3º DOMINGO DA QUARESMA - ANO A


 
Leituras: Ex 7,3-7
Sl 94 (95)
Rom 5,1-2.5-8
Jo 4,5-42





A Palavra de Deus que neste domingo nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.
A primeira leitura mostra como Deus acompanhou a caminhada dos hebreus pelo deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação. Experimentando a falta do que é mais necessário (a água) podemos reconhecer o quanto somos frágeis e necessitados e que só de Deus, em última instância, recebemos o que precisamos. O erro do povo está na sua falta de fé na Providência divina, muitas vezes apresentada nas escrituras. Isto, podemos evitar por uma atitude de busca e confiança em Deus.
No salmo percebemos, diante da bondade divina, somos convidados a abrir os nossos corações e a aceitar o projeto de felicidade que Deus reserva para cada um dos seus filhos.
A segunda leitura mostra que em Jesus continua acompanhando o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo a salvação, de forma gratuita e incondicional. Os efeitos da salvação que vem de Deus são: a “paz”, o “acesso à graça” e a “esperança”, uma “esperança que não decepciona”, porque tem como fundamento o “amor de Deus”. Esta graça em que permanecemos nos torna amigos de Deus e em paz com Ele.
 A esperança não nos deixa confundidos, nela temos a certeza, da fidelidade de Deus às suas promessas. “O amor de Deus foi derramado em nossos corações”; aqui está a garantia de que a nossa esperança não é ilusória, mas firme. Este amor não é apenas algo que se situa fora de nós, mas é um dom que se encontra derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Este amor de Deus não é uma teoria, pois ele se revela na morte de Jesus pelos pecadores.
O Evangelho garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falha, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como o salvador do mundo torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva.
  A leitura contém uma das mais encantadoras cenas de todo o Evangelho. A pedagogia de Jesus quebra o preconceito e a incompreensão da samaritana (vv. 11-12) e a leva ao acolhimento da auto-revelação de Jesus e a tornar-se por fim numa apóstola de Cristo.
O desenvolvimento da sociedade criou-nos grandes expectativas. Parece mostrar que tem a resposta para todas as nossas procuras e que pode responder a todas as nossas necessidades. Torna-se cada vez mais forte a mensagem que a vida plena está na liberdade absoluta, numa vida vivida sem dependência de Deus; a vida plena parece estar nos avanços tecnológicos, que facilitam nossa vida de muitas maneiras e alimenta em nós a expectativa de eliminar a doença e protelar a morte; Ainda somos tentados a achar que a vida plena está na conta bancária, no reconhecimento social, no êxito profissional, nos aplausos das multidões, nos “minutos” de fama que um vídeo na internet pode dar. No entanto, todas as conquistas do nosso tempo não conseguem calar a nossa sede de eternidade, de plenitude, daquilo que, mais qualquer coisa, nos falta para sermos, realmente, felizes. A afirmação essencial que o Evangelho de hoje faz é: só Jesus Cristo oferece a água que mata definitivamente a sede de vida e de felicidade do homem.
Não é verdade que muitas vezes nos esquecemos destas verdades ou até que ainda nem sequer a descobrimos? Não é verdade que, muitas vezes, a minha procura de realização e de vida plena faz-se noutros caminhos? O que será preciso fazer para conseguirmos que os homens do nosso tempo aprendam a olhar para Jesus e a tomar consciência dessa proposta de vida plena que ele oferece a todos?
Essa “água viva” de que Jesus fala faz-nos pensar no batismo. Para cada um de nós, esse foi o começo de uma caminhada com Jesus… Nessa altura acolhemos em nós o Espírito que transforma, que renova, que faz de nós “filhos de Deus” e que nos leva ao encontro da vida plena e definitiva. Nesse sentido, devemos hoje interrogarmo-nos acerca da nossa vida cristã? Temos sido, verdadeiramente, coerentes com essa vida nova que recebemos? O compromisso que assumimos, com Cristo e na Igreja, é algo esquecido e sem significado, ou é uma realidade que marca a minha vida concreta, os meus gestos, os meus valores e as minhas opções?
Reparemos também no «cântaro» abandonado pela samaritana, depois de se encontrar com Jesus… O «cântaro» representa tudo aquilo que nos dá acesso a essas propostas limitadas e incompletas de felicidade. O abandono do “cântaro” significa o romper com todos os esquemas de procura de felicidade egoísta, para abraçar a verdadeira e única proposta de vida plena. Trata-se por isso de um desafio que o Senhor nos faz a estarmos dispostos a abandonar o caminho de uma felicidade egoísta, parcial, incompleta, e a abrir o coração ao Espírito que Jesus nos oferece e que exige de nós uma vida nova.
Depois a samaritana, depois de encontrar o “salvador do mundo” que traz a água que mata a sede de felicidade, não se fechou em casa a gozar a sua descoberta; mas partiu para a cidade, a propor aos seus concidadãos a verdade que tinha encontrado. Eu sou, como ela, uma testemunha viva, coerente, entusiasmada dessa vida nova que encontrei em Jesus?
Temos hoje um ambicioso programa quaresmal: renovar a nossa fé e trazer os nossos amigos ao encontro de Cristo, para que Ele sacie também a sua sede de felicidade. O Senhor não engana os que n’Ele confiam: quem beber desta graça, viverá feliz e sentirá a necessidade de partilhar com os outros a própria felicidade. Peçamos ao Senhor que nos ajude a compreender esta maravilha.

Pe. Adriano Bonfim Pereira