SINAIS E SÍMBOLOS. 12. RITOS E RITUAIS (I)

Hoje, vamos refletir sobre ‘ritos e rituais’. O que é um rito? Responde o autor de O Pequeno Príncipe, livro sempre atual e bonito, no diálogo entre a raposa e o pequeno príncipe. É preciso usar ritos, diz a raposa. ‘Mas, o que é um rito’, pergunta o pequeno príncipe. Então, a raposa explica: “O rito é assim: ‘se você, por exemplo, vem ao meu encontro sempre, às quatro da tarde, antes, desde cedo, eu começo me preparar, e meu coração fica palpitando, esperando por você, até chegar a hora do nosso encontro, e fico em ânsia pela sua chegada”.
Na vida, nós vivemos seguindo muitos ritos, precisamos de ritos, quando encontramos um amigo, ou preparamos uma festa ou nos despedimos de um ente querido que foi embora deste mundo.
O rito é uma ação programada. A palavra vem de uma raiz indo - europeia, R’tam, que significa ordem (da mesma provêm: arte, arit­mética, ritmo). “O rito visa intencionalmente para um efeito” (A. Vergote); dá segurança, protege contra o imprevisto. Ainda, é ação repetitiva. Age no inconsciente humano. O antropólogo Levi-Strauss escreve que os ritos consti­tuem “o meio para tornar perceptíveis de imediato certo número de valores que tocariam menos diretamente a alma se a gente se esforçasse por fazê-los penetrar com meios unicamente racionais”.
Num rito, precisamos sentir, tocar, compreender, ver e ser totalmente voltados para o oculto, isto é, para aquilo que nos supera e guarda em si uma força de mistério: o sentido da vida e do destino humano, o divino, a sociedade, os outros, Deus. O rito expressa a busca constante de um en­contro com algo, ou Alguém que está sempre além, que continua escapando de nossas mãos e que nunca conseguimos al­cançar, porque é algo diferente do nosso ‘eu’.
Portanto, podemos dizer que os ritos são gestos e palavras que exprimem e configuram uma ação sagrada ou socialmente significativa, que visa a facilitar a comunicação e a integração entre as pessoas e com a divindade. O rito é ação repetitiva, de caráter individual ou social, que segue algumas regras; ele contém um sentido interior dado ou aceito por quem o expressa, indivíduo ou grupo.
Apesar do progresso científico, o ser humano continua sendo um mistério a si mesmo, e poucos fenômenos conseguem nos revelar a nós mesmos como o símbolo e o rito, a religião e a arte. Estes ‘caminhos’ conduzem para um ‘além’, do qual, talvez, conheçamos o começo, mas não o término. Por exemplo, o símbolo de uma flor: sabemos onde começa, mas não onde termina seu efeito!
O mistério do rito, com a repetição dos gestos, compromete o futuro de uma histó­ria desconhecida: ex. no batismo e no casamento! O mistério da arte: com poucas coisas, abre para o inesgotável da contemplação e da emoção; ex. uma pintura, uma música. O mistério da religião: reúne pessoas diferentes e as conduz rumo ao mistério do infi­nito de Deus!
Rito e símbolo pertencem ao não-produtivo, à gratui­dade do coração e do espírito, ao inútil da vida humana. Colocam-se na dimensão do ser e não do ter ou do ‘produzir’! Dessa forma, a pessoa, através do símbolo e do rito, manifesta um novo modo de ser, em uma outra dimensão. A gratuidade é criadora! Escutar uma música, contemplar uma obra de arte ou uma paisagem, ler ou es­crever uma poesia, cultivar flores ou dar um presente, como o ‘perder tempo’ para cele­brar... é algo que parece ‘tempo perdido’, numa sociedade que exalta o produzir. Mas, realmente, todo esse mundo do ‘gratuito’ faz crescer na dimensão profunda do próprio ser, onde a pessoa se encontra consigo mesma e se torna mais humana.

Dom Armando