Na liturgia deste domingo, o Senhor nos
faz um instigante apelo à conversão tanto a nível pessoal como comunitário e
nos convida à intimidade com Ele através da prática da misericórdia e da
justiça. Paulo apóstolo, em sua primeira carta a Timóteo (2ª leitura) pede:
“Tu, que és um homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a
fé, o amor, a firmeza, a mansidão” (1Tm 6,11). Ora, uma grande perversidade
humana, contrária à fé e amor próprios dos tementes a Deus é apontada na
Primeira Leitura e no Santo Evangelho: a injustiça e sobreposição de ricos
sobre pobres, ou seja, a desigualdade social e sobretudo a insensibilidade dos
mais abastados para com aqueles que nada têm. Vejamos: o profeta Amós (1ª
leitura) anuncia a devastação de suas cidades e o fim de suas mordomias àqueles
que “bebem vinho em taças e se perfumam com os mais finos perfumes, mas não se
preocupam com a ruína de José” (Am 6,6). Ou seja, trata-se daqueles que vivem
despreocupados em suas riquezas, tapando os olhos à miséria de outros à sua
volta. Cita para isto cidades do norte da Síria que antes haviam sido prósperas
e que se encontram agora enfraquecidas pela dominação dos assírios. O Santo
Evangelho, segundo São Lucas, com a parábola do rico e do pobre Lázaro evoca
também uma despreocupação e desigualdade que terminam numa inversão de posições
após a morte: o rico, que se vestia elegantemente e se regozijava com o
esplendor das festas que promovia, foi para a região dos mortos e dos tormentos
e o pobre, que jogado ao chão e ferido, mendigava as sobras dos grandes
banquetes do rico foi para junto de Abraão. Este, os anjos o levaram; aquele
foi simplesmente enterrado, significando o começo para Lázaro e o fim para o
rico. O rico pertencia a Abraão (ele o chama de pai na parábola) simplesmente
por parentesco sanguíneo e não pelos laços que operam a salvação. Poderíamos
perguntar: o homem rico foi condenado só pelo fato de ser abastado? Ele não
merecia as suas regalias em vida, tendo talvez trabalhado para alcança-las?
Não. Ele poderia ter sido salvo, se estivesse mais atento à oportunidade de
salvação, percebendo o pobre que estava à sua porta necessitando de sua
compaixão e auxílio. O rico, no diálogo com Abraão pede que Lázaro adverta seus
irmãos a prevenir-se, de forma a livrá-los do castigo que o atormenta, ao que
Abraão responde ironicamente: “Se não escutam a Moisés, nem aos profetas, eles
não acreditarão, mesmo que alguém ressuscite dos mortos” (Lc 16, 31). Ou seja,
a ressurreição é certeza da fé advinda da escuta da Palavra de Deus e não dos
sentidos e comprovações humanas: “Felizes os que crêem ser ter visto” (Jo
20,29).
Nossa
vida e salvação é Jesus Cristo, revelador da face amorosa do Pai. Ele nos deu o
exemplo, pois sendo rico se fez pobre por nós. Como sendo nós discípulos dele
não haveríamos de tomá-lo por modelo? Aproveitemos este 26º Domingo Comum para
uma sincera reflexão da nossa conduta: Aquilo que possuímos, os cargos que
ocupamos, as posições sociais nas quais estamos nos afastam ou nos aproximam
daqueles que têm mais necessidades que nós? Na lógica de Jesus deve aproximar.
A riqueza e o poder só têm fundamento quando postos a serviço dos demais,
sobretudo dos mais pobres. Também nas cidades da nossa diocese e nas nossas
comunidades eclesiais existem desigualdades. Qual a nossa atitude enquanto
Igreja, Corpo de Cristo para superá-las? Que sejamos, por esta Páscoa semanal e
pela graça abundante de Deus, sinais proféticos da Ressurreição de nosso Senhor
onde quer que estejamos. Que o Espírito Santo de Deus nos conduza.
Sem. Weverson Almeida