23º Domingo do Tempo Comum – Ano B

“Abre-te” (Mc 7,34)

Leituras:
Is 35,4-7a
Sl 145, ,7.8-9a.9bc-10 (R.1.2a)
Tg 2,1-5
Mc 7,31-37
            O processo de adesão a Jesus de Nazaré exige abertura para acolher a Palavra de Deus, para deixar-se ser modelado por ela e para romper os esquemas de comodismo, a fim de uma vida configurada ao Senhor, que se faz dom para servir. É discípulo de Jesus quem realiza um processo de sincera conversão e abandona o fechamento. Ter abertura para testemunho a fé éviver o Batismo, que nos fez participantes da vida de Jesus.
            Tantas vezes afirmamos em nossas celebrações que o Senhor “está no meio de nós”. Mas será que nossa mente está aberta e de acordo com o que pronuncia nossaboca? Nossa presença na comunidade eclesial, na família e na sociedade confirma que realmente nos abrimos para acolher, amar e seguir Jesus Cristo?Embora o milagre da cura do homem surdo (Mc 7,31-17)assinale o início da era messiânica, confirmando o que o profeta Isaías havia predito (Is 35,4-7a), o relato segundo São Marcos não é uma exaltação à figura de Jesus, como taumaturgo (aquele que opera milagres).
            Jesus antecipa a missão da Igreja aos gentios. A introdução geográfica do texto indica que Jesus faz um caminho diferente (Mc 7,31). Como sinal da jornada de Deus em direção ao homem, Jesus se dirige aos gentios. Ele atravessou a região da Decápole, onde habitavam os gregos. Lá cura um “homem surdo, que falava com dificuldade” (Mc 7,32). Não nos impressionemos com o poder terapêutico da ação de Jesus.O relato evangélico aponta um itinerário de maturidade em vista do dom da fé em Cristo.O homem surdo pode simbolizar a incapacidade que o discípulo de Jesus tem de escutar e anunciar.
            É oportuno olhar para o momento em que Jesus se afasta da multidão, para ficar a sós com o homem surdo (Mc 7,33), como ocasião para se relacionar pessoalmente com Jesus e aderir à fé.Isso não significa chegar a uma compreensão definitiva da sua identidade completa. Essa revelação acontecerá somente com a cruz e a ressurreição.A adesão à fé é o esforço para uma vida configurada a Jesus. Por isso, a abertura é necessária, é a escolha livre de quem está disposto a escutar e testemunhar o Evangelho.
            No “abre-te” de Jesus está a força que toca a vida, motiva o discípulo a segui-Lo de verdade. Não se trata de uma palavra mágica, mas de um mandato. Quem se põe a caminho de Jesus deve abrir-separa acolher as exigências do Evangelho e sair ao encontro dos outros, transmitindoa fé que recebeu.De fato, no dia do Batismo se reza:“o Senhor Jesus, que fez os surdos ouvir e os mudos falar, te concedas que possas logo ouvir sua Palavra e professar a fé para louvor e glória de Deus Pai”. Com um toque nos ouvidos e na boca, como fez Jesus, espera-se que o batizadose abra à escuta, à vida e aos irmãos.
            Abrir a mente para pensar com sabedoria. Abrir os ouvidos para acolher o Evangelho – “a fé vem da pregação” (Rm 10,17). Abrir os olhos para ver o Cristo na Palavra, no Pão e no Próximo, enxergar os sinais dos tempos e não cair nas armadilhas enganadoras que existem. Abrir a boca para profetizar a favor da vida e proclamar o Reino de Deus.
            Ao homem que foi fechado em si mesmo por causa de suas patologias, Jesus disse “abre-te” como um chamado para sair, para comunicar a vida. Que nós possamos escutar também esse “abre-te” de Jesus e abrir o coração para que ressoe em nosso interior a força da Palavra e da Eucaristia, a fim de confirmar nossa fé pelas nossas ações.
Marcos Bento
4º Teologia