8° Domingo do Tempo Comum - Ano C

Domenico Fetti - The Parable of the Mote and the Beam.jpg
Por Domenico Fetti, Metropolitan Museum of Art
Leituras:

Eclo 27, 5-8
Salmo 91
1 Cor 15, 54-58
Lc 6, 39-45

“...Nos Livros sagrados, com efeito, o Pai que está nos céus vem carinhosamente ao encontro de seus filhos e com eles fala.” (Dei Verbum 21)

O oitavo domingo do tempo comum nos traz, em sua liturgia, um forte apelo acerca da meditação e anúncio da Palavra de Deus. Diante do desafiador compromisso de proclamadores da Boa Notícia que sustenta a nossa fé, a saber, o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, podemos nos perguntar: onde e como posso anunciar o Evangelho? Ou ainda: quais palavras usar para tão preciosa proclamação? A resposta para estas e outras perguntas encontramos numa leitura atenta da Sagrada Escritura e nos sensíveis sinais que se nos apresentam no dia-a-dia de nossas vidas.

Primeiramente, o autor sagrado do livro do Eclesiástico nos exibe, de maneira alegórica, a importância da transmissão autêntica daquilo que temos de melhor. Aqui é necessário evidenciar em nossa sociedade, uma contradição: ao passo que os meios de comunicação nos permitem contatar com um gigantesco número de pessoas, nos deparamos com tamanhos mal-entendidos. Nesse sentido, o sábio de Israel, que compôs a primeira leitura dessa liturgia, nos chama a atenção justamente para a qualidade da nossa comunicação. Não é possível transmitirmos aos outros uma mensagem sem dispormos de meios eficazes, da mesma forma percebemos a impossibilidade de compreendermos o outro se não trabalharmos o dom da escuta atenta.

Certamente é esse mal-entendido que Jesus quer sanar com o Evangelho de hoje. A atitude do discípulo que almeja assemelhar-se ao mestre é a escuta, e quão difícil é, em nosso tempo, parar para escutar em meio aos atrativos barulhos que nos são propostos! Torna-se cada vez mais difícil concentrar-se ante as inúmeras opções de distração. E, movidos pela algazarra externa, não percebemos a desordem interna e corremos o risco de não vermos as “traves do nosso próprio olho” (Cf. Lc 6, 42). Somente quando silenciamos nosso interior conseguimos ouvir nosso coração e, ouvindo-o, deciframos nossas vozes internas e os clamores dos outros. Esse movimento que o Evangelho propõe devolve-nos a vista e transforma o que outrora era treva aos nossos olhos, em luz para os olhos da razão. 

Assim sendo, o pecado da insensibilidade para com o outro é tragado pela força vivificante da sensibilidade à Palavra de Deus. Essa Palavra nos interpela de tal modo que dá a capacidade de sentir o vigor criativo a partir do nosso silêncio. Que cada um de nós possamos, a partir de uma escuta atenta do Evangelho, ser no mundo sinais da presença amorosa de Cristo na vida das pessoas e, recobrados a visão pela Sagrada Escritura, possamos encaminhar os corações para o amor e a constância do Pai.
Pablo Barbosa do Prado
3° ano de Teologia