
Agora entramos na
primeira parte da celebração dita‘LITURGIA
DA PALAVRA’. No centro da nossa atenção está a Palavra de Deus, melhor,
Deus que fala ao seu Povo, e este, em atento silêncio, O escuta. Desde
antigamente o povo de Deus – o povo
da Bíblia – apresenta-se como o povo da
escuta. No livro do Deuteronômio (6,4) se lê: Escute, povo de Israel! O Senhor, e somente o Senhor, é o nosso Deus.
Portanto, amem o Senhor, nosso Deus com todo o coração, com toda a alma e com
todas as forças. Eis o que o povo deve fazer: escutar com atenção e amor, porque o Senhor, como um bom Pai, está
falando ao seu povo com carinho e amor.
Uma atitude de abertura
da mente e do coração deve compenetrar nossa espiritualidade. Os cristãos,
reunidos na Assembleia litúrgica, são o povo
que o Senhor reuniu como seu povo,
antes de tudo, para que O escute. Então, em nosso coração, como o futuro
profeta Samuel, digamos: Fala, Senhor,
que o teu servo Te escuta (1 Sam 3,9).
A Liturgia é o espaço
espiritual em que a Assembleia – comunidade reunida no nome do Senhor – está em
atitude de escuta do que o Senhor vai falar. “A pessoa que é de Deus
escuta as palavras de Deus”, observa o evangelista João (8,47). Mas, não basta
estar na Igreja para dizer que estamos escutando a voz do Senhor. Pensemos em quantas vezes, no Antigo Testamento,
Deus, pela voz dos profetas, queixa-se com o seu povo por que não O escuta.
Jeremias, por exemplo, recebe a ordem de dizer ao povo: Esta é a nação que não escuta a voz do Senhor seu Deus, e não aceitou o
ensinamento. Queixas deste teor são numerosas!
A primeira exigência de
uma celebração litúrgica é, portanto, por parte de todos os participantes,
manter os ouvidos, a mente e o coração voltados
para o Senhor. Escreve o papa Bento XVI na bela Exortação apostólica Verbum
Domini(sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja): “O Senhor
pronuncia a sua palavra para que seja acolhida por aquele que foram criados
precisamente ‘por meio’ do Verbo... Não recebê-Lo quer dizer não ouvir a sua
voz, não se configurar ao Logos. Mas,
quando o homem... se abre sinceramente ao encontro com Cristo, começa uma
transformação radical” (n. 50). Continua o santo padre: “Mestra de escuta, a
Esposa de Cristo repete, com fé, também hoje; “Falai, Senhor, que a vossa
Igreja Vos escuta”. Lembremos das primeiras palavras da constituição conciliar Dei
Verbum, sobre a Palavra de Deus: “O sagrado concílio, ouvindo
religiosamente a Palavra de Deus e proclamando-a com confiança...” (DV 1= VD
51).
É preciso, portanto, aprender
ou aperfeiçoar a atitude da escuta. Também porque vivemos numa sociedade em
que se fala muito e se escuta pouco.
Na Liturgia, possamos
aprender a grande lição que o Senhor dá ao seu povo. Quem aprendeu escutar com
atenção na Liturgia, vai se tornando, aos poucos, capaz de ouvir as vozes
interiores do divino Espírito e as tantas vozes, que às vezes são gritos, ao
seu redor. Aprenderemos a escutar com atenção para responder de maneira
adequada e com amor, a Deus e aos irmãos.
Dom Armando
Bucciol