Comemoração de todos os fiéis defuntos

Leituras:
      Is 25,6-9
     Sl 24(25)
     Rm 8,14-23
     Mt 25,31-46

A MORTE FOI VENCIDA
 
Todos os anos a Igreja, no seu calendário litúrgico, recorda o dia dos mortos. Essa tradição é antiga e remonta aos cristãos do sec. II que passaram a homenagear os cristãos mártires. Inicialmente essa data era celebrada no dia 1° de novembro, dia de todos os santos. Porém com o passar do tempo, mais precisamente no sec. XIII, a Igreja fixou o dia 02 de novembro para lembrar todos os mortos. O Cristianismo e outras religiões sempre acreditaram na vida após a morte. Daí nasce a compreensão de que os mortos precisam ser lembrados. Os cristãos, de modo bem especial, acreditam que a morte, sendo mistério da vida, é o último inimigo a ser vencido, (1Cor 15,26) e não tem a última palavra, pois a vida é que vence a morte.

Para nós cristãos, o centro da nossa fé nasce exatamente na ressurreição de Jesus Cristo, que ressuscita ao terceiro dia. Este fato é atestado e experimentado pelos seus discípulos, seus fiéis seguidores. Essa experiência foi tão forte para os discípulos de Jesus, que eles acabaram por não temer mais a morte, ao ponto de se lançarem em missão ao mundo para anunciar Jesus Ressuscitado e enfrentando todas as adversidades sem temor. Uma vez que Jesus vence a morte, todos compreendem que com Cristo e por ele a morte deixa de ser o terror e o temor dos vivos.

Neste dia em que celebramos o Dia de Finados, antes de tudo queremos reafirmar nossa fé na ressureição, porque a morte foi vencida. Porém, é o dia que recordamos com carinho a existência terrena de cada pessoa que passou por nós e fez parte da nossa vida e da nossa história. Além de compreendermos que os mortos habitam a dimensão de Deus, compreendemos também que eles continuam vivos dentro de nós, nos nossos sentimentos e na nossa memória. Isto se dá porque eles construíram através do seu corpo físico coisas que marcaram a existência. Deixaram com o seu modo de ser e o seu fazer uma história na nossa história. 

Este é um dia de muita saudade e até tristeza, e sabemos disso. Mil maneiras são as de recordar os mortos. Para nós cristãos, além de levarmos flores aos túmulos, acender velas por eles pedindo a luz de Deus, também oferecemos as nossas orações e, de modo bem especial, celebramos a Eucaristia, sacrifício do amor e da redenção pelos nossos e seus pecados. Rezar pelos mortos é um ato de caridade. Dizia Santo Tomás de Aquino que os mortos não podem fazer mais nada por eles mesmos, entretanto, nós podemos ainda fazer muito por eles, rezando em sua intenção pelo sufrágio de suas almas. Rezar pelos mortos, portanto, constitui um obra de misericórdia. 

O dia de Finados é um dia que nos leva a muitas reflexões acerca da vida, do que somos e do que fazemos. A vida que temos é muito efêmera, muito passageira, um verdadeiro sopro. Os nossos dias são como a sombra que passa (Sl 144,4). O que fazer então? Diante disso resta-nos tomarmos consciência e aproveitar bem, e ao máximo a nossa vida. Aproveitar a nossa breve existência para fazer o bem, realizar coisas boas, deixar o mundo melhor do que encontramos. Daqui não levaremos nada, exceto o que fizemos. Gosto sempre de recordar a música de Leila Pinheiro que canta assim: “...a gente leva da vida, amor, a vida que a gente leva”. Em última instância é isto mesmo: levamos o que deixamos, o que fizemos, o que construímos enquanto relação amorosa. Por isso, a morte é sempre um convite à humildade, pois na esteira do seu implacável chamado, todos se tornam iguais e ninguém, por mais forte que seja, deixa de experimentá-la. Com ela se torna incapaz de resistir toda e qualquer soberba, empáfia, arrogância, riqueza, dominação e pretensões de ser mais importante. Padecem igualmente todos os seres humanos, vivos, indistintamente. Nesse sentido a morte é boa, é justa e iguala todos.

Reafirmando nossa esperança na vida eterna, rezemos neste dia por todos os nossos entes queridos falecidos e todos os irmãos que partiram desta vida. Que encontrem no universo da luz plena, de onde saímos e para onde voltamos, a paz, a plenitude, o descanso, o perdão e a felicidade eterna. Como afirma o texto da liturgia de hoje: “Como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão (1Cor 15,22)”. E sejamos vigilantes à espera do Senhor que vem. Felizes seremos se Ele nos encontrar assim. “Descanso eterno dai-lhes Senhor, e que brilhe para eles a vossa Luz”.

Pe. Nicivaldo de Oliveira Evangelista 
(Pároco da Paróquia N. Senhora do Bom Sucesso – Ibitiara)