26º Domingo do Tempo Comum

Na liturgia deste domingo, o Senhor nos faz um instigante apelo à conversão tanto a nível pessoal como comunitário e nos convida à intimidade com Ele através da prática da misericórdia e da justiça. Paulo apóstolo, em sua primeira carta a Timóteo (2ª leitura) pede: “Tu, que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão” (1Tm 6,11). Ora, uma grande perversidade humana, contrária à fé e amor próprios dos tementes a Deus é apontada na Primeira Leitura e no Santo Evangelho: a injustiça e sobreposição de ricos sobre pobres, ou seja, a desigualdade social e sobretudo a insensibilidade dos mais abastados para com aqueles que nada têm. Vejamos: o profeta Amós (1ª leitura) anuncia a devastação de suas cidades e o fim de suas mordomias àqueles que “bebem vinho em taças e se perfumam com os mais finos perfumes, mas não se preocupam com a ruína de José” (Am 6,6). Ou seja, trata-se daqueles que vivem despreocupados em suas riquezas, tapando os olhos à miséria de outros à sua volta. Cita para isto cidades do norte da Síria que antes haviam sido prósperas e que se encontram agora enfraquecidas pela dominação dos assírios. O Santo Evangelho, segundo São Lucas, com a parábola do rico e do pobre Lázaro evoca também uma despreocupação e desigualdade que terminam numa inversão de posições após a morte: o rico, que se vestia elegantemente e se regozijava com o esplendor das festas que promovia, foi para a região dos mortos e dos tormentos e o pobre, que jogado ao chão e ferido, mendigava as sobras dos grandes banquetes do rico foi para junto de Abraão. Este, os anjos o levaram; aquele foi simplesmente enterrado, significando o começo para Lázaro e o fim para o rico. O rico pertencia a Abraão (ele o chama de pai na parábola) simplesmente por parentesco sanguíneo e não pelos laços que operam a salvação. Poderíamos perguntar: o homem rico foi condenado só pelo fato de ser abastado? Ele não merecia as suas regalias em vida, tendo talvez trabalhado para alcança-las? Não. Ele poderia ter sido salvo, se estivesse mais atento à oportunidade de salvação, percebendo o pobre que estava à sua porta necessitando de sua compaixão e auxílio. O rico, no diálogo com Abraão pede que Lázaro adverta seus irmãos a prevenir-se, de forma a livrá-los do castigo que o atormenta, ao que Abraão responde ironicamente: “Se não escutam a Moisés, nem aos profetas, eles não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos” (Lc 16, 31). Ou seja, a ressurreição é certeza da fé advinda da escuta da Palavra de Deus e não dos sentidos e comprovações humanas: “Felizes os que crêem ser ter visto” (Jo 20,29).

            Nossa vida e salvação é Jesus Cristo, revelador da face amorosa do Pai. Ele nos deu o exemplo, pois sendo rico se fez pobre por nós. Como sendo nós discípulos dele não haveríamos de tomá-lo por modelo? Aproveitemos este 26º Domingo Comum para uma sincera reflexão da nossa conduta: Aquilo que possuímos, os cargos que ocupamos, as posições sociais nas quais estamos nos afastam ou nos aproximam daqueles que têm mais necessidades que nós? Na lógica de Jesus deve aproximar. A riqueza e o poder só têm fundamento quando postos a serviço dos demais, sobretudo dos mais pobres. Também nas cidades da nossa diocese e nas nossas comunidades eclesiais existem desigualdades. Qual a nossa atitude enquanto Igreja, Corpo de Cristo para superá-las? Que sejamos, por esta Páscoa semanal e pela graça abundante de Deus, sinais proféticos da Ressurreição de nosso Senhor onde quer que estejamos. Que o Espírito Santo de Deus nos conduza.

Sem. Weverson Almeida