A ética ocidental, até meados do século XX, influenciada pela
racionalização totalitária do pensamento sobre o ser, comportou a “ontologia do
poder” na qual se basearam os sistemas totalitários e todas as outras formas de
dominação contemporâneas pela redução racionalista em classes para um “eu”
autônomo, determinado.
Lévinas, filósofo judeu e de nacionalidade lituana, protesta
contra a síntese do universal com o apelo imperativo da descoberta do “outro”
sem os enquadres do “sujeito” ou do “ser”, mas sim e antes de tudo, com a
necessidade de resposta ao rosto que se apresenta e não pode ser definido, pois
se encontra no mistério da transcendência e da alteridade.
Ao abordar o pensamento levinasiano, pretendo deter-me nos
seus desdobramentos do problema ético como primado não só da ontologia, mas de
toda filosofia. A transcendência da face ou do rosto sobre qualquer interação
provoca o reconhecimento do outro, ao qual não se aplicam conceitos ou estudos
prestados pela ontologia, pois objeta ao máximo o “ser” em “sujeito”, mas
simplesmente relações dos “eus”, que ultrapassam infinitamente a si mesmos em
direção ao limite do “estar diante”.
Diante do outro deparamo-nos com a angústia, sendo não apenas
um sentimento, mas a desestabilização do eu autônomo, que nos provoca a reação
no confronto, exigindo, assim, uma resposta. Tal relação não pressupõe
interesse, antes, sim, responsabilidade deposta de qualquer posse, pois o outro
elimina qualquer limitação de classe e apesar de semelhante em nada é igual ao
“eu”.
Essa proposta agita a estrutura e o lugar da ética, exigindo
sua revisão radical, e da própria filosofia, para antecipar responsabilidade à
liberdade, bondade à verdade, transcendência à imanência, fundamentando, assim,
as razões do relacionamento humano.
Para aprofundar: EMMANUEL, Lévinas. Ética e Infinito. Lisboa:
Edições 70, 2007.
Adriano Bonfim
Pereira
1º ano de Teologia