Outubro, mês missionário.
Pergunto-me: como a Liturgia
vive e acompanha o nosso ser missionários e missionárias do Senhor Jesus? Com
certeza, a missão é parte intrínseca da vida da Igreja e, portanto, a Liturgia, seu coração orante, respira ‘missão’.
Em nossa Igreja, toda celebração começa com o sinal da cruz, resumo da
fé em Deus Trindade Santa,
e na Paixão, Morte e
Ressurreição do Senhor; a mesma termina com a bênção no Nome da Trindade e o
convite para irmos em missão: termina a missa, começa a missão!
Nossa fé traz sua origem e se
fundamenta na missão de Jesus, o Filho de Deus que veio ao mundo
para testemunhar o amor misericordioso daquele a quem Ele chama de Abá, Papai. Sua missão na terra termina com
um convite – ordem: Ide pelo mundo
inteiro, anunciai o Evangelho a toda criatura (Mc 16,15).O discípulo que conhece o rosto do Deus que Jesus nos revelou, torna-se, por exigência interior, uma testemunha viva do mesmo infinito amor, e toda a sua vida fica iluminada por esse amor do Senhor.
A fé que professamos, portanto,
pede para ser celebrada na liturgia e testemunhada na vida cotidiana, em íntima unidade. O
Deus que a Palavra nos conduz a conhecer é o Deus – Caridade(cf. 1Jo 4,8). A liturgia celebra, no sentido que ‘torna célebre’,
enaltece e põe no centro da vida dos discípulos de Jesus, esse Deus que envolve os mesmos em seu
mistério de amor e os envia para que vivam desse amor.
A missão não é uma sobrepeliz que colocamos, de
vez em quando; mas deve ser intrínseca e permanente na vida de um cristão. Nas celebrações litúrgica, então,
temos a possibilidade de tomar consciência e rejuvenescer esta atitude que nos acompanha em todo o tempo e em
cada ambiente e escolha. A ação ritual é chamada a fazer ‘arder o coração’, como aconteceu com os dois discípulos que, em fuga para
Emaús, escutam aquele anônimo peregrino que – eles não o reconheciam – era o mesmo Jesus que, interpretando as Escrituras
fez, aos poucos, arder seus corações e infundir nossa esperança (cf. Lc 24,13-35).
Então, quando podemos dizer que
uma celebração litúrgica
– da Eucaristia, especialmente – é verdadeira e alcança seu
objetivo? Quando ilumina as mentes, purifica e aquece os corações e torna os
discípulos capazes de testemunhar ‘o que ouviram e viram’ (cf. 1Jo 1,1), o que o Senhor fez para nós,
abrindo horizontes à nossa esperança, tantas vezes abalada e confusa. “Quando uma celebração é vivida
com a intensidade do espírito e cuidando que todos os elementos entrem em uma
harmonia envolvente, com certeza, tornar-se-á experiência do mistério divino e
momento marcante de evangelização” (Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia: Liturgia e
Evangelização,
p. 47).
Vale a pena lembrar o que se escreve no Documento de Aparecida:
“Encontramos Jesus Cristo, de modo admirável, na Sagrada Liturgia. Ao vivê-la, celebrando o mistério pascal, os discípulos de
Cristo penetram mais nos mistérios do Reino e expressam de modo sacramental sua
vocação de discípulos missionários” (n. 250). Em seguida, mais um pensamento
muito expressivo: “… A Eucaristia, fonte inesgotável da vocação cristã é, ao
mesmo tempo, fonte inextinguível do impulso missionário. Aí, o Espírito Santo
fortalece a identidade do discípulo e desperta nele a decidida vontade de
anunciar com audácia aos demais o que tem escutado e vivido” (n. 251).
Possamos tornar as nossas celebrações mais autênticas experiências de
fé, verdadeiros encontros com o Senhor que nos amou até o ponto mais alto do
amor, para sermos, com a força do seu Espírito, testemunhas coerentes e
corajosas do mistério da fé que a Eucaristia celebra. Recordemos o apelo do Papa
Francisco: “Não nos deixemos roubar o entusiasmo missionário” (Evangelii
Gaudium 80).
Dom Armando Bucciol
FONTE:
www.cnbbne3.org.br