Hoje vamos analisar a Oração Eucarística II, a mais curta e, talvez por isso, a que com maior frequência é
escolhida nas celebrações. Apesar de concisa, ela é fruto de uma longa história
e expressa ricos conteúdos.
Quando o papa Paulo VI autorizou a
elaboração de novas preces eucarísticas, os liturgistas logo recuperaram uma
prece antiga que pertence à Tradição
apostólica, uma obra atribuída a Hipólito, presbítero romano do início do
III século (hoje esta atribuição é descartada por quase todos os estudiosos). Ela
dá o modelo de como devia ser a Oração eucarística nos primeiros séculos da
Igreja, quando ainda não existia um texto determinado.
Depois do diálogo introdutório, no prefácio se agradece a Deus pelo dom de
seu Filho Jesus Cristo. Invoca-se o Espírito Santo sobre o pão e o vinho
oferecidos para continuar, assim, entre nós, a obra de santificação. Com poucas
palavras se recorda o que Jesus fez “estando para ser entregue” pela nossa
salvação e, numa única descrição, a narrativa da instituição - o memorial - do que Jesus fez na última
ceia. A oração continua em atitude de agradecimento ofertando ao Pai “o pão da
vida e o cálice da salvação”, “porque nos tornastes dignos de estar aqui na
vossa presença e vos servir”.
Elemento muito bonito é a segunda
invocação do Espírito – chamada de epiclese
– em que se invoca, pela segunda vez, o Espírito Santo para que,“participando
do Corpo e Sangue de Cristo, sejamos reunidos num só corpo”.
Seguem as intercessões: pela Igreja -
“que se faz presente pelo mundo inteiro” – é a ‘católica’! – “para que cresça
na caridade com o papa, o bispo e todos os ministros do vosso povo”. Lembramos
“dos nossos irmãos e irmãs que nos precederam na esperança da ressurreição e de
todos que partiram desta vida”: ao Pai pedimos acolhida: “junto a vós, na luz
da vossa face”.
Enfim, imploramos que “em comunhão com a
Virgem Maria, são José seu esposo, os apóstolos” e com todos que “neste mundo
vos serviram” possamos “participar da vida eterna” e louvar e glorificar o Pai,
no Espírito, “por Jesus Cristo, vosso Filho”.
Como todas as preces, conclui-se com a doxologia: “Por Cristo, com Cristo e em
Cristo”.
Concluindo, poderíamos fazer numerosas
considerações teológicas e espirituais. Acrescento só que na celebração da
Igreja “torna-se presente a nossa redenção” (Oração sobre Oferendas, V feira
santa); a Eucaristia é o “memorial da nossa redenção”; portanto, a proclamação
da salvação se torna realmente efetiva em nós. Essa mensagem está muito
presente na Oração Eucarística II. É um “fluir único da Criação à Redenção para
chegar à Ceia que, para nós, é o aqui e
agora da Salvação. Podemos afirmar que a Oração Eucarística II, em sua essencialidade,
permanece “uma sintética e autêntica proclamação do Evangelho de Jesus” (Barry
Hudock).
Dom Armando