Mário Ferreira Santos |
Em primeiro lugar tudo o que não
contradiz o ser é possível. Sobre isto Mário escreve na Filosofia Concreta.
Segue-se, portanto que o homem, enquanto ser, pode, no que diz respeito à
possibilidade, realizar ações que o prejudicam, pois a escolha como ato da
vontade e da liberdade confere-lhe isto. No entanto, apesar disto, o homem
possui uma finalidade que para ser cumprida plenamente necessita de uma
deliberação para o que corresponde melhor a sua natureza. “Há, assim, um podia
ser que, sendo, seria melhor do que não sendo”. (SANTOS, 1964, p. 109).
Mário retoma três aspectos importantes
da natureza. Na ordem físico-química há leis “infrustráveis e incoercíveis” que
só não ocorrem na presença de outra força que os impeça. A água tende a se esparramar,
mas neste caminho encontra formas que a contenha, no entanto isto ocorre na
harmonia que há entre as leis particulares e universais deste campo.
No campo da biologia e da botânica as
leis encontram gradações de frustabilidade, seja por causas intrínsecas, uma
árvore estéril, um animal deficiente, anomalias, ou extrínsecas, seca, se o
animal é devorado. Mas observamos nestes casos que ainda assim o ser tende a
sua realização.
Quanto ao campo antropológico no ser
humano, apesar de também haver leis incoercíveis estas podem ser totalmente
frustradas. Isto porque a sua natureza é dada esta possibilidade. Apesar disto
há um dever-ser humano e isto é o que busca a ética. Este dever-se é o que
permite ao homem cumprir sua finalidade, assim como é finalidade da árvore
frutífera produzir frutos.
Isto é próprio da ordem do ser do homem.
No seu atuar, e aqui cabe dizer que para Mário o atuar também é o atualizar do
ser, o homem percebe-se mutável e temporal (finito). Assim em seu preferir ou
preterir ele cria, julga a avalia valores. Tais valores estão presentes em toda
a realidade de sua na relação consigo e externamente. Não obstante seja mutável
é possível perceber certa ordem de similaridade nas mais diversas culturas,
este é o dever-ser captado mais facilmente. Entretanto só por um debruçar
filosófico que considere ontológica e antropologicamente o homem chega-se ao dever-ser,
tanto amplo quanto restrito, que considere os valores enquanto valores humanos.
Mário defende que o dever-ser revela-se
como o tem-de-ser de cada entidade e, considerando o homem, pode-se encontrá-lo
ante quatro campos, a saber: ante si mesmo: como corpo e espírito; ante seu
semelhante: como indivíduo, como coletividade; ante o ecológico: regional e
geral; ante o que lhe é transcendente. (SANTOS, 1964).
Isto posto Mário passa aos corolários do
dever-ser. Sendo que todo ser tem uma finalidade, possui um dever-ser e o tem
porque ainda não o é totalmente. O ser
supremo, ao contrário não tende-ser já o é na eternidade.
Mas, se no homem há um dever-ser
totalmente frustrável, qual a razão de um estudo ético sobre o dever-ser? O dever-ser
é ontológico, corresponde à natureza quanto aos possíveis que devem ser e não
os possíveis em geral. O possível que deve-ser da mãe é cuidar do filho, se
isto não ocorre é devido à frustabilidade, o que não elimina a possibilidade
primeira e que corresponde a finalidade ao contrário da segunda.
A Ética então estuda além do dever-ser
em si os limites naturais de sua realização ou de sua aplicação. Como disciplina
filosófica, esta tem por objeto formal a atividade humana em relação ao que é
conveniente ou não à sua natureza. Daí segue-se que o critério é antes de tudo
ontológico.
Mário, no entanto, defende o atrelamento
da ética e da moral. Uma não será suficiente sem a outra. O que ocorre com
frequência é a confusão entre elas por não distingui-las claramente. Por isso
Mário faz com nitidez e segurança a distinção entre as duas.
A moral diz respeito aos costumes
presentes em qualquer sociedade. Ela objetiva aplicar o que é ético, mas varia.
A ética, no entanto, é invariável de tal modo que a partir do conhecimento
claro do dever-ser, poderá se evitar os erros da moral.
Mário entende a crise de valores como
uma crise moral, pois a ética é invariável e esta crise aprofunda-se pela falta
de clareza na distinção entre as duas. Quer a sociedade definir como éticos
atos que são morais, como por exemplo, o aborto. Contudo a moral deve continuar variável, pois
há princípios que se repetem em todos os povos, mas há aqueles que estão de
acordo às conveniências da organização social e das tensões geradas no concreto
de um grupo.
A liberdade é uma norma ética, mas o
modo como se interpreta segundo a conveniência será uma regra moral. Assim os
erros são morais. Segue-se que a ação não é boa ou má, em si. Ela apenas
existe, se dá. A ética está nos valores que emprestamos ou damos a ação.
Caso
queiram saber mais sobre este filósofo alguns de seus livros estão disponíveis
em sebos, dentre estes o que fundamenta sua obra foi republicado pela editora
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estudos!
Adriano Bonfim
1º Teologia
SANTOS, Mário Ferreira. Sociologia
fundamental e Ética fundamental. São Paulo: Logos, 1964.