Ao longo do
desenvolvimento do pensamento antropológico segundo a reflexão cristã,
observamos os esforços para se constituir uma ideia sobre o ser humano capaz de
situá-lo no mundo sem afastá-lo da sua relação com Deus. Nesse sentido,
torna-se interessante conhecer algumas apreciações desenvolvidas pelo jesuíta
francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955). A sua proposta se identifica
como uma atitude destinada à atualização do humanismo cristão meditando
aspectos que, evidenciando a destinação divina do homem, salientam sua
existência no Universo. Trata-se de uma busca de entendimento acerca do
processo de Hominização, isto é, da passagem da vida animal não-reflexiva à
vida humana reflexiva. Por meio desse processo, Teilhard de Chardin realça que
acontece uma das fases da evolução na qual a matéria se ‘hominiza’. Podemos
entender isso como o aparecimento do Fenômeno Humano. Dessa maneira,
constatamos que o humanismo desse pensador é uma proposta cristã com
perspectivas inovadoras que assinalam a socialização da vida e do saber como
uma nova maneira de compreender as leis que regem a evolução desde o começo do
Universo. Por esse motivo, a teoria desenvolvida pelo jesuíta designa o homem como
eixo e flecha do processo evolutivo, definindo-o como um fenômeno por
‘excelência’ para demonstrar que o seu processo existencial desde a sua
concepção até a sobre-vida se diferencia do processo evolutivo dos outros
animais. A principal diferença refere-se à sua capacidade reflexiva. Todavia, é
importante ressaltar que a evolução da qual Teilhard de Chardin aborda não se
reduz à teoria de Darwin, mas aponta para a ideia de um processo de
conhecimento de todas as coisas que utiliza da lei de transformação dos
fenômenos no tempo (Transformismo). Com base nesse pensamento, a visão obtida
reconhece a caminhada evolutiva como um marco que provoca a socialização do
homem num percurso que culmina no ponto ômega onde ele se divinizará no Cristo
Cósmico. Por isso, fala-se da relação do homem moderno com a divindade a partir
de reflexões científicas que distinguem “a evolução como uma ascensão da
consciência” na qual se concretiza a sua humanidade. Com isso, supera-se a
afirmação aristotélica de que o homem é um animal racional, entendendo-o então
como um animal reflexivo, ou seja, “um ser que sabe que sabe”. Além disso, como
podemos observar na obra “O Fenômeno Humano” (1955), há um esforço notável para
se colocar o homem como caminho até a experiência com o Cristo-Ômega. Destarte,
concluímos que as ponderações do pensador francês pretendem nos inserir na
reflexão antropológico-cristã a partir da ideia de que vivenciamos um constante
processo evolutivo, que se realiza desde a pré-vida à sobre-vida, reconhecendo
que na existência humana cada acontecimento não nasce pronto, mas se desenvolve
e fortalece a partir das nossas reflexões que os modificam. Eis, portanto, a
importância de, assim como Teilhard de Chardin, esforçarmo-nos para pensar além
do nosso tempo, a fim de que nossas ideias possibilitem novas perspectivas de
aquisição do conhecimento e de enriquecimento da nossa relação com o mundo e
com Deus.
CHARDIN, Pierre Teilhard. O Fenômeno Humano. SP:
Cultrix, 1986.
Marcos
Bento
3º
Filosofia