LEITURAS:
Isaías 55,10-11;
Salmo 64;
Romanos 8,18-23;
Mateus 13, 1-23
A toda celebração da Eucaristia e dos demais
Sacramentos, a Igreja pede que seja proclamada a Palavra de Deus. Ela é
‘lâmpada’ que ilumina, ‘água’ que irriga, ‘fermento’ na massa, ‘sal’ que dá
sabor, ‘espada’ que corta. Neste Domingo a Palavra que escutamos é convite
forte e claro para avaliarmos o sentido que a Palavra tem em nossa vida.
Perguntemo-nos: como ‘eu’ escuto a Palavra quando me encontro com meus
irmãos e irmãs em alguma celebração litúrgica?
O profeta Isaías (I leitura) compara a Palavra
com a chuva e a neve que, descendo, irrigam e fecundam a terra. A Palavra, diz
o Senhor por boca do profeta, “não voltará para mim vazia”. Trata-se de uma Palavra
capaz de transformar e converter até os corações mais duros. Então, se Ela não
produzir, é preciso descobrir onde estão as resistências, ou, talvez, a
superficialidade e a pouca atenção para com a Palavra mesma.
O papa Bento XVI, na exortação apostólica sobre a
“Palavra do Senhor”, recorda o que os antigos Padres da Igreja ensinavam. Diziam
estes santos mestres que, o mesmo carinho e a mesma devoção que temos para com a
Eucaristia, devemos ter para com a Palavra! Por que Jesus, antes de se tornar
‘pão de vida’, tornou-se Palavra: “a Palavra se fez carne e veio morar entre
nós”, como escreve são João em seu Evangelho (1,14).
Neste domingo, o Evangelho apresenta Jesus que
ensina o povo ‘em parábolas’. Trata-se de exemplos tirados da vida cotidiana, e
que Jesus, fino observador, destaca. Ele observa o que acontece quando o
semeado espalha sua semente. E o povo entende. Quer que cada um(a) compreenda
que a Palavra de Deus é ‘como’ uma semente cheia de vida; também se uma parte
se perde, a outra pode produzir muito fruto. Por isso, vale a pena semear. E
Ele semeia, apesar da indiferença de muitos, da resistência de um grupo e da
agressividade de poucos, mas poderosos. Ele acredita que, em fim, o projeto do
Pai que Ele está anunciando e vivendo, vai dar certo. E Jesus continua, com
ardor e amor missionários, a semear, em qualquer canto e de todas as maneiras,
indo de aldeia em aldeia, de um povoado para outro, sofrendo pela dureza de
tantos corações e emocionado pela acolhida por parte dos pequenos, indefesos e
marginalizados.
A todo domingo, em nossas Assembleias, essa Palavra é
proclamada. Nossa primeira ocupação deve ser não de colher, mas de acolher! A
colheita não importa; virá quando e como Ele quiser. O que mais importa é abrir
mentes e corações à mensagem de Jesus, ou melhor, a Ele, que é ‘mensagem’ do
Pai para a humanidade. Para isso, adverte o evangelista, é preciso limpar o
terreno, tirar pedregulhos e espinhos, cuidar para que a semente caia no
terreno preparado, evitar todo descuido e distração.
Então, algumas perguntas vêm para a nossa
reflexão: estamos escutando o que o Senhor hoje tem a nos dizer? Quais
empecilhos devemos tirar para uma acolhida sincera, verdadeira e fecunda? De
fato, se a Palavra não transforma nossa vida, a causa não se encontra na
Palavra, mas no... terreno, isto é, em nós!
Jesus manifesta uma confiança absoluta na força da
Palavra. Sabe que a Palavra não é sua, mas do Pai que o enviou (cf. João 14,24)
e que o divino Espírito continuará operar até conduzir seus fiéis à compreensão
do que Ele diz (Jo 14,26). Então, prossegue seu caminho, custe o que custar,
anunciando com alegria e coragem, até Ele mesmo tornar-se “grão de trigo” que ,“se
morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).
Na II leitura o apóstolo Paulo nos faz refletir
a respeito da transformação total que acontece com a criação toda, a qual “está
gemendo como que em dores de parto”, e nós também, “estamos inteiramente
gemendo, aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo”.
Trata-se da realização do projeto de Deus rumo ao qual almejamos e caminhamos. Será,
então, que o tempo da colheita vai chegar. Quando e como o Pai quiser. Por
enquanto, a nós é pedido disponibilidade para escutar e, na escuta atenta,
disponível e fecunda, realizar nossa conversão
para ‘rejeitar tudo o que não convém ao cristão, e abraçar o que é digno desse
nome’ (Oração) e ‘crescer em santidade’ (Oração sobre as Oferendas).
Dom Armando