SINAIS E SÍMBOLOS. 13. RITOS E RITUAIS (II)

Continuamos nossa reflexão sobre ritos e rituais. Na história das religiões, observamos que os ritos têm ligação com os ritmos da natureza, com a mudança das estações, as colheitas, a lua, o sol, a chuva etc. Assim, acontecia com o povo hebreu como entre os Incas, os Maias, os Índios. O ‘mito’ narra a história que dá fundamento e sentido ao ‘rito’ e às suas expressões rituais e festivas.
O rito pretende imitar a atividade divina, de forma simbólica, por meio de gestos e palavras que têm sua origem, razão e fundamento em algo que aconteceu ‘no princípio’, que pertence à história da divindade cultuada e que o rito relembra e atualiza. Por isso, deve ser repetido.
Cada rito, normalmente, tem regras que visam a manter e reproduzir com exatidão os gestos e atos divinos, assim como narrados por livros ou pessoas que recordam a história da origem. Desse modo, garante-se a eficácia do rito mesmo. Com o passar do tempo, o rito pode receber mudanças para se tornar mais compreensível e eficaz, mas sempre dentro dessa busca de fidelidade com sua origem. Mudar as regras pode ser causa de conflitos, pelo fato de que os ritos mexem com o simbólico e o inconsciente das pessoas. Por isso, as pessoas agem e reagem no nível mais profundo de seu ser, onde moram o sentimento e as emoções; portanto, as explicações racionais são insuficientes para dar razão das reações que se encontram no emocional.
Ritos existem em todas as manifestações sociais e não somente no espaço explícito do religioso. O jogo de futebol como as olimpíadas, a festa de casamento na roça ou na cidade, a celebração dos 15 anos ou a morte têm ritos próprios. Cada grupo social aceita, vive e expressa, de forma repetitiva e fiel ao ritual preestabelecido, os ritos que foram transmitidos de geração em geração. Assim, as pessoas dão sentido à vida, facilitam a comunicação, expressam sentimentos, amenizam a dor, encontram paz interior e recebem ajuda nos momentos de ‘passagem’. Desse modo, os eventos celebrados adquirem sentido e beleza e ficam repletos de sagrado.
“Ao longo da história, a palavra ‘rito / ritos’ tornou-se sinônimo de ‘liturgia’. Com efeito, a liturgia tem muito de ritualidade, com linguagem de gestos e ações muito em consonância com o sistema cultural de um povo, e que nos ajudam a exprimir o que sentimos e celebramos” (J. Aldazábal). Hoje, para evitar uma compreensão do rito como algo puramente exterior ou cerimonial, prefere-se usar as palavras ‘celebração’ ou ‘ação litúrgica’, como indicou o documento do Concílio Sacrosanctum Concilium (SC 7.26.112).
Os termos ‘ritos’ ou ‘famílias litúrgicas’ significam também o conjunto de ritos, textos, leituras, calendários que compõem as expressões litúrgicas de uma determinada igreja. Temos, assim, os ritos romano, bizantino, ambrosiano, hispânico etc.
O conjunto de orações, leituras, gestos e cerimônias para uma celebração recebe o nome de Ritual. Assim, na Igreja católica, temos vários rituais: para a celebração de Batismo de crianças, para a Iniciação cristã de adultos, para a celebração da Crisma ou Confirmação, do Matrimônio, da Unção dos Enfermos, da Penitência, da Dedicação de uma Igreja e do Altar, da Profissão Religiosa, das Exéquias e, de maneira especial, da Santa Missa, o Missal. No passado, esse livro do altar, era chamado de Sacramentário (nas liturgias orientais, tinha o nome de Eucológico). Alguns dos Sacramentários mais famosos da antiguidade têm estes nomes: Leoniano ou Veronense, Gregoriano, Gelasiano (dos séculos 6º - 9º) etc.
Recordo, enfim, que, além dos Rituais gerais da Igreja, existem Rituais próprios de famílias religiosas, de dioceses ou regiões.
Dom Armando