Evangelho – Jo 11,1-45
Quaresma é Tempo
oportuno para refletir sobre o amor, a misericórdia e a esperança. A confiança
de que Cristo é Ressurreição para nossa vida é certeza de alegria e sossego ao
coração.
A liturgia desse
domingo, bem como a narrativa do 3° domingo (diálogo com a samaritana), e a do
4º (o cego de nascença) apresenta-nos a fé em Jesus Cristo como realidade
central para a contemplação da vida eterna.
O ponto focal que hoje
celebramos está nos versículos 25 e 26 do Evangelho: “Então Jesus disse: Eu sou
a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo
aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?”. Afirmando e
perguntando, Jesus, coloca em evidência que a vida ultrapassa os limites
humanos biológicos. Trata-se da vida definitiva que supera a morte.
A primeira leitura
evidencia o desespero do povo exilado que nutria a sensação de condenação à
morte. É em meio a incerteza que o Senhor Deus oferece uma vida nova possível
pelo Espírito. A questão mais significativa é que, apesar das aparências, Deus
não abandona o seu Povo. Mesmo quando tudo parece perdido e sem saída, Deus lá está,
transformando o desespero em esperança, a morte em vida.
Paulo, na segunda
leitura, desenvolve uma das suas mais famosas antíteses: “carne”/”Espírito”.
“Viver segundo a carne” significa, em Paulo, uma vida conduzida à margem de
Deus: o “homem da carne” é o homem do egoísmo e da auto-suficiência, cujos
valores são o ciúme, o ódio, a ambição, a inveja, a libertinagem; “viver
segundo o Espírito” significa uma vida vivida na órbita de Deus, pautada pelos
valores da caridade, da alegria, da paz, da fidelidade e da temperança.
O apóstolo recorda ainda
que o cristão no dia do seu batismo optou pela vida do Espírito. A partir daí, vive
sob o domínio do Espírito, isto é, vive aberto a Deus, recebe vida de Deus,
torna-se “filho de Deus”. É, pois, o Espírito, presente naqueles que
renunciaram à vida da “carne” e aderiram a Jesus, que liberta os crentes do
pecado e da morte, transformando-os em homens novos e conduzindo-os em direção
à vida plena, à vida definitiva.
O
Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos
homens a vida definitiva. Ser “amigo” de Jesus e aderir à sua proposta é entrar
na vida plena. Todos que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não
estão mortos: vivem para sempre em Deus. Fazer da vida uma entrega obediente ao
Pai e um dom aos irmãos é o segredo para conquistar a amizade divina. Jesus é o
amigo por excelência: “Quando Jesus a viu chorar, e também os que estavam com
ela, estremeceu interiormente, Jesus ficou profundamente comovido, e perguntou:
“Onde o colocastes?” Responderam: “Vem
ver, Senhor”, E Jesus chorou, (Jo, 11,33-35).
A história de Lázaro é
inspiração e afirmação de que não há morte para os amigos de Jesus, existe,
sim, passagem de uma realidade para outra. Não permanece morto aquele que acolhe,
aceita e entrega a vida segundo os valores, a proposta do Senhor. Já em nosso
batismo escolhemos a vida plena e definitiva que Jesus oferece aos seus e que
lhes garante a eternidade. Aqui cabe a pergunta: a nossa vida tem sido marcada
pela resposta sincera à amizade de Jesus?
Ser amigo de Jesus não
significa que a morte um dia não nos venha visitar. De igual modo, não garante
que o choro e a saudade, pela partida de alguém que amamos, seja uma realidade
impossível de acontecer, pelo contrário, ninguém está livre. A grande verdade
nisso tudo é que em Cristo a morte não significa choro, desencanto e fim; mas,
riso, esperança e ressurreição.
Diante da certeza que a
fé nos dá, somos convidados a viver a vida sem medo. O medo da morte como fim
escraviza e dificulta o viver. Em Cristo não há espaço para a prisão, a este
respeito, lembra-nos a Campanha da Fraternidade que: “é para a Liberdade que
Cristo nos libertou”, nota-se a bonita tentativa de alerta contra todo é qualquer
tipo de morte.
Deus não quer ver seus
filhos escravizados pelo medo da morte, pelo contrário, quer que continuemos a
caminhada na firme esperança de que a morte não encontra lugar definitivo em
Jesus. Não tenhamos medo de sairmos, de tirarmos os lençóis mortuários para que
possamos, com os rostos descobertos, com as mãos e os pés desatados, contemplarmos
a Ressurreição e a Vida. Coragem!
Seminarista Antônio
Carlo3º ano de teologia