.
Focando
nossa atenção no trecho do santo Evangelho escolhido para hoje, temos diante
dos nossos olhos a figura de uma “mulher da cidade que era pecadora” e que vem
chorar aos pés de Jesus. Lucas dá a entender que o amor da mulher resulta de
haver experimentado a misericórdia de Deus. O dom gratuito do perdão gera amor
e vida nova. E Deus age assim.
O
cenário é a casa de um fariseu chamado Simão, onde há um banquete, (o
“banquete” é, neste contexto, o espaço da familiaridade, da irmandade, onde os
laços entre as pessoas se estabelecem e se consolidam). A perspectiva
fundamental deste episódio tem a ver com a definição da atitude de Jesus (e,
portanto, de Deus) para com os pecadores. A personagem central é a “mulher
pecadora”.
A
ação da mulher (o choro, as lágrimas derramadas sobre os pés de Jesus, o
enxugar os pés com os cabelos, o beijar os pés e ungi-los com perfume) é
descrita como uma resposta de gratidão, como consequência do perdão recebido
(vers. 47). A parábola que Jesus conta, a este propósito (vers. 41-42), parece
significar, não que o perdão resulta do muito amor manifestado pela mulher, mas
que o muito amor da mulher é o resultado da atitude de misericórdia de Jesus: o
amor manifestado pela mulher nasce de um coração agradecido de alguém que não
se sentiu excluído nem marginalizado, mas que, nos gestos de Jesus, tomou
consciência da bondade e da misericórdia de Deus.
A
outra figura em destaque é Simão, o fariseu. Ele representa aqueles zelosos
defensores da Lei que evitavam qualquer contato com os pecadores e que achavam
que o próprio Deus não podia acolher nem deixar-se tocar pelos transgressores
notórios da Lei e da moral. Jesus procura fazê-lo entender que só a lógica de
Deus – uma lógica de amor e de misericórdia – pode gerar o amor e, portanto, a
conversão e a vida nova. Jesus empenha-se em mostrar a Simão que não é
marginalizando e segregando que se pode obter uma nova atitude do pecador; mas
que é amando e acolhendo que se pode transformar os corações e despertar neles
a maravilha de amar e ser amado: essa é a perspectiva de Deus. O perdão não se
dá a troco de amor, mas dá-se, simplesmente, para que o amado seja feliz, sem
esperar nada em troca.
O
texto que nos é proposto termina com uma referência ao grupo que acompanha
Jesus: os Doze e algumas mulheres. O facto de o “mestre” se fazer acompanhar
por mulheres era algo incomum, numa sociedade em que a mulher desempenhava um
papel social e religioso marginal. No entanto, manifesta a lógica de Deus que
não exclui ninguém, mas integra todos – sem exceção – na comunidade do Reino.
Vejamos:
Em primeiro lugar, o evangelho de hoje põe em relevo a atitude de Deus, que ama
sempre (mesmo antes da conversão e do arrependimento) e que não Se sente
profanado por ser tocado pelos pecadores e pelos marginais. É o Deus da bondade
e da misericórdia, que ama todos como filhos e que a todos convida a integrar a
sua família.
É
nesse Deus que somos convidados a crer e é esse Deus que devemos apresentar aos
nossos irmãos, de forma especial àqueles que a sociedade trata como marginais.
É possível que nenhum de nós se identifique totalmente com a figura de Simão;
mas, não teremos, de quando em quando, “tiques” de orgulho e de
autossuficiência que nos levam a considerar-nos mais ou menos “perfeitos” e a
desprezar aqueles que nos parecem pecadores, imperfeitos e marginais?
Fiquemos
atentos, irmãos e irmãs. A exclusão e a marginalização não geram vida nova; só
o amor e a misericórdia interpelam o coração e provocam uma resposta de amor.
Alinhados
ao pensar e agir de Jesus, sejamos pessoas corajosas em nossa casa, comunidade
ou em qualquer lugar que estejamos, porque assim agindo seremos verdadeiros
cristãos e, no mundo, braços estendidos de um Deus que ama sem limites.
Antônio Carlos