I - Atos dos Apóstolos 8,5-8.14-17
Salmo: 65: Aclamai o
Senhor Deus, ó terra inteira,
cantai salmos a seu nome glorioso
II – I Carta de Pedro
3, 15-18
Evangelho: João 14,15-21
“Se me amais
guardareis os meus mandamentos”... “Quem acolheu os meus mandamentos e os
observa, esse me ama”. Jesus, em sua conversa de despedida, insiste com os seus
discípulos para que ‘observem seus mandamentos’. De que ‘mandamento’ fala Jesus? É
o único importante: “Amem-se uns aos outros como eu os amei”. Será que pode
‘mandar’ alguém a amar? A gente ou ama ou não ama, ninguém pode obrigar a amar!
Na realidade a palavra ‘mandamento’ nos
recorda a aliança, isto é, a relação de amor de Deus com o seu povo (cf. Êxodo
20). Agora Jesus fala de um ‘mandamento novo,’
que, como tinha prometido o profeta Ezequiel, não está escrito em tábuas de
pedras , mas nos corações (cf. Ez 34).
Antes de ser um ‘mandamento’ é um presente. Jesus é o ‘dom’ de Deus para
a humanidade. Agora Ele mesmo promete outro dom: “Eu rogarei o Pai e ele vos
dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da
Verdade”.
Por meio do
Espírito, os discípulos de Jesus, vão manter vivo o contato com Ele. O que
Jesus nos ‘ordena’ para o nosso bem é que nunca nos afastemos do amor d’Ele
para conosco, mas que mantenhamos em nós – com a luz e a força do Defensor
(melhor seria chama-lo de Paráclito,
isto é, Advogado) – esta ligação profunda de amor. Ele mesmo nos permite viver
neste laço para que possamos dar um sentido mais verdadeiro à nossa vida.
Desse modo, viveremos, diz Jesus, numa
circulação de amor: “Quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me
manifestarei a ele”. A vida do Pai, e do Filho e do Espírito circulará na vida
do discípulo de Jesus que se abre para acolher este dom de amor capaz de gera
vida nova; assim vão se estabelecendo novos e profundos laços de amor com a
Trindade santa. A nossa fé será algo superficial e só exterior até que não
vivermos nesse relacionamento profundo com Deus, fruto de Seu amor e sustentado
pela presença atuante do Espírito: esta a mensagem e a possibilidade de vida
nova que Jesus nos deixou.
O amor de Deus é o fundamento da nossa
vida de fé e alimenta a nossa esperança, como nos recorda o apóstolo Pedro (II
leitura): “Caríssimos, Santificai em vossos corações o Senhor Jesus Cristo,
e estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la
pedir”. Como viver esta prontidão? Responde Pedro: ‘Adorando o Senhor Jesus em
nossos corações’, que é o mesmo do ‘permanecer no amor de Jesus’, como afirma
João.
Adoramos o Senhor se nos renovamos
constantemente na experiência desse amor de Jesus. Ele é o alicerce de nossa
vida e da liberdade em testemunhar a fé, sempre – recomenda o apóstolo - “com
mansidão e respeito e com boa consciência”, sem ter medo pelas incompreensões
e sofrimentos que disso pode provir. Do resto, pensemos no exemplo de Cristo,
que sofreu e morreu, Ele “o justo, pelos injustos”.
Então, em nossa vida cotidiana, somos
chamados não a conquistar os outros ‘fazendo a cabeça’ deles impondo nossas
ideias religiosas, mas testemunhando com doçura e respeito a nossa fé traduzida
em obras de amor, de ajuda, de diálogo, de serviço... só por amor. O resto não
nos interessa. Só Deus pode agir nos corações e transformá-los, por meio de
Seu Espírito, quando e como Ele quiser.
Na I leitura podemos ver o
estilo do agir de Deus através do testemunho do missionário Filipe, que anuncia
Jesus na Samaria e é recebido com entusiasmo: “Era grande a alegria naquela
cidade”. Aos apóstolos Pedro e João resta só confirmar na fé aqueles novos
discípulos ‘impondo as mãos’ para que recebessem o Espírito Santo. Por isso,
com o Salmo podemos aclamar: “Vinde ver todas as obras do Senhor: seus
prodígios estupendos entre os homens” (...) “Bendito seja o Senhor Deus que me
escutou, não rejeitou minha oração”.
Para manter viva a nossa fé, devemos
voltar sempre a esta experiência do amor de Cristo para conosco. Assim, a todo
dia, renovaremos as razões de nossa esperança e encontraremos a força e as
expressões para sermos testemunhas do amor do Senhor.
Perguntemo-nos:
1.
Acreditamos de verdade no amor do Senhor? Já
fizemos experiência desse amor?
2.
Como, em nossa vida cotidiana, estamos dando – ou
poderíamos dar – razão da esperança
que está em nós?
3.
Sentimos a presença do Espírito Santo em nossa vida como consolo (para
não deixar que as dificuldades da vida nos abatam) e força (para testemunhar
sem medo)?
Dom Armando