Estamos refletindo sobre a Liturgia das Horas, isto é, a oração da Igreja, oração que, na reforma
que seguiu ao Concílio Ecumênico Vaticano II, foi devolvida à Igreja toda como
sinal e compromisso de uma Comunidade orante. Trata-se da oração oficial da
Igreja e, por isso, deve ser acolhida como modelo de oração da Comunidade
cristã.
Desde
as origens a igreja reza assim. O livro dos Atos dos Apóstolos documenta que,
desde o início, a Igreja é Comunidade de
oração. O evangelista Lucas nos
dá este retrato da Comunidade das origens (At 2,42): “E todos que tinham abraçado a fé continuavam
firmes, seguindo os ensinamentos dos apóstolos, vivendo em amor cristão,
partindo o pão juntos e fazendo orações”. Podemos dizer que a ‘dimensão orante’
acompanha constantemente a Comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus. A
Igreja sempre sentiu a necessidade de orar ao seu Senhor, em atitude de
agradecimento e louvor, pelas maravilhas que Ele operou na história e, de
maneira especial, pela redenção realizada por Jesus.
Do resto, a Igreja nasce tendo como
alicerce a Comunidade hebraica. No começo, sua oração segue a tradição
hebraica, no estilo da liturgia de louvor celebrada no templo de Jerusalém. Usa-se
o livro dos Salmos: as 150 orações
que, para os hebreus, têm um valor especial. Em seguida, também as Igrejas de
origem não hebraica, usam essa oração. Aos cristãos de Éfeso, Paulo escreve: Juntos recitem salmos, hinos e cânticos
espirituais. Cantem, de todo o coração, hinos e salmos ao Senhor (Ef 5,19).
Normal, então, para
a Igreja das origens, formada na maioria por hebreus e judaizantes, orar segundo a tradição antiga, também se o coração é
transformado pela nova experiência de vida com Jesus e pela fé n’Ele. De fato, a
luz de Jesus ressuscitado penetra e ilumina a oração da Comunidade que, em
Jesus, encontra sua razão de ser. Assim, começa se formar a oração
da Igreja.
O hábito hebraico prevê a
oração doméstica feita três vezes ao dia: de manhã, ao meio dia e à noite, como
canta o salmo 54, v.18: “De manhã, ao meio dia e de noite, eu choro e me
queixo, e ele me ouve”. Ainda, no Templo, o sacrifício, oferecido pelos sacerdotes
de manhã e à tarde, é acompanhado por orações. Neste clima orante, viviam os
nossos primeiros irmãos e irmãs de fé e, seguindo o mesmo hábito, destinaram à
oração pessoal e comunitária, os três momentos do dia.
Ainda Atos dos
Apóstolos documenta a existência de orações nas diferentes horas do dia.
Por exemplo, em 2,15, Pedro, no dia do Pentecostes, em nome da Comunidade toda
que tinha recebido a plenitude do Espírito Santo, responde às acusações dizendo
que não estão bêbados, “pois são apenas nove horas da manhã”, é a hora em que a Comunidade está reunida em
oração; em 10,9, fala-se de Pedro que, ‘ao meio dia, subiu ao terraço para
orar”; em 3,1 se lê que “certo dia, de tarde, Pedro e João estavam indo ao
Templo para a oração das três horas”. O
livrinho antigo, chamado Didaquê
(8,3), documenta que, à antiga oração de Israel (Shemá Israel), a Igreja substitui – 3 vezes ao dia – a oração do Pai nosso.
Concluindo observamos
que, no que se refere ao conteúdo, Jesus, de mestre e modelo de oração,
torna-se mediador, junto ao Pai, de sua Igreja em oração e, também, término
da oração: Aquele a quem se ora, como a Senhor,
com o louvor e com as preces.
Desejo que essa ORAÇÃO
se torne modelo e inspiração para nós.
Dom Armando