Primeiro Domingo da Quaresma – ano A

As tentações de Jesus e as nossas

Leituras:
    Gn 2,7-9;3,1-7
    Sl 50(51)
    Rm 5,12-19
    Mt 4,1-11

A liturgia deste domingo, para iniciar a quaresma, nos traz como reflexão, o evangelho que fala da tentação sofrida por Jesus, o Filho de Deus. 

Antes de mais nada devemos nos perguntar que significa tentação. Do latim temptatio significa, testar, induzir, influenciar. A tentação é um teste da nossa força, da nossa capacidade de resistência. Na verdade ela mexe nas nossas fraquezas, nos nossos pontos fracos. Ao mesmo tempo que induz, a tentação seduz. Ela nos apresenta um objeto que nos atraia ao qual nos deixamos ser seduzidos. 

A tentação revela, em profundo, a nossa condição humana de fragilidade, de dependência, de medo, de carência, etc. Somos, de um ponto de vista antropológico, vulneráveis às coisas que, à primeira vista, nos proporciona uma realização. Às vezes, cedemos às nossas veleidades com o intuito de atingir aquilo que nos daria uma grande satisfação. E, muitas vezes, nos deixamos levar por isso. 

Jesus de Nazaré, apesar de ser o Cristo Filho de Deus, na sua condição humana também foi tentado antes de realizar o seu ministério na vida pública. O Espírito de Deus o conduz ao retiro espiritual no deserto. Lá porém se confronta com o Diabo que deseja desviá-lo da sua missão, tirar o seu foco e determinação. Ele sofreu as três grandes tentações humanas, antropologicamente, falando; a tentação do prazer (saciar a fome Mt 4,3), do poder (pular da torre sem se machucar Mt 4,6) e do ter (ser dono dos reinos do mundo Mt 4,9). 

O Diabo é o tentador. Ele é considerado também aquele que divide, aquele que engana, o pai da mentira. Obviamente que o Diabo é uma figura sedutora e por isto, seguramente, belo. Suas propostas são encantadoras, perfumadas e doces. Por isso, nem todo mundo tem capacidade e força para resistir à sua sedução. Tudo, porém, que o Diabo propõe é superficial, aparente e não tem sólida consistência. Ceder à tentação, é, por certo, padecer a consequente frustração e desilusão. 

Jesus vai ao deserto da existência humana. O deserto é o lugar da falta, da fraqueza, da necessidade, do sofrimento, da prova de resistência e sobrevivência, da aridez espiritual e física. Lá as nossas fraquezas se evidenciam. Jesus, por ser humano como todo mundo, sofre cada uma delas. O deserto, porém, é o lugar também de oração, de encontro com a própria interioridade, onde se busca a força de Deus para a vida e para resistir às nossas fragilidades e limitações. Jesus reza profundamente no deserto e se prepara para a sua missão. Compreendemos a partir da experiência de Jesus que, mesmo na oração, não ficamos isentos e imunes à presença do Diabo. Apesar disso, sabemos que, como Ele, seremos capazes de vencer as forças diabólicas através da força espiritual da oração.

Jesus nos ensina, através da sua experiência de vida que não precisamos ter medo de nada, nem do diabo e de suas tentações. Alicerçados na oração poderemos ser tentados sim, mas temos uma certeza, porém, que não será o Diabo o vencedor, mas nós, se permanecermos fiéis à oração que nos dá força, coragem e resistência. Cada um de nós procure examinar quais são os nossos pontos fracos, quais as nossas maiores limitações e buscar uma maior vigilância sobre nossos atos e nossa vida de cristãos e cristãs empreendendo uma vida de mais fé e oração para vencer as tentações em nossas vidas. 

Pe. Nicivaldo de Oliveira Evangelista