6º Domingo do tempo comum - Ano A

Leituras:
    Eclo 15,16-21
    Sl 118
    1Cor 2,6-10
    Mt 5,17-37

“Duas coisas me enchem a alma de crescente admiração e respeito, quanto mais intensa e frequentemente o pensamento delas se ocupa: O céu estrelado sobre mim e a lei moral dentro de mim” (Immanuel Kant).

A liturgia deste 6° Domingo do tempo comum nos traz três contraposições entre realidades distintas: vida/morte, sabedoria do mundo/sabedoria de Deus e lei antiga/lei nova. Deste modo, a vivência cristã tem sentido quando, iluminada pela Palavra de Deus, sabe distinguir e trilhar o caminho que preza pela dignidade humana e aproxima seu coração ao do criador.

Nesse sentido, a primeira leitura nos coloca diante de duas dimensões da existência. Vida e morte representam dois polos da condição do homem, no entanto, mais que uma realidade física, o autor sagrado os apresentam como extensões espirituais pautadas nas decisões tomadas no decurso da história. Evidencia-se, portanto, a liberdade do homem diante de suas ações caracterizando adesão ou oposição aos desígnios divinos que sempre opta pela vida, e vida plena à criação (Cf. Jo 10,10). Assim, a morte física se torna bênção àqueles que se dedicaram à preservação da vida.

A outra dualidade encontramos no texto de São Paulo à comunidade de Corinto. O Apóstolo fala sobre a sabedoria do mundo contrapondo à sabedoria de Deus. É de nosso conhecimento que o texto foi escrito para uma comunidade fragmentada e seus membros disputavam posições de destaque, certamente essa atitude Paulo aponta como sabedoria dos poderosos. Ora, o alerta que serviu aos Coríntios serve para a nossa realidade comunitária, não queiramos manipular o Espírito segundo as nossas vaidades pessoais ou grupais. Para a comunidade imergir na sabedoria divina é preciso despojar de toda vanglória e se colocar em atitude de serviço deixando o Espírito Santo agir. 

A terceira bipartição está no evangelho. A lei antiga da qual nos fala o evangelista não se refere à Torá (cinco primeiros livros da Bíblia judaica), a caducidade normativa se dá na interpretação equivocada dos mandamentos que, ao invés de serem usados para afirmar a dignidade humana, serviam de instrumento de opressão por parte de alguns líderes dos povo e privilégios para outros. A manipulação da lei a deixa caduca. Jesus, porém, dá “pleno cumprimento” à Lei e aos Profetas (Cf. Mt 5,17), afinal, ele falava com autoridade, ou seja, realizava na prática seus ensinamentos (Cf. Mt 5,19). Nisto caracteriza a “nova Lei” dada por Cristo: o cumprimento da norma sem hipocrisia, levando em conta a condição humana. 

Em nosso dia-a-dia corremos o risco de cumprirmos a lei meramente por protocolo ou por medo. Por outro lado, podemos afirmar o sentido profundo do mandamento na liberdade da consciência “centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser” (Gaudium et spes, 16). É meditando a lei no nosso íntimo, questionando seu valor humanizante e agregando valores que, a exemplo do Senhor, cumpriremos plenamente os desígnios do Pai.

Pablo Barbosa do Prado
4° ano de Teologia