Mateus
21, 1-11 (antes da procissão);
Isaías
50, 4-7;
Filipenses
2, 6-11;
Mateus 27,
11-54.
Este Domingo é chamado ‘de Ramos
e da Paixão do Senhor’. São duas
liturgias diferentes. A primeira teve origem ainda na antiguidade (século IV),
em Jerusalém; a segunda, em Roma (desde o séc. V). Em seguida, os dois ritos se
juntaram (em Roma a partir do séc. X) e hoje a festa tem os dois nomes.
Depois de ter percorrido o caminho quaresmal, estamos entrando na grande
semana; “santa” por que nela tornamos presentes, através das celebrações da
liturgia, os eventos fundamentais da fé cristã: a paixão, morte e ressurreição
do Senhor.
Hoje a liturgia nos faz ouvir
dois gritos: “Hosana” e “Crucifica-o”. Que contraste e qual grande contradição!
O mesmo povo que acolhe Jesus entrando na Cidade santa como ‘Messias de Deus’,
poucos dias depois, grita ‘Crucifica-o’. Como não se exaltou pelo primeiro
grito, Jesus não se revoltou contra o povo que pedia sua morte, apesar dos
tantos sinais de amor que Ele tinha realizado; somente sofre em silêncio, e
perdoa. Mais um gesto de amor coerente e forte até o ‘ponto mais alto’.
Ouviremos a proclamação da
Paixão do Senhor segundo Mateus. O evangelista destaca, acima de tudo, que a
paixão que Jesus sofreu até à morte, não foi nem fruto do ‘destino’ nem do
‘acaso’ . Jesus, apesar de ter sido
‘entregue’ – por parte de Judas, dos sacerdotes, de Pilatos – Ele permanece o
protagonista de tudo. Jesus vive a paixão na liberdade e por amor.
Jesus enfrenta, decidido, a sua
paixão. Pede aos discípulos para preparar tudo para a festa da Páscoa (cf. Mt 26,17-19),
e a preside (cf. Mt 26,20-29). Enquanto está à mesa, anuncia aos discípulos que
um deles vai traí-lo, mas, apesar de saber quem vai ser, não o denuncia nem o
bloqueia. Deixa que tudo aconteça como deve acontecer, nem julga nem condena,
mas faz apelo à sua responsabilidade e liberdade (cf. Mt 26,25).
Contemplemos Jesus, acompanhando
o maravilhoso hino da II leitura: ‘Ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de
escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano,
humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz’. Esse
Mistério deve ser pensado, refletido e saboreado com a intensidade do amor.
Coloquemo-nos diante do Pai, para acolhermos o amor que provém da cruz, e
amadurecê-lo com a força do Alto.
Fiquemos diante do maior mistério de nossa
fé, e entremos na celebração da maior semana de nosso ano. Aqui se resume e
manifesta o nosso maior mistério: Deus que se encarna, tornando-se um de nós
para nos resgatar do pecado e da morte com sua paixão, morte e ressurreição.
Tantas perguntas surgem em nós: por que Jesus quis
aceitar tamanha dor e tão absurda rejeição? Será que Deus queria isso? Será que
Deus exigiu isso? Sem a pretensão de compreender tudo, a única certeza que nos
é oferecida é que somos importantes para Deus, que Ele nos ama de verdade, que
fez e faz de tudo para que compreendamos seu amor e o correspondamos.
Desejo a todos que nesta semana possamos nos dedicar
às celebrações de nossa Igreja, buscando, com toda intensidade mergulhar no
mistério de Cristo e saborear todos os momentos de nossa salvação. Que seja uma
semana de reflexão, oração, penitência, jejum e muita meditação. Não esqueçamos
que a graça nos foi dada, mas precisamos nos esforçar para obtê-la. A “torneira
da graça” está em nossas mãos e depende de nós para que ela seja aberta.
Abramos e vivamos neste Amor Misericordioso de Deus, em Cristo Jesus.
Peço a Deus que esta seja uma Semana Santa de
verdade e a Páscoa se torne início de vida nova e renovada com Jesus Ressurreição.