Jr
20,7-9
Sl
62
Rm
12,1-2
Mt
16,21-27
“Quem
quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de
mim, vai encontra-la” (Mt 16,25).
Muito
se quer, sobretudo em nossos dias, a salvação da própria vida! Em outras
palavras, muito se almeja uma vida confortável, cômoda, isenta de preocupações,
angústias e sofrimentos. Uma vida permeada tão somente por prazeres e sucessos.
Impossível! A limitaçãoà qual estamos submetidos não nos permite! (primeira
coisa). Esses anseios naturalmente fazem
parte de nossa condição humana – todos almejamos bem-estar constante – e o
desejo de Deus é mesmo que vivamos em plenitude. Mas essa vida plena não é sinônimo
de facilidade, tranquilidade, egoísmo. A Sagrada Liturgia deste Domingo, e,
claro, nossa fé cristã, nos apontam um novo conceito de vida feliz: a vida
doada! Noutros termos, a vida segundo Deus. Nesta, a cruz é imprescindível e
inevitável.
No
Santo Evangelho, segundo Mateus, quando do primeiro anúncio da paixão, onde se
mostra ser um Messias às avessas, ou seja, contrário ao perfil messiânico
esperado pelos judeus, Jesus vê na repreensão de Pedro, que atribui a Deus a
preservação dos sofrimentos que lhe adviriam por sua escolha e missão, uma
‘pedra de tropeço’, investida de Satanás. Ora, as palavras de Pedro são, no
mínimo, paradoxais às do Evangelho do Domingo passado, onde fazia sua confissão
de fé em Jesus como sendo o “Messias, Filho do Deus vivo” (cf. Mt 16,16). Ao discípulo, não basta crer nele, mas segui-lo,
fazendo o que ele fez, abraçando com ele a cruz.
Trata-se
de um sacrifício frutuoso daqueles que buscam fazer a vontade de Deus e
realizar sua obra. A este nos convoca São Paulo, na segunda leitura, sua carta
à comunidade dos romanos, pedindo-lhes, por isso: “não vos conformeis com o
mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar” (Rm
12,2). Ou seja, o cristão, inserido em
um ambiente e cultura, pode transformá-los ao agir conforme o Espírito, renunciando
à sua honra e sacrificando-se pelos irmãos.
Não
raramente presenciamos em nossas comunidades eclesiais o afastamento de algum
de seus membros, desistindo dos trabalhos comunitários ou mesmo se esquivando
deles por causa das dificuldades que comportame talvez para não perderem sua honra
oucomodidade própria ao assumirem os desafios impostos por determinado serviço.
Diante disso, a Palavra do Senhor neste
domingo nos convoca a uma resposta de fé e compromisso com ele, abraçando o
sofrimento pelo bem dos irmãos.
Realmente
não é fácil! Temos, como primeira leitura, as contundentes palavras do profeta
Jeremias, na última seção de suas ‘confissões’, afirmando que a palavra do
Senhor tornou-se, para si, “fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro” (cf.
Jr 20,8). Pensava em desistir da missão, porém mais forte que as forças contrárias
se fazia para ele a ‘sedução’ do Senhor. É o preço que pagamos por sermos
cristãos autênticos: zombaria, perseguição e até morte, ao lutarmos contra a
maldade presente no mundo. Todavia, muito mais forte deve arder em nós a alegria
em pertencermos a Cristo, o que deve nos encher de coragem.
Lembremos
do que disse o Papa Francisco ano passado: “prefiro uma igreja acidentada que
doente por fechar-se em si mesma”, vislumbrando os desafios tão perigosos mas
tão necessários do anúncio do Evangelho a partir do que ele chamou “cultura do
encontro”. Arrisquemo-nos! Sofrer por causa de Cristo e da sua Boa Nova e pelo
bem dos irmãos é ressurreição, vida nova encontrada nobremente por quem é capaz
de perder a sua.
Weverson Almeida
4º Ano de Teologia