Ez 34,11-12.15-17
Sl 22(23)
1Cor 15,20-26.28
Mt 25,31-46
O
DECISIVO
O
relato não é propriamente uma parábola, mas uma evocação do juízo final de
todos os povos. Toda a cena se concentra num diálogo longo entre o juiz, que
não é outro que Jesus ressuscitado, e dois grupos de pessoas: os que aliviaram
o sofrimento dos mais necessitados e os que viveram negando-lhes a sua ajuda.
Ao
longo dos séculos, os cristãos viram neste diálogo fascinante “a melhor
recapitulação do Evangelho”, “o elogio absoluto do amor solidário” ou “a
advertência mais grave a quem vive refugiado falsamente na religião”. Vamos
assinalar as afirmações básicas.
Todos
os homens e mulheres, sem exceção, serão julgados pelo mesmo critério. O que dá
um valor imperecível à vida não é a condição social, o talento pessoal ou o
êxito realizado ao longo dos anos. O decisivo é o amor prático e solidário aos
necessitados de ajuda.
Este
amor traduz-se em atos muito concretos. Por exemplo, “dar de comer”, “dar de
beber”, “acolher o imigrante”, “vestir os nus”, “visitar os doentes ou os
presos”. O decisivo ante Deus não são as ações religiosas, mas estes gestos
humanos de ajuda aos necessitados. Podem brotar de uma pessoa crente ou do
coração de um agnóstico que pensa nos que sofrem.
O
grupo dos que ajudaram os necessitados que foram encontrando no seu caminho não
fez isso por motivos religiosos. Não pensou em Deus nem em Jesus Cristo.
Simplesmente procurou aliviar um pouco o sofrimento que há no mundo. Agora,
convidados por Jesus, entram no reino de Deus como “benditos do Pai”.
Porque
é tão decisivo ajudar os necessitados e tão condenável negar-lhes a ajuda?
Porque, segundo revela o juiz, o que se faz ou se deixa de fazer a eles está-se
a fazer ao mesmo Deus encarnado em Cristo. Quando abandonamos um necessitado
estamos a abandonar Deus. Quando aliviamos o seu sofrimento estamos a fazer com
Deus.
Esta
surpreendente mensagem coloca todos olhando para os que sofrem. Não há religião
verdadeira, não há política progressista, não há proclamação responsável dos
direitos humanos se não se realiza a defesa dos mais necessitados, aliviando o
seu sofrimento e restaurando a sua dignidade.
Em
cada pessoa que sofre, Jesus sai ao nosso encontro, olha-nos, interroga-nos e
interpela-nos. Nada nos aproxima mais Dele que aprender a olhar demoradamente o
rosto dos que sofrem com compaixão. Em nenhum lugar poderemos reconhecer com
mais verdade o rosto de Jesus.
José Antonio
Pagola
Créditos: http://iglesiadesopelana3m.blogspot.com.br