LEITURAS:
Gn 3, 9-15.20
Sl 97 (98)
Ef 1, 3-6.11-12
Lc 1, 26-38
Celebramos neste domingo (08/12), uma das festas mais bonitas e populares da Virgem Maria: a Imaculada Conceição. Maria não só não cometeu pecado algum, mas foi preservada até da herança comum do gênero humano que é o pecado original. E isto devido à missão para a qual Deus a destinou desde o início: ser a Mãe do Redentor. Tudo isto está contido na verdade da fé da “Imaculada Conceição”. O fundamento bíblico deste dogma encontra-se nas palavras que o Anjo dirigiu à jovem de Nazaré: “Alegra-te, cheia de Graça, o Senhor está contigo!” ( Lc1, 28 ).
Caminhando para o Natal, somos convidados a olhar para Maria, a Imaculada, e reconhecer nela o modelo de como acolher Jesus, que está chegando. No caminho do Advento brilha a estrela de Maria, sinal certo de esperança e de conforto. Para chegar a Jesus, luz verdadeira, sol que dissipou todas as trevas da História, precisamos de luzes próximas de nós, pessoas humanas que reflitam a luz de Cristo e iluminam assim o caminho a percorrer. E qual pessoa é mais luminosa do que Maria? Quem pode ser para nós estrela de esperança, melhor do que ela, aurora que anunciou o dia da salvação? Por isso, a liturgia nos faz celebrar hoje, na proximidade do Natal, a festa solene da Imaculada Conceição de Maria: o Mistério da Graça de Deus que envolveu desde o primeiro momento da sua existência a criatura destinada a tornar-se a Mãe do Redentor, preservando-a do contágio do pecado original. Olhando para ela, nós reconhecemos a altura e a beleza do projeto de Deus para cada homem: “em Cristo Jesus, Deus nos elegeu, antes da criação do mundo, para sermos santos e imaculados, diante dele, no amor”. (Ef 1,4). Essa eleição é para todos, sem exceção. Não é uma possibilidade, mas a realidade que nos faz ser. Descobri-la e vivê-la, sim, depende de nós.
A festa de Maria Imaculada nos revela a presença do divino nela e em nós. Nela descobrimos as maravilhas de Deus. O núcleo íntimo de Maria é imaculado, incontaminado, porque é o que há de Deus nela. Maria é grande porque descobriu e viveu o divino que fez nela sua morada. Não são os mantos luxuosos e os adornos colocados sobre ela, através dos séculos, que a faz grande, mas o fato de ter descoberto seu ser fundado em Deus. Ser imaculado também é uma descoberta e uma decisão. Maria, ao se voltar totalmente para Deus, mostra que a dinâmica da graça só encontra abrigo no reconhecimento de sua fonte e a nossa dependência dela: “A minha alma engradece o Senhor”.
O que devemos admirar em Maria é o fato de ter vivido essa realidade e ter deixado transparecer o divino através de todo seu ser sem nenhum obstáculo. Ela deixa passar a luz que há em seu interior, sem diminui-la nem filtrá-la. Por isso, o reconhecimento do Anjo da plenitude da graça em Maria. Ela é cheia de graça por que nada reserva para si. Eva tenta reter a vida para si ao apanhar o fruto proibido. Maria entrega tudo que recebe de Deus para a realização do seu projeto de amor, ela não retém para si o fruto divino “Jesus”, ela o entrega generosamente a humanidade, imitando o que o próprio Deus fez. Quando compreendermos, como Maria, que a graça de Deus não pode ser um depósito, mas um influxo em nós, um movimento de doação e entrega, poderemos superabundar na graça mesmo se o pecado abundou em nós (Cf. Rm 5, 20).
Em Maria se reconhece que a graça de Deus supera o pecado até mesmo no tempo. O pecado original mancha todo ser humano a partir da desobediência e da cobiça. Dali pra frente vai afundando o ser humano na perda de Deus, de si mesmo e do próximo. Tudo a partir do momento em que o homem decide trilhar seu caminho sozinho. Ele desemboca num crescente emaranhado de que também sozinho não consegue sair mais. Jesus retira o emaranhado do pecado com sua graça, ultrapassando os limites do tempo, atinge Maria antes mesmo dela dizer seu sim (pois toda sua vida foi sim a Deus não só a partir da anunciação) e concebê-lo. O pecado não alcança Jesus, sua graça o extirpa antes que ele possa atingi-lo, por isso, não é difícil para nós católicos reconhecermos que o ciclo do pecado original já se encerra em Maria tendo em vista sua união completa com Jesus, não só na carne. Ao invés da mancha do pecado atingir a graça (Jesus) é a graça que lava o pecado (Imaculada Conceição). Por isso, em Maria encontramos não só um exemplo, mas uma fonte de graça, podemos recorrer sempre a ela, visto que a mãe não se separa o filho e não podemos encontrar Maria sem que ele nos mostre Jesus.
A Imaculada pode ser considerada como Maria do Advento, pois o Senhor vem para restaurar os seres humanos, assemelhando-os mais e mais ao ser humano ideado por Deus, realizado plenamente em Maria. Se cumprirmos o nosso propósito de recorrer com mais frequência à Virgem, desde o dia de hoje, verificaremos que Nossa Senhora será sempre consolo e socorro para os que a ela se dirigem. Guie-nos a Virgem Maria a uma verdadeira conversão do coração, para que possamos fazer as opções necessárias para sintonizar as nossas mentalidades com o Evangelho, como ela mesma fez. Assim rezemos: “Oh, Maria Concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!”. Amém!
Pe. Adriano Bonfim