SOLENIDADE DO SS. CORPO E SANGUE DE CRISTO CORPUS CHRISTI

A festa chamada de Corpus Christi, ou Corpus Domini (Corpo de Cristo ou Corpo do Senhor) na reforma litúrgica após o Concílio Vaticano II recebeu o título de Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Com esta celebração, a Igreja católica pretende destacar o sentido da Eucaristia, expressar a fé que a caracteriza e convidar a todos os seus fiéis à adoração e à manifestação pública dessa mesma fé.
A Eucaristia, pela fé da Igreja católica, é memória viva do sacrifício de Jesus Cristo, o Filho de Deus que ’se fez carne’ (Jo 1,14), anunciou o projeto de Deus Pai, isto é, uma nova humanidade reconciliada e fraterna, entrou em choque com os que detinham o poder político e religioso, e estes, incomodados pela sua pregação e atuação, mataram-no. Ele, porém, venceu a morte, ressuscitou e, vivo, continua presente em nossa história. D’Ele, nós esperamos a vinda gloriosa. Eis, em síntese, algumas convicções de nossa fé que dão razão de tudo o que celebramos. Então, a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo é, antes de tudo, uma intensa manifestação dessa fé.
A história da origem da festa. Nasce na região da atual Bélgica, no início do século 13, época rica em fermentos religiosos, mas em que a maioria dos cristãos já havia perdido o sentido profundo da Eucaristia e ficava mais ligada ao rito do que ao sentido verdadeiro do misterio eucarístico. Na origem da festa está a beata Juliana de Rétine, priora do mosteiro de Monte Cornion, próximo à cidade de Liège. Em 1208 ela teve uma visão: apareceu-lhe a lua cheia e radiante, mas com uma linha escura e interpretou essa visão como a falta de uma festa em honra da Eucaristia. Os contatos com seu diretor espiritual, João de Lausanne e o apóio de eminentes teólogos, incentivaram o bispo de Liège (Roberto de Thorote) para instituir essa festa que, em 1246, o mesmo bispo celebrou pela primeira vez.
Dois teólogos que tinham conhecido e apoiado Juliana tornaram-se um cardeal (Hugo de São Caro) e o outro (Tiago de Pantaleão) papa (Urbano IV); isso foi determinante para que a festa se expandisse antes na Bélgica - começando pelo ano de 1252 – e, a partir de 1262 – com o papa Urbano IV – à Igreja toda.
Para isso concorreu mais um fato. Na cidade de Bolsena (perto da cidade de Orvieto, região da Úmbria Itália) aconteceu um fato extraordinário. Um padre alemão, a caminho de Roma, cheio de dúvidas na presença de Jesus na Eucaristia, pedia a Deus um sinal. Eis que, enquanto celebrava a Missa, a hóstia começou sangrar abundantemente. O evento foi determinante para que o papa, recebido o tecido (corporal) levado em Orvieto por uma multidão - no dia 19 de Junho de 1264 -instituísse a solenidade. Assim, aos poucos, a festa se expandiu pela Igreja inteira, sobretudo a partir de 1314, com o papa Clemente V, que confirmou a Bula (Transiturus de hoc mundo) de Urbano IV.
Desde o início, a celebração se tornou muito popular, sobretudo quando começou a se realizar também a procissão pelas ruas da cidade e pelos campos. De fato, em alguns lugares, sobretudo na Alemanha, nos séculos 14 e 15, é vivida como pedido a Deus para proteger as colheitas. Nesta época, se difundem as Confrarias do SS. Sacramento que incentivaram e difundiram a devoção à Eucaristia e mantiveram viva a fé em seus membros, melhorando assim os costumes de vida no povo.
Os textos litúrgicos, elaborados, aos poucos, são muito ricos e expressivos e de profundo sentido teológico; expressam em prece as dimensões essenciais do misterio pascal de Cristo celebrado na Eucaristia, isto é, sua vida até a última ceia, a morte no Calvário, a comunhão com os fieis, o penhor de vida eterna e o prêmio dos justos que d’Ele esperamos receber.
Escreveu o papa são João Paulo II (na carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, 62): “Nos sinais humildes do pão e do vinho transubstanciados no seu Corpo e Sangue, Cristo caminha conosco como nossa força e nosso viático, e nos torna testemunhas de esperança para todos. Se a razão experimenta os seus limites diante desse mistério, o coração. iluminado pela graça do Espírito Santo, intui bem como comportar-se, entranhando-se na adoração e num amor sem limite”.

Dom Armando