Is 50,4-7
Salmo
21
Fl
2,6-11
Lc 22,14-23,56
Inicia-se
hoje, mais uma vez, a Semana Santa. Momento forte que nós cristãos católicos,
de uma maneira muito especial, celebramos a paixão, morte e ressureição de
Jesus Cristo. Nestes dias experimentamos de forma mais profunda esse mistério
celebrado. Nele, nós procuramos sentir tudo aquilo que Jesus vivenciou e também
os seus discípulos, angústias, tristezas, alegrias e esperança.
Ao
ler o evangelho que narra a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém, vimos que
do início ao fim da vida de Jesus, seus ensinamentos e mensagens transmitidas
com palavras e vida foram sempre no intuito de apresentar um triunfo diferente.
Contrariando a lógica do mundo Jesus se apresenta sempre despojado dos
artefatos do poder. Faz triunfar o amor, a humildade, a simplicidade, a
benevolência, o serviço despretensioso e amoroso aos irmãos. Ao mesmo tempo o evangelho
mostra uma acolhida por parte das pessoas pobres e humildes que veem em Jesus a
manifestação do Filho de Deus. Jesus entra na Cidade Santa, no coração de
Israel como um rei despojado, portando em si mesmo alegria e esperança, diante
de um mundo que desprezava as pessoas mais desprovidas de dignidade.
Um
aspecto curioso deste evangelho que abre a liturgia da Semana Santa é a
tentativa que as autoridades fazem com relação aos seguidores de Jesus. Pedem
insistentemente ao Mestre que faça os seus discípulos se calarem. Bela e
profunda é a resposta que Jesus dá: “Se eles se calarem, as pedras gritarão”. A
ressonância desta mensagem é muito encorajadora e imperativa. Quem é discípulo
de Jesus não pode se calar, ainda que alguém ou alguns queiram. O discípulo
precisa ser corajoso e manifestar o que traz no coração. Não pode ser discípulo
e permitir que as pedras, o silêncio da omissão contagie aquele que deve proferir
palavras da verdade e libertação.
Neste
domingo também a liturgia traz o evangelho da paixão de Jesus. É o mesmo que
será lido na Sexta-Feira-Santa. Com ele a Igreja nos introduz no mistério do
sofrimento de Jesus para juntos participarmos e revivermos tudo aquilo que
aconteceu com o nosso Redentor. Ao adentrar na narrativa da Paixão do Senhor
podemos fazer várias reflexões e tirar para nós muitos ensinamentos. A paixão
de Cristo revela que a missão de Jesus no combate ao mal se deu do início ao
fim da sua vida e, mais intensamente, no início até o fim da sua vida pública.
Jesus
foi do início ao fim firme e determinado na luta contra as forças aniquiladoras
do bem, do amor e da paz, das forças que destroem a vida humana em suas
múltiplas formas de manifestação. Ao fazer isto Jesus nos ensina e encoraja a
fazer o mesmo. Sendo vítima da injustiça, foi combativo incansavelmente na
busca pela mesma. As estruturas humanas quando desprovidas do princípio do amor
e do bem se tornam perversas, injustas e destruidoras. Assim, ao contemplarmos
a paixão do Senhor, olhamos para nossa vida de cristãos e humanos que somos
para avaliar se não estamos continuando a perpetuar através de nossos atos os modelos
contrários aos ensinamentos do mestre.
Resultado
de tudo foi a morte de Jesus como consequência da maldade fermentada na vida
das autoridades e expandida na escolha da população, manipulada por quem
detinha o poder. Tudo aconteceu há dois mil anos atrás. Entretanto, a
humanidade continua a reproduzir em tantos momentos da nossa história esquemas
de injustiças que ferem e que matam, assim como foi feito com Jesus de Nazaré.
Rezemos neste dia, pedindo a luz divina que ilumine as nossas consciências,
para que, através da nossa vida, possamos viver o discipulado como verdadeira e
profunda escolha de quem encontrou no mestre Jesus o sentido para a vida, capaz
de gerar o amor, a justiça e a paz. Que os caminhos da paixão nos conduzam a
processos que nos levem a viver a Páscoa, como momento principal da libertação
de que precisamos, para nós e para o mundo.