Na
celebração da santa missa ou do culto, chega o momento em que os fiéis são
convidados para apresentar ao altar, junto com o pão e o vinho, uma oferta, de
costume, em dinheiro. A Instrução Geral do Missal Romano (n. 73) escreve: “É
louvável que os fiéis apresentem o pão e o vinho que o sacerdote ou o diácono
recebem em lugar adequado para serem levados ao altar. (...) Também são
recebidos o dinheiro ou outros donativos oferecidos pelos fiéis para os pobres
ou para a igreja, ou recolhidos no recinto dela”.
O
simbolismo da ‘procissão dos dons’ é duplo: a participação na Eucaristia e o
desejo de partilhar algo com os pobres e necessitados. A celebração da
Eucaristia, desde o início, mantém a característica de partilha por amor. São
Paulo, no contexto da coleta feita entre as igrejas da
Grécia para ajudar a igreja mãe de Jerusalém, escreve: “Que cada um dê conforme
tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria (2 Cor
9,7).
O
costume de doar, no contexto da liturgia, vem de uma longa história do povo de
Israel. Em Deuteronômio (26, 2-4) se lê: “Tomarás os primeiros frutos de tudo o
que a terra produz, colhidos da terra que o Senhor teu Deus te dá e, pondo-os
numa cesta, irás ao lugar que o Senhor teu Deus tiver escolhido para nele fazer
morar seu nome. Irás apresentar-te ao sacerdote em exercício e lhe dirás:
‘Reconheço hoje diante do Senhor meu Deus que entrei na terra que o Senhor
jurou a nossos pais que nos daria’. O sacerdote receberá de tua mão a cesta e a
colocará diante do altar do Senhor teu Deus”. Os hebreus deviam também colocar
o dízimo de todos os produtos “à disposição do levita, do estrangeiro, do órfão
e da viúva, para que comam a saciedade nas tuas cidades” (Dt 26,12). Em nossa
Eucaristia, esse gesto destaca a unidade que existe com a caridade fraterna, entre
o sacramento do altar e o sacramento do irmão.
A
partir do século 7º, a atitude de oferecer alimentos, aos poucos, foi substituída
pela doação em dinheiro, mas mantendo o mesmo sentido de partilha e ajuda
fraterna. A Oração Eucarística IV recorda esse hábito, quando reza pelos fiéis
“que, em torno deste altar, vos oferecem este sacrifício”. Doando sua oferta, o
fiel que participa da Ceia do Senhor oferece “o fruto da terra e do trabalho
humano” que vai se tornar “pão da vida”, e o vinho, “fruto da videira e do
trabalho humano”, que vai se tornar “vinho da salvação”.
Os
escritores dos primeiros séculos observavam que os grãos do trigo e da uva
representam os batizados: como os primeiros, triturados, formam uma só substância,
do mesmo modo, os batizados constituem um só corpo, a Igreja. No momento em que
o presidente da celebração apresenta ao Pai o pão e o vinho, ele apresenta
também todas as pessoas que, com gesto simbólico, ofereceram si mesmas, através
da oferenda dos dons. No gesto de doar a moedinha no cesto, tenhamos o mesmo
espírito da viúva que Jesus apontou como exemplo aos seus discípulos: “ela, em
sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver” (Mc 12,44). A intensidade do
amor dá sentido e valor à nossa oferta, por pequena que seja.
Dom
Armando