Salmo: 46 (47)
2ª leitura: Efésios 1, 17-23
Evangelho: Mateus 28, 16-20
“Por entre aclamações Deus se elevou, o senhor subiu ao toque da trombeta”.
Na liturgia do domingo passado (6º do tempo pascal), escutamos Jesus dizer aos discípulos: “Não vos deixarei órfãos”. Quando celebramos a eucaristia, em que primeiramente nos é oferecido o banquete da Palavra, de modo especial e intenso somos capturados por alguma expressão sagrada que muito fala ao coração. Pensemos no sentimento de orfandade que tantas vezes assola a vida, não permitindo a compreensão e esperança de que o Senhor nunca nos deixará sozinhos.
Celebrar a Ascensão do Senhor, à primeira vista, tem-se a ideia de que a solidão novamente nos veio visitar. Assim acontece quando alguém que amamos se despede. O conflito entre o visível e o invisível, entre a realidade presente e a futura causa perplexidade: “os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia”,( At 1, 10).
A correta interpretação da ascensão de Jesus se dá quando a vislumbramos como sendo possibilidade de vida nova. Deixar-se ser abarcado pela dimensão espiritual da ascensão é encontrar conforto e certeza da presença do senhor mesmo na aparente ausência, pois Jesus não partiu simplesmente porque a sua missão já se completara, mas antes, devido o projeto salvífico do Pai.
O evangelho narrado por Mateus apresenta mais uma vez a perspectiva de que os discípulos são testemunhas dos feitos de Jesus. Eles são aqueles que estão inseridos na dinâmica do ressuscitado. Se por um lado duvidam e questionam, por outro, Jesus esclarece e confirma o propósito do Pai em cada um deles.
Depois do encontro, os discípulos são orientados a descerem do monte e, incumbidos da missão de olharem para a realidade, serem anunciadores das coisas do alto: “ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei!”,(Mt 16, 19-20).
A ascensão do senhor quer ser para nós possibilidade de vida segundo as coisas do alto, em que pensamos e agimos em coerência com o ressuscitado. Já diziam os antigos cristãos: “a ascensão de Cristo é a nossa ascensão; a ressurreição de Cristo é a nossa ressurreição”. Por este motivo não é recomendado que os cristãos de hoje fiquem de braços cruzados e olhos voltados para o alto, antes, porém, como igreja que somos, devemos nos colocar no dinamismo preparatório tendo em vista o Senhor que voltará.
Em meio a tantos sinais e provações fica evidenciado que a lógica divina difere da lógica humana. Por conseguinte, entendemos e acolhemos a proposta da salvação segundo as experiências vividas, cabe, portanto, conciliar o que é divino e humano, evitando olhar exclusivamente para o céu, desprezando na terra a presença de corações e vidas sedentas de ascensão.
Certos de que o amor de Deus nos alcança, e que por isso mesmo não estamos desamparados (órfãos), peçamos que os frutos da ascensão nos inspirem verdadeiramente para que sejamos discípulos/missionários daquele que possui toda autoridade sobre a terra e sobre o céu. Assim, à medida que acreditarmos que Ele estará conosco todos os dias, até o fim do mundo, acontece o êxito da missão.
Enquanto permanecemos na esperança de que um dia iremos estar com Jesus no céu, ou seja, dia em que estaremos repletos de Deus, ocupemo-nos da missão aqui e agora... O céu começa em cada um de nós!
Sem. Antônio Carlos
3º ano de teologia