Festa da Sagrada Família, Jesus, Maria e José

LEITURAS:

Eclo 3,3-7.14-17
Salmo 127(128)
Cl 3,12-21
Lc 2,41-52

“Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho.” 
(São Paulo VI)

    Ao vivenciarmos o período do Natal do Senhor, celebramos a festa da Sagrada Família de Nazaré. A espiritualidade do lar de Jesus nos questiona acerca da dinâmica vivida pelas famílias de hoje, que buscam, apesar das vicissitudes do cotidiano, configurar suas vidas às dos membros daquela família Santa. Nesse sentido, a liturgia desse domingo, dentre tantas pistas de reflexão, nos convida a olharmos para a família em três dimensões: família consanguínea, família Igreja e família sociedade.

    Sendo a família consanguínea a célula primeira e vital dos modelos mais amplos de família, podemos destacar, em meio às características marcantes da cultura atual, uma que enfraquece o vínculo de pertença, a saber, a falta do encontro. A partir dos relatos bíblicos, especialmente o trecho do Evangelho lido hoje, percebemos como o encontro está presente na família de Maria, José e Jesus, eis que desesperados os pais encontram Jesus no templo.  O menino desaparece e dá lugar ao adulto, porém é encontrado (Cf. Lc 2, 46). É esse encontro que às vezes falta em muitas famílias, um encontro com o Cristo através de um contínuo crescimento pessoal e da oração em comum.

    Na dimensão eclesial é nítido um comportamento individualista em detrimento de uma comunitariedade. O dano causado à Igreja por essa marca nociva da sociedade atual é enorme. O distanciamento da consciência de que somos “chamados como membros de um só corpo” (Cf. Cl 3, 15) faz do fiel uma “ilha” isolado dos demais membros dessa família que é a Igreja. Precisamos, mais do que nunca, resgatar esse sentimento orgânico do povo de Deus, que se enfraqueceu ao longo do tempo. Ao celebrarmos a liturgia em comunidade que a comunhão das duas mesas (Palavra e Eucaristia) se estenda para o dia-a-dia de nossa existência.

    Em consonância com o supracitado, a intolerância aparece como uma das “pragas” hodiernas que devem ser combatida. Apenas o amor e a capacidade de diálogo podem detê-la. Portanto, a família humana precisa refletir quanto aos discursos violentos proferidos nos diversos âmbitos: político, esportivo, religioso, étnico, etc. além da discriminação contra chagados sociais (homossexuais, mulheres, negros, etc.). Somente a escuta dialogal, à luz da Palavra de Deus, é capaz de transpor as barreiras das diferenças, possibilitando enxergar a beleza da pluralidade, deste modo, a opacidade de um mundo uniforme dá lugar ao colorido da unidade na diversidade.

    A superação destes desafios é tarefa do homem e da mulher de hoje. Observando o presépio, somos capazes de imaginar como a família ali representada contempla esses três modelos de família, exposta a perigos semelhantes, no entanto, com simplicidade, amor e diálogo, os venceram. Ao longo da história muitos, inspirados nesse Beatífico Lar, também foram capazes de enfrentar as exigências de seu tempo e, configurando suas vidas à escola de Nazaré, transformaram parentes, Igreja e sociedade.

Pablo Barbosa do Prado
3° ano de Teologia