8. GESTOS E PALAVRAS NA LITURGIA

EXPLICANDO ALGUMAs PALAVRAS (II)
Estamos conversando a respeito de algumas palavras, de não imediata compreensão, usadas na liturgia. Depois da palavra epiclese (invocação ao divino Espírito), outra que retorna é doxologia, quer dizer ‘palavra de glória’ (do grego, logia e doxa).
No Novo Testamento, expressões de louvor se encontram, sobretudo, nas cartas de Paulo. Por exemplo, em Romanos (11,36): “Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos! Amém”; ainda: “A Deus, o único sábio, por meio de Jesus Cristo, seja dada a glória, pelos séculos dos séculos” (Rm 16,27).
Na Missa, a mais importante é a doxologia que conclui a Oração eucarística: “Por Cristo, com Cristo, em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a honra e toda a glória, agora e para sempre”. O povo responde com o Amém, o mais importante da celebração, com que expressa sua fé em tudo o que o Presidente da celebração afirmou. Uma solene doxologia é, também, o hino de louvor: “Glória a Deus nas alturas...”; ainda, as palavras “Vosso é o Reino, o poder e a glória” que, na atual liturgia, encontram-se em conclusão da oração (chamada de embolismo) que segue ao Pai-nosso; essa doxologia, provavelmente, pertencia à Oração do Senhor, como documenta o antigo livrinho, a Didaqué (8,2).
Na Liturgia das Horas, os hinos se concluem, de costume, com uma estrofe de louvor, “dirigida à própria Pessoa divina a quem se dirige o hino” (IGLH 174), uma verdadeira doxologia. Ainda, na tradição cristã, os Salmos terminam com as palavras: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, que “vem dar à oração do Antigo Testamento um sentido laudativo, cristológico e trinitário” (IGLH 123); essa oração é uma das mais repetidas pelo povo cristão, uma pequena e densa doxologia.
Podemos concluir, afirmando que a doxologia expressa a finalidade da liturgia e da vida humana. Eis porque o amém que pronunciamos manifesta toda a nossa adesão ao projeto de Deus na e com a nossa vida.
Chamei de embolismo a oração que segue ao Pai-nosso. A palavra significa ‘acréscimo’, ‘o ato de introduzir algo’. Na liturgia, refere-se a algo que se acrescenta como é, de fato, o “Livrai-nos de todos os males, ó Pai”, que segue ao Pai-nosso; “desenvolvendo o último pedido do Pai-nosso, o embolismo suplica que toda a comunidade dos fiéis seja libertada do poder do mal” (IGMR 81).
Ainda, um breve comentário a respeito do termo, mais comum, elevação. Refiro-me, de maneira mais direta, à elevação do Pão e do Vinho. Na missa, há três elevações:
- na apresentação das oferendas, o sacerdote toma o pão e, em seguida, o vinho, eleva-os ‘um pouco do altar’ e os apresenta ao povo, dizendo as palavras “Bendito sejais Senhor, Deus do universo”;
- o mesmo acontece depois da Consagração do pão e do vinho, ‘elevados um pouco’ e oferecidos à adoração dos fiéis;
- enfim, na doxologia que conclui a Oração Eucarística: o pão e vinho são elevados mais em alto, num gesto expressivo de apresentar a Deus ‘toda honra e glória’. Observo que o Pão não é ‘mostrado’ ao povo, mas é apresentado a Deus; por isso, se apresenta ao Pai o Pão consagrado, dentro da âmbula ou da patena. Assim, nossa vida toda se torne um perene louvor ao Pai, por meio do Filho, no Espírito Santo.
Dom Armando