Salmo 79 (80);
Filipenses 4,6-9;
Mateus 21,33-43
A parábola que hoje escutamos, talvez
seja a mais dura do Evangelho. Jesus a conta aos dirigentes religiosos
do seu povo, sacerdotes e anciãos. Qual a razão de tanta dureza? Será que tem
algo a ver conosco?
Protagonistas da parábola são lavradores
que arrendaram uma vinha. Sua atuação é muito violenta, eles, não só não aceitam
os empregados e enviados do dono, mas chegam ao ponto de matá-los. Enfim, o dono
manda o filho, esperando que o aceitem e respeitem. Pior! Eles “agarraram o
filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram”. Sua única obsessão é ‘ficar
com a herança’! O que pode fazer o dono? Na resposta dos sumos sacerdotes e
anciãos eis a sentença: “Com certeza mandará matar de modo violento esses
perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os
frutos no tempo certo”. A conclusão de Jesus é trágica: “Eu vos digo: o Reino
de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”.
A quem, então, o dono entrega o Reino? A
um povo “que produz seus frutos”, isto é, frutos de justiça, de paz, bondade,
fidelidade, compaixão para com os excluídos e humilhados. Ninguém, portanto,
deve se sentir fora da ameaça. Nem quem escuta essa palavra, nem quem participa
de alguma igreja, nem a nossa Igreja mesma.
Logo, surgem perguntas muito sérias
para nós: somos um povo que produz os frutos do Reino ou vivemos de maneira
parecida com a dos dirigentes do povo de Deus contra os quais Jesus conta a
parábola? Procuramos com nossas obras a construção de uma sociedade mais justa
e humana ou defendemos privilégios e julgamos os mais pobres e explorados como
causa de todos os males da sociedade? A religiosidade que manifestamos na
Igreja gera em nós atitudes e comportamentos coerentes com a fé que
professamos, isto é, torna-nos lúcidos em avaliar os males da sociedade, a atuação
da política, as escolhas educativas, a organização social e as propostas da
Igreja? Enfim como acolhemos os profetas que, ainda hoje e de diferentes
maneiras, apontam caminhos de renovação, de defesa dos mais fracos e de
verdadeira justiça?
“Vinha do Senhor” (cf. I leitura)
somos todos nós que n’Ele acreditamos. O Senhor espera de cada um(a) “frutos de
justiça” e “obras de bondade”. A nossa fé que, de maneira especial, alimentamos
com a escuta da Palavra e na celebração eucarística, deve fecundar e
transformar todo o nosso viver no dia a dia, então, sim, estaremos ‘louvando o
Seu Nome’ (cf. Salmo).
Escreve o papa Francisco: “Cada
cristão e cada comunidade são chamados a serem instrumentos de Deus ao serviço
da libertação e da promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente
na sociedade; isto supõe estar docilmente atentos, para ouvir o clamor do pobre
e socorrê-lo”... “Ficar surdo a este clamor, quando somos os instrumentos de
Deus para ouvir o pobre, coloca-nos fora da vontade do Pai e do seu projeto...
e a falta de solidariedade, nas suas necessidades, influi diretamente sobre a
nossa relação com Deus” (A Alegria do
Evangelho, 187).
Na II leitura o apóstolo Paulo
escreve aos Filipenses palavras que devem amolecer o coração, convertê-lo,
sobretudo nas relações conosco mesmos e com os demais: “Irmãos, ocupai-vos com
tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é
virtude ou de qualquer modo merece louvor”. A conversão de nossa vida consiste
em imitar o Senhor Jesus, em nossos pensamentos e comportamentos.
Olhando a nossa vida e da sociedade em
que vivemos, com certeza teremos motivos para rezar com as palavras da Oração
do dia: “Senhor, derramai sobre nós vossa misericórdia, perdoando-nos o que
nos pesa na consciência e dando-nos mais do que ousamos pedir”.
Dom Armando