Nossa reflexão sobre a Oração Eucarística (OE) considerou o prefácio, oração de louvor e agradecimento
com que se abre a grande oração que termina com o canto do Santo, santo, santo o Senhor Deus do universo, resposta
alegre da Assembleia aos motivos de louvor do mesmo prefácio.
O Santo
é composto de dois textos bíblicos, um do Antigo Testamento (Isaías 6,3) e o
outro do Novo (Mateus 21,9). É um canto, e, por isso, normalmente, deve ser
cantado para ressaltar sua identidade. Pelas informações que temos, parece ter
sido introduzido na celebração da Eucaristia por volta do ano 530 pelo papa
Sisto.
São poucas palavras, mas muito significativas.
O profeta Isaías, tantas vezes, chama a Deus: “O Santo de Israel”. Santo quer
dizer ‘repleto de vida’. Aqui Deus é proclamado como ‘O três vezes santo’. Na
língua hebraica o superlativo é feito repetindo a adjetivo; portanto, ‘santo,
santo’ significa ‘santíssimo’. Isaías acrescenta mais um ‘santo’, para
expressar a plenitude da santidade divina. Na Bíblia, Santo significa, também,
quem é ‘separado do profano’ (cf. Lv 17,1), ‘limpo do pecado’, como Isaias
afirma logo em seguida. Para se aproximar de Deus é preciso ser purificados,
participar da justiça de Deus, isto
é, de sua santidade.
Compreendemos, então, que a liturgia, com
suas palavras e exortações, quer gerar em nós uma atitude de louvor que brote
de lábios e corações purificados pela Palavra e pela ação transformadora de
Deus. Antes de transformar o pão e o vinho, somos nós chamados à transformação
interior, à conversão, para sermos
habilitados diante do Senhor a pronunciarmos as palavras tão sublimes da Oração
Eucarística.
O canto do Santo acrescenta às palavras de Isaías o texto evangélico do Bendito aquele que vem. Referem-se à
entrada messiânica de Jesus em Jerusalém e são tiradas do salmo 118 /117,
versículo 26. Jesus é acolhido pelos pobres e pequenos, enquanto ‘os grandes’ planejam
sua morte.
A Assembleia, reunida no nome do Senhor,
é chamada a acolhê-Lo com alma purificada e repleta de humilde alegria, preparando-se
para renovar a ‘memória viva’ do sacrifício de Jesus.
Cada palavra que a liturgia põe em nossa
boca tem um sentido cheio de memórias. Cada gesto e palavra visam transformar o
nosso interior e tornar o nosso sentir sempre mais em sintonia com o Espírito
do Senhor Jesus que se entrega ao Pai por amor. De fato, seria louvação vazia se
sair só da boca e mereceria a crítica dos profetas e do mesmo Jesus: “Este povo
honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (cf. Mc 7,6 e par.
= Is 29,13).
Por todas essas razões, o texto
litúrgico - antigo e rico de significados do “Santo” - não pode ser mudado com
paráfrases que alteram e empobrecem o texto originário. Aproveitemos das melodias
-numerosas e bonitas - que se encontram no repertório oferecido pela CNBB, e
que mantém o texto litúrgico.
Dom Armando